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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Os quadrinhos pedem licença à história

Por Milena Azevedo p/ a Revista Catorze (22.11.2010)
A princípio era apenas um boato que, embora reforçado, ainda gerava dúvidas, pois ninguém sabia ao certo quando, onde e quem seriam os convidados para a primeira “Comic Con” brasileira. A única coisa certa mesmo era que o evento seria organizado por quem tem know how no ramo, a Casa XXI.
No mês de setembro todas as dúvidas deixaram de existir quando foi anunciado o local do evento e dois convidados de peso: Milo Manara e Kevin O´Neill. Só faltava a data, mas, após um certo suspense, eis que ela veio, junto com o anúncio de mais um convidado internacional, a desenhista (e esposa de Alan Moore) Melinda Gebbie.
Os preparativos para a 1ª Rio Comicon foram noticiados tanto no meio virtual quanto na mídia impressa, e a cada nome, fosse conhecido ou não do público brasileiro, mais aumentava a expectativa dos nerds e fãs de quadrinhos de plantão.
A cereja do bolo foi o poster feito pelo Manara, que vestia minimamente uma esbelta morena, cujos braços se abriam para acolher o Rio de Janeiro.
E o Rio acolheu muito bem quem esteve por lá entre 9 e 14 de novembro, reunindo-se na bela e histórica Estação Leopoldina, para respirar arte sequencial.
Quem teve o prazer de conferir a 1ª Rio Comicon, como eu, sabe que a mesma foi um sucesso, principalmente nos dois dias finais, quando circular com liberdade e conforto nas dependências da antiga estação de trens foi bastante complicado.
O ponto forte do evento, assim como acontece no FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos), em Belo Horizonte, foram as palestras, os debates e a interação dos artistas com o público, que circulavam normalmente e estavam sempre dispostos a dar autógrafos, posar para fotos e conversar, em sua maioria, mesmo fora do horário e local destinado a essas atividades.
No entanto, esse mesmo ponto forte demonstrou ser um ponto fraco, pois terminaram ocorrendo atividades paralelas, como a distribuição de senhas para as filas de autógrafos de Manara e Mauricio de Sousa, o que gerou um certo mal estar entre o público (eu só consegui a disputada senha para o Manara porque a Ana Recalde, roteirista do mangá Pater Primordium, que nem me conhecia, me cedeu a dela); e mesmo quem conseguia a ficha ainda não tinha certeza de que sairia dali com um autógrafo, um sketch e uma foto do seu ídolo. Fica a dica para os organizadores repensarem essas atividades para o próximo ano, bem como um treinamento mais eficaz para o pessoal que estava no apoio (foi bastante desagradável a forma como o pessoal do apoio abordou quem estava quase ao final da fila para o autógrafo do Manara, chegando mesmo a agarrar nossas sacolas e bolsas de mão, só deixando cada um passar com apenas um álbum).
Outro problema foram as imensas filas antes de cada atividade no auditório (havia uma fila para quem se cadastrou antecipadamente pela internet e outra fila para quem tinha se cadastrado no local) e um certo desrespeito com algumas pessoas que estavam cobrindo o evento, como eu. Eu me cadastrei pela internet e recebi um e-mail com a aprovação para todas as atividades. Depois me cadastrei como imprensa, uma vez que iria registrar o evento para o PortalGHQ e fazer uma matéria para a revista Salto Agulha, daqui de Natal. Recebi a confirmação e o endereço para a retirada da credencial. Tudo certo. Porém, embora portando minha credencial, fui “barrada” duas vezes porque eles queriam saber se eu havia mesmo me inscrito na atividade para a qual estava à espera na fila. Provei que estava inscrita e entrei, mas foi chata a situação.
E quem esteve em boa parte das palestras sabe que a tradução e a equipe de técnicos em informática deixaram muito a desejar. Fiquei com pena do Patati, que atuou como intérprete tanto para o inglês quanto para o francês, pois chegou um momento em que ele realmente teve que parar e recuperar o fôlego. Patati foi um dos poucos tradutores que, ao traduzir, complementava a fala do convidado, enriquecendo o debate. Tradução simultânea é difícil, então só pode fazer o trabalho quem realmente tem fluência na língua exigida (e não custa nada dar uma pesquisada, meio que de leve, na vida e na obra de quem se vai traduzir). E sobre a lambança na exibição das imagens trazidas pelos convidados, a frase do Chico Caruso resume tudo: “antes a gente tinha problema com o projetor de slides…”.
A questão da falta de banheiro para atender ao público foi um problema notório e o “monopólio” da Livraria Travessa em vender as obras dos artistas presentes (bem como álbuns que estavam apenas expostos em alguns estandes) me fez perder de comprar três álbuns da Casa XXI. Nesses momentos a gente sente na pele como fazem falta os estandes das próprias editoras (a única presente foi a Barba Negra, com lançamentos bacanas e exclusivos, como o Drink, do Rafael Coutinho, e o Candyland, do Olavo Rocha e do Guilherme Caldas). No entanto, a Travessa merece aplausos pela variedade de álbuns europeus que disponibilizou (alguns com preços convidativos, outros deveras salgados), entre eles Enki Bilal, Druillet, Miguelanxo Prado, Crumb, Manara, Gilbert Shelton; tinha também Asterix e Tintin em francês, quadrinhos indianos, mangás originais. Confesso que me apaixonei por um álbum de sketches do Enki Bilal, lindo, muito lindo, mas que custava R$ 150,00. Com o peso no bolso e na bolsa, resolvi me contentar apenas em poder folheá-lo.
Já a exposição dos originais do Milo Manara deixou muitos visitantes de queixo caído. Fomos convidados a não só olhar pelo buraco da fechadura, mas adentrar no espaço mágico da mente do mestre italiano, especialista em desenhar a anatomia feminina (numa brincadeira que Paulo Caruso fez a Manara, fazendo uma analogia entre ele e Berlusconi, Manara respondeu que as mulheres que ele desenha estão apenas em sua imaginação). Entre as artes expostas, havia esboços a lápis, belíssimos quadros pintados da série Bórgia (com os espaços dos balões, inclusive), ampliações de histórias em que Fellini era personagem, homenagens a Marcello Mastroianni e a Roberto Benigni, trabalhos feitos para publicidade, entre outros. Porém, o vidro espelhado atrapalhou a apreciação de alguns desses trabalhos, em especial dos que estavam no espaço central, onde havia um grande puff cor de laranja, que acabou sendo refletido nos vidros.
Como todo evento de grande porte, em sua primeira edição a Rio Comicon teve acertos e erros, mas a iniciativa foi aprovada e em 2011 teremos bis.
Obs: se você quer saber mais sobre a RIO COMICON sobre a óptica de quem esteve lá (Milena, no caso), acesse o Portal GHQ nos seguintes links:
PUBLICADO EM  22.11.10

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