Quadrinista italiano é um dos destaques da primeira edição da Rio Comicon.
Autor de 'Clic' e 'Gulliveriana' elogia brasileiras e diz que Itália se vulgarizou.
Diego Assis - G1Conhecido por ilustrar as mais belas mulheres das histórias em quadrinhos, o italiano Milo Manara, 65, desembarcou nesta segunda-feira (8) no Brasil para participar da primeira edição da Rio Comicon, megaevento dedicado à nona arte que acontece desta terça a domingo na cidade, e aproveitar para comprovar, in loco, o que é que a brasileira tem.
“Aquilo que nós italianos fantasiamos sobre as mulheres brasileiras vem, naturalmente, das imagens que se vê muito no Carnaval”, explica o quadrinista, autor de obras primas da HQ erótica como os álbuns “Verão índio”, “Gulliveriana” e a popular série “Clic”, que também ganha reedição de luxo para a Rio Comicon lançada pela editora Conrad.
“As moças em que nós pensamos são como aquelas do Carnaval, com seus corpos realmente atléticos, ligeiramente andróginos, mas de uma beleza absoluta”, completa Manara em entrevista exclusiva ao G1 a que você pode assistir no vídeo acima.
Autor do cartaz oficial do Rio Comicon, que mostra uma garota voluptuosa, vestindo shorts curtíssimo e camisa da seleção canarinho, Manara sabe, no entanto, que o que verá por aqui está bem além dos estereótipos da “brasileira típica que nós europeus sonhamos”.
“Na realidade, a gente sabe que o Brasil é muito diverso”, reconhece. “O fato de terem eleito uma presidente mulher é algo que na Itália nunca aconteceria. E tem acontecido em toda a América Latina, com a [Michele] Bachelet no Chile, a [Christina] Kirchner na Argentina e agora a presidente de vocês, Dilma... como é mesmo o sobrenome dela?”, pergunta, atrapalhando-se com o português.
“São todos sinais de uma grande abertura, do fato de que o futuro é aqui, não é na Europa”, elogia o autor, que já havia visitado o Brasil em 2003 a bordo de um navio cargueiro, bem à maneira de seus amigos e mestres favoritos: o também quadrinista Hugo Pratt e o cineasta Federico Fellini, com quem colaborou em HQs como “El gaucho” e “Viagem a Tulum”, respectivamente.
“Fiz várias escalas. No Brasil, foram quatro: Fortaleza, Vitória, Rio e Santos. E cada vez tinha uma possibilidade de descer na terra. Mas chegando com esse navio, especialmente nos portos fluviais, era possível conhecer um Brasil que poucos conhecem, talvez nem mesmo os brasileiros”, lembra.
Contra a vulgarização
Sempre generosíssimo com as mulheres italianas que desenha, inspiradas em musas do cinema como Sophia Loren e Brigitte Bardot, Manara se mostra, contudo, decepcionado ao falar da geração atual de conterrâneas, especialmente as que têm buscado fama fácil, de biquíni, em programas de auditório dos canais de TV controlados pelo presidente Silvio Berlusconi.
Sempre generosíssimo com as mulheres italianas que desenha, inspiradas em musas do cinema como Sophia Loren e Brigitte Bardot, Manara se mostra, contudo, decepcionado ao falar da geração atual de conterrâneas, especialmente as que têm buscado fama fácil, de biquíni, em programas de auditório dos canais de TV controlados pelo presidente Silvio Berlusconi.
“Muitas garotas, não digo todas, mas a maior parte das garotas bonitas na Itália sonha em se tornar uma estrela televisiva, mas sem recitar uma fala. Só para se mostrar, para ser admirada e ficar famosa”, lamenta. “E o mais grave é que a presença dessas garotas [na TV] tem como objetivo aumentar a audiência e o preço da publicidade. É uma operação comercial, bastante próxima da mentalidade da prostituição. Não que as garotas sejam [prostitutas], mas a mentalidade de usar o corpo de uma bela mulher para se ganhar mais dinheiro, eu acho isso muito vulgar e grave.”
Contra a vulgarização da mulher italiana – e de todo o planeta, já que suas HQs viajam pelos quatro cantos do mundo real ou imaginário -, Manara emprega a sua arte, que prefere chamar de erotismo à pornografia. “Na realidade, não penso que haja muita diferença entre erotismo e pornografia que não a intenção de quem o faz. Há uma demanda evidente nas pessoas por 'eros', por erotismo. E se a sua reposta a ela for somente um monte de páginas estampadas só para fazer um pouco de dinheiro, eu chamo de pornografia. Se, em vez disso, se busca falar verdadeiramente de erotismo, aí eu chamo de erotismo. Resumindo em uma palavra, a diferença é: se é excitante é erotismo, se não é excitante é pornografia.”
Ainda que boa parte de suas HQs seja pouco – ou nada – recomendável para menores de 18 anos, Manara andou flertando recentemente com trabalhos fora do universo exclusivamente adulto. Em 2004, colaborou com Neil Gaiman em uma história curta para a antologia “Sandman: Noites sem fim”e, no ano passado, emprestou seu traço sensual às heroínas da série em quadrinhos “X-Men”, em uma HQ escrita pelo americano Chris Claremont.
“É claro que me agrada muito ler e desenhar [outros tipos de quadrinhos]”, diz o autor, que entre seus trabalhos já quadrinizou até uma versão do livro do sexo “Kamasutra”. “Mas tem só dois problemas. O primeiro é que eu penso que na vida, normalmente, há um percentual de erotismo muito alto. Por isso, sinto necessidade de colocar em quase toda história um percentual de erotismo. Mas o segundo problema é que tenho medo de frustrar meus leitores. Tenho medo de que atirem o livro na minha cabeça! Se abrirem um livro que não tenha nenhuma garota nua, vão dizer 'ah, esse cara virou um mané! Basta!' Tenho medo de desiludi-los”, diverte-se.
Rio Comicon 2010
Quando: 9 a 14 de novembro, das 13h às 22h
Onde: Ponto Cultural Barão de Mauá – Estação Central da Leopoldina, Rio de Janeiro
Quanto: R$ 10 (meia-entrada: R$ 5)
Mais informações: http://www.riocomicon.com.br
Quando: 9 a 14 de novembro, das 13h às 22h
Onde: Ponto Cultural Barão de Mauá – Estação Central da Leopoldina, Rio de Janeiro
Quanto: R$ 10 (meia-entrada: R$ 5)
Mais informações: http://www.riocomicon.com.br
PUBLICADO EM 10-11-10
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