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domingo, 19 de fevereiro de 2012

O Super-Herói em 24 quadros por segundo – Parte 2 de 4


Por Édnei Pedroso - O Café
O UNIFORME

Como vimos na semana passada, a máscara – e a identidade secreta que se esconde sob ela – pode ser o fardo mais pesado de um super-herói. Mas as vezes, dependendo da inspiração do criador do personagem ou, mais precisamente e de acordo com a temática desta coluna, dos devaneios do diretor de uma adaptação, o uniforme pode ser um grande aliado…ou o pior dos castigos.

Os Bat-Mamilos do Homem-Morcego: onde está o seu Deus agora?

Existem inúmeros estudos (inclusive na área da psicologia) a respeito do tema. O uniforme para o herói é muito mais do que uma vestimenta ou a oportunidade de usar cuecas por cima das calças: é um ícone, uma arma na luta contra o crime, um fator de identificação dos fãs e de reconhecimento imediato de qualquer um que o avistar nos céus, no noticiário ou no pôster do filme em cartaz. Personagens como o Batman ou o Demolidor, por exemplo, escolheram se vestir de morcego e demônio – respectivamente – para aterrorizar os criminosos. O Super-Homem e o Capitão América optaram por vestir um símbolo do modo de vida que defendem (ambos com a predominância do azul e vermelho no uniforme, aliás, o Capitão praticamente se veste com a bandeira americana), da mesma forma que a Mulher-Maravilha e sua calcinha estrelada. Mas será que é assim no cinema também?

O American Way no uniforme de Superman (Christopher Reeve).
Se há uma coisa líquida e certa é que, em se tratando de uniformes de super-heróis, quase nada do que funciona nos desenhos ou nas histórias em quadrinhos, funciona na tela grande. Os diretores de arte e figurinistas dos filmes perceberam muito cedo a necessidade de adequar esses ícones a uma realidade visual desejável (músculos simulados e uso de cores mais sombrias), bem como às próprias leis da física. Em Batman, do diretor Tim Burton, tivemos um dos primeiros espelhos desta tendência ao encontrarmos um herói supostamente musculoso sendo interpretado pelo pouco atlético Michael Keaton. A saída para esta situação veio na forma de uma armadura com músculos de borracha e dosbat-utensílios (que, nas HQs, eram confinados ao cinto de utilidades), que ganharam espaço até na capa usada pelo personagem.

Batman, de Tim Burton: capa era usada como planador.
A estratégia dos músculos fake deu certo para o Homem-Morcego até que Joel Schumacher resolveu filmar a sua versão do Batman e acoplou os famigerados bat-mamilos no infeliz herói, associando seu nome aos dois piores filmes de super-heróis já feitos. Graças a Schumacher, Batman só retornou ao cinema 8 anos depois, pelas mãos do diretor Christopher Nolan, que reformulou praticamente tudo no herói, inclusive as utilidades do uniforme, que ficou mais crível (quem quiser saber mais sobre os utensílios na roupa do último Batman dos cinemas, basta clicar aqui). Os produtores do seriado The Flash (1990) também tentaram utilizar-se do uniforme musculoso e o resultado foi um fiasco: tínhamos o super-herói velocista da DC Comics com uma roupa extremamente fiel a dos quadrinhos, mas com músculos tão inflados que parecia que iam estourar a qualquer momento. Uma lástima.

The Flash: meio fortinho para um cientista, não?
A capa pode até fazer o Homem-Morcego planar e dar um aspecto de superioridade ao super-herói , mas no cinema há quem abomine o clássico acessório esvoaçante. Na animação Os Incríveis (daPixar), há uma seqüência hilária onde a estilista Edna Moda explica os motivos pelos quais Beto Pêra, oSr. Incrível, NÃO DEVE usar capa (quer saber quais? Veja o filme, oras?). Dollar Bill, nos créditos iniciais de Watchmen (que mereceria um texto a parte só por esses créditos), também descobre a infelicidade de se usar uma capa ao prendê-la na porta giratória de um banco, durante um assalto. No seriadoSmallville, o próprio Clark Kent (futuro Super-Homem) faz chacota do uso da capa praticamente o tempo todo. Enfim, a capa pode até fazer o super-herói parecer imponente, mas cada vez menos a vemos tremular nas páginas dos quadrinhos, ou nas telas.

Edna Moda diz: NADA DE CAPA!
Seguindo a tendência das cores sombrias e do afastamento das HQs, podemos citar os uniformes na trilogia X-men, claramente estilizados para os padrões mais atuais, fazendo o mínimo possível de referência visual às roupas clássicas usadas pelos personagens em outras mídias. Em determinada cena de X-men – O Filme, por exemplo, Wolverine reclama de sua roupa e Cyclops cita que poderia ser pior: poderia ser um colant amarelo. O diálogo, além de um easter egg para leitores dos quadrinhos dos mutantes, transmite aquela máxima do quão ridículos certos uniformes, outrora parte do cânone destes personagens, ficariam no live action.

O famigerado colant amarelo de Wolverine.
Ultrapassando este simbolismo todo, o processo de escolha do uniforme do super-herói no cinema também pode render boas situações. Em Homem-Aranha, quando Peter está bolando seu uniforme naquele caderninho, jamais pensaríamos que o resultado seria…este aí:

Com vocês, a Aranha Humana.
…mas foi, e foi genial. É claro que logo depois chegou o segundo e derradeiro uniforme do aracnídeo onde, na minha opinião, a equipe do diretor Sam Raimi fez chover ao não abrir mão da vestimenta clássica (criada pelo desenhista Steve Ditko em 1962) e conseguir aliá-la de forma tão eficaz à tecnologia do tecido sintético. O uniforme do Homem-Aranha dos cinemas, para mim, é o mais próximo da perfeição de uma adaptação de uniforme de um super-herói.

O Homem-Aranha no Konrad Fiedler - The Metropolitan Museum's Costume Institute's Superheroes: Fashion and Fantasy, de 2008.
Nos quadrinhos, o uniforme de um super-herói faz parte de sua identidade e, por isso, poucas vezes os personagens passam por reformulações muito drásticas no visual. Quando isso acontece (tipo nos Anos 90, onde tivemos até um Super-Homem elétrico), retornam logo ao uniforme clássico, pois as cores e o símbolo no peito tão conhecidos preenchem muito bem as páginas, e passam confiança ao leitor: aquele sim é o personagem que aprendemos a amar. Já no cinema, esta fidelidade muitas vezes é adulterada em prol da credibilidade da história de carne e osso, e o problema surge quando a descaracterização é tão grande que pouca coisa se salva do personagem original.
Alguém aí gritou Aço, com Shaq O’Neill?

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