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sábado, 28 de maio de 2011

Comics brazuca

Por Diário do Nordeste - 28 de maio de 2011

Dono de uma das maiores agências brasileiras de quadrinistas para o mercado dos EUA, o artista Klebs Júnior ministra workshop para jovens profissionais na Gibiteca de Fortaleza

Aqueles que leem as fantásticas histórias em quadrinhos de heróis com superpoderes - sentido aranha, olhos de raio-X e cinto de utilidades - talvez não saiba, mas parte dessa pala sobre-humana nasce das mãos de desenhistas brasileiros. A grande demanda das gigantes Marvel e DC Comics - as duas maiores editoras de HQs dos Estados Unidos - fazem com que busquem talentos no mundo inteiro e, no Brasil, encontraram um celeiro desses artistas.


Pertencente a primeira leva de brasileiros a trabalhar para a Marvel e a DC, o diretor da agência Impacto Quadrinhos (que hoje funciona como escola, estúdio e agência de profissionais para o mercado estadunidense) Klebs Junior está em Fortaleza para a inauguração do Quadrinhos Estúdio de Desenho - escola e estúdio do cearense Geraldo Borges, um de seus pupilos.


Ontem, ele ministrou palestra aberta ao público na Gibiteca de Fortaleza, que funciona na Biblioteca Municipal Dolor Barreira, onde contou sobre sua experiência com o mercado norte-americano e deu dicas de como seguir na profissão. Hoje, Klebs realiza workshop no Quadrinhos Estúdio de Desenho sobre técnicas para produção de HQs, portfólios e outras dicas profissionais.

"O workshop é focado em quem quer trabalhar com isso. Como entrar e, principalmente, permanecer no mercado americano, já que ele é tão concorrido", explica Klebs, que trabalha na área há 17 anos. Formado em Comunicação Visual pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, ele conta que quando chegou à capital paulista, em 1984, o mercado dos quadrinhos era praticamente inexistente. "Não existia indústria de HQs (no Brasil). Tinha umas editoras que estava começando e você não recebia nada pelo trabalho", lembra.

Em 1994, através do trabalho como ilustrador que desenvolvia para jornais, revistas e agências de publicidade, teve contato com editoras dos Estados Unidos e ao lado de outros desenhistas como Luc Roff, Roger Cruz e Marcelo Campos, entrou no mercado. "Tinha um monte de artistas, passando fome e desenhando para caramba", lembra. Eles passaram a desenhar histórias de personagens como os X-Men e Homem-Aranha.
Em 1999, um grupo desses artistas montou a Impacto Quadrinhos, que passou a funcionar como escola e estúdio. "Como começamos a preparar mão de obra qualificada, começou a crescer a procura. As editoras entraram em contato precisando de gente" diz Klebs. A empresa passou então a agenciar quadrinistas e hoje trabalha com pelo menos 40 profissionais no mercadonorte-americano em três unidades da empresa - São Paulo, Rio de Janeiro e Londrina.

Mercado
"A realidade é que até hoje existe mais oferta de trabalho do que gente boa. Isso em todas as áreas, desenho, colorização, etc. Por isso, a gente não quer aluno, quer profissionais", fala. Ele contabiliza, pelo menos, 200 revistas lançadas somente pela Marvel e DC.
Já no mercado nacional, explica Klebs, a coisa muda de figura. "Para ele, no Brasil não existe indústria de quadrinhos, ao comparar o volume de produção nacional ao de outros países. "Você tem o mercado norte-americano, o japonês, o europeu e Maurício de Souza", explica, lembrando a Turma da Mônica como o único caso brasileiro de produção em grande escala de HQs.
Mudar essa realidade, para Klebs, é uma questão que passa pela postura dos desenhistas brasileiros de investir na qualidade do trabalho e apostar da identificação com o leitor. "Você compra gibi americano porque é bom. Quer que as pessoas comprem? Sendo bom, vão comprar todos, americano, europeu" diz, defendendo o propósito da escola de usar o mercado norte-americano para qualifica a mão de obra e tentar direcionar para o brasileiro.
O estreitamento de laços entre a Impacto Quadrinhos e a recém inaugurada Quadrinhos Estúdio de Desenho, para Klebs é mais um passo em prol desse florescimento do mercado. Do lado cearense, Geraldo reforça que a ideia é, em um futuro próximo, funcionar como uma filial da Impacto. "É um projeto antigo que agora consegui por em prática. A ideia é trazer profissionais de outros estados, outros países, que ajudem na formação de nossos quadrinistas", diz. A escola inicialmente ofertará cursos e duas oficinas: curso de quadrinhos avançados, para quem quer se profissionalizar (com aulas previstas para começar em junho, inscrições no site www.estudioquadrinhos.com.br), e as oficinas de desenho básico e oficina de Mangá Power, ambas com dois meses de duração.

EUA x Ceará
Apesar de ser um dos articuladores da palestra e workshop de Klebs, JJ Marreiro, ativistas pelo ofício no Estado e, atualmente, um dos coordenadores do Fórum de Quadrinhos do Ceará, minimiza a necessidade de recorrer às editoras dos EUA. Ele defende o mercado nacional já como uma alternativa viável e tem no esforço de organização dos profissionais um passo para potencializá-la.
"É assustador o quanto a gente descobre que ao invés de olhar para o horizonte distante, olhar para o próximo", diz. No Fórum de Quadrinistas, eles buscam soluções para problemas como o financiamento de trabalhos e a conquista de espaços para a formação de leitores.
A Gibiteca de Fortaleza é tida como uma das importantes conquistas da categoria. Além de sediar as reuniões do Fórum e receber eventos ligados aos quadrinhos, conta com um acervo de aproximadamente 3 mil revistas e livros de quadrinhos, incluindo títulos cearenses. "Os artistas pararam de esperar as coisas acontecer e as soluções vindo de cima para baixo. Temos nos articulado, partindo para a visão de quadrinho, arte sequencial como empreendimento", defende.
Entre as pelejas da categoria, está o próprio reconhecimento enquanto linguagem artística. A discussão já não é nova, mas continua acirrada entre os que defendem o ser reconhecimento como a nona arte e a visão menos gloriosa que a relega ao mero entretenimento infanto-juvenil ou, quando muito, a um subproduto da literatura ou das artes plásticas.
FÁBIO MARQUES
ESPECIAL PARA O CADERNO 3

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