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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Traço punk

Por Rafael Abreu

Se engana quem acha que história em quadrinhos se resume ao bom-mocismo de um Capitão América. Se decepciona quem vai procurar esse tipo de história na Revista Prego. Seu primeiro número, de cor amarela e jeito de fotocópia, leva na capa a colagem de um homem com um machado enterrado na testa, tomando um tapa certeiro na parte de trás da cabeça por uma mão sem dono.
Além das informações básicas (nome, número e data), só uma frase: “Quadrinhos, arte punk & psicodelia!”. Dificilmente uma publicação “comportada”, portanto. Mas independente do sucesso que possa fazer com as mães dos leitores, já tem seu quinhão de credibilidade em Vitória.
A revista, mais afeita à irreverência de um Robert Crumb que ao heroísmo americano de um Steve Ditko, artista da Marvel, surgiu em 2007. Foram Alex Vieira (encarregado da “edição, arte final e trabalho escravo” da Prego #1), aluno do curso de Artes Visuais da Ufes e Guido Imbroisi, do curso de Arquitetura, na Univix, que tiveram a idéia de criar um veículo para quadrinhos autorais, mais artísticos.
“Prego é um objeto, um macaco, um adjetivo, em italiano significa ‘de nada’ e além disso uma revista. O nome foi escolhido entre outros pescados aleatoriamente no dicionário. Depois disso, fui agregando sentidos à palavra.” diz Alex, sobre o título inusitado de sua cria.
A ideia era mostrar a produção da própria faculdade, mas que “não necessariamente fosse de pessoas que são ligadas às artes”. O estudante, que também é vocalista da banda Morto Pela Escola, via na cena de punk rock local, cujos artistas faziam a arte dos próprios discos, o potencial de mesclar quadrinhos às artes gráficas.
A iniciativa continua pequena na equipe (se resumindo a Alex e Guido), mas grande no conteúdo. A partir do terceiro número - ganhador do terceiro lugar da Feira HQ de 2009, no Piauí, na categoria Produção Independente - abriu suas páginas a colaborações de outros estados, tendo incluído um elenco de 30 artistas do Brasil inteiro em seu último número.
Se o parto do projeto, há três anos, foi todo custeado por Alex, hoje a história é outra. Desde 2007, a Prego já tomou a função de uma microeditora, lançando outras pequenas publicações como o Flipbook de Medicina Alternativa (vencedor do Concurso de Flipbook do Vitória Cine Vídeo 2008) e Vulgar Manual, ainda inédito.
Até que, este ano, se tornou um dos Núcleos de Criação do programa Rede Cultura Jovem, que premiou o projeto com R$ 5 mil. É graças a esse dinheiro que foi possível a produção da Prego #4, com festa de lançamento marcada para o próximo domingo (24) em Vila Velha, com shows das bandas Os Estudantes (RJ), Grupo Porco de Grindcore Interpretativo (BH), Morto Pela Escola, Zero Zero e Reabilitados.
Não é a primeira vez que acontece a “estreia”, no entanto, que aconteceu efetivamente em Porto Alegre, na 26ª Feira do Livro de Canoas, em Junho desse ano. “É engraçado e meio triste, porque eu acabo vendendo mais revista para fora do estado do que aqui”. Explica, dizendo que, se o mercado de quadrinhos no Brasil já é pequeno, em Vitória é menor ainda.
“Quadrinho, no Brasil, já teve uma época boa mesmo. Em banca, chegava a vender mais de 30 mil exemplares. Mas isso foi antes do Plano Collor, muito tempo atrás. O que eu vejo é que o quadrinho tá migrando mais pra esse lado de livraria, de ter um material mais bem acabado.” Afirmação que não deixa de fora a Prego, que, agora firmada como uma publicação anual, se propõe a seguir essa tendência, com um melhor acabamento gráfico nos próximos lançamentos.

Serviço

A Prego #4 foi lançada no último domingo (24), às 16h, no Águia Marcante, com shows das bandas Os Estudantes (RJ), Grupo Porco de Grindcore Interpretativo (BH), Morto Pela Escola, Zero Zero e Reabilitados Av. Gil Veloso, 2948, Praia de Itapoã, Vila Velha (ao lado do pastelonça).
Publicado em 28-10-2010

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