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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Conversando com a plateia

Por Milena - GHQ

A sétima edição do FIQ montou paineis e entrevistas bacanas com os artistas convidados. Foram dezenove ao todo. Impossível dar conta. O jeito foi selecionar (e ver se alguma não chocava com as extensas filas das sessões de autógrafo). Destaco aqui os principais pontos do que consegui conferir.
Na quinta-feira, dia 10, quem abriu as atividades na Arena Carlos Trillo foram Cyril Pedrosa e Olivier Martin, num bate-papo espirituoso com um dos organizadores do FIQ, o Prof. Daniel Werneck. Olivier disse estar encantado com o evento porque, diferente dos festivais franceses, havia uma rica programação paralela, com oficinas, produção de fanzine, visita das escolas, e além do festival em si, havia a oportunidade de conhecer o país, a cidade e as pessoas. Cyril completou a fala de Olivier, afirmando que, na França, os festivais acontecem em torno das sessões de autógrafos, e são muitos deles (2 por semana), deixando a entender que a quantidade meio que banaliza a essência desses eventos franceses. Outro ponto discutido foi a utilização da internet na divulgação dos projetos dos artistas. Cyril é totalmente a favor, tem em seu blog um forte aliado, e também faz parte de um coletivo chamado Wit Comics, que produz uma revista virtual, com os autores publicando uma página semanal ou mensal. Sobre as primeiras BDs que eles leram, as quais influenciaram suas carreiras, Olivier citou Asterix, Tintim, Spirou e Fantásio, Gaston Lagaffe e Tarzan; já Cyril disse que em sua casa havia somente Asterix à disposição e que ele lia várias vezes as mesmas histórias. Para Cyril, ele e Olivier são de uma geração “dos quadrinhos populares”, caracterizada por histórias cômicas e de aventuras com uma certa ingenuidade, totalmente diferente do que é produzido hoje.
O painel seguinte foi sobre Editores de Quadrinhos, contando com a presença de Fabrício Waltrick (Ática), Wellington Srbek (Nemo), André Conti (Cia. das Letras) e Cláudio Martini (Zarabatana Books). Um dos temas que centralizou a discussão foi a questão da distribuição (ver vídeo).
Encerrando a quinta, o painel Mercado Europeu de Quadrinhos trouxe o mestre Horácio Altuna, e os brasileiros Ana Luiza Koehler (desenhista e colorista) e Wander Antunes (o roteirista), que publicam na Europa. Altuna começou comentando que o mercado de quadrinhos espanhol vivenciou um período de euforia, com os leitores tendo a sua escolha diversos álbuns (com temáticas sortidas) e artistas, e as editoras rindo à toa, pois vendiam quadrinhos que nem água. O problema é que os artistas locais (roteiristas e desenhistas) não desfrutavam dessa fartura, uma vez que boa parte dos álbuns era importada. A Ana contou sua trajetória, que teve início com ilustrações via internet e depois trabalhando com as editoras franco-belgas, que dão liberdade para os artistas desenvolverem trabalhos mais autorais.
Já o Wander vislumbrou a possibilidade de enviar algumas histórias curtas para editoras europeias e asiáticas (ele confessa que se descobrisse o e-mail de qualquer editora, enviava na hora seus textos traduzidos). A experiência fez com que ele percebesse que os editores franceses são bastante abertos para ouvir a proposta dos artistas e dão liberdade criativa quase que total. Com isso, ele já fez oito álbuns para o mercado europeu, e apenas um deles foi encomendado. Uma verdadeira lua de mel.
Altuna reforçou a importância do mercado francês, mas informou que até eles podem ser pilantras, e das três editoras francesas com as quais trabalhou (Glenàt, Dargaud e Humanóides Associados), uma delas deu-lhe calote e outra pediu para que ele alterasse (amenizasse) os temas de suas histórias. Então, perguntou a Ana e a Wander como foram feitos os contratos de ambos. Wander e Ana responderam que há realmente umas cláusulas nas quais a editora fica com todos os direitos de exploração da obra e dos personagens (em todas as mídias) por um número x de anos. O bom é que o Sindicato de Autores Franceses está se fortalecendo e já criou um livro gratuito, chamado O Contrato Comentado, para que os artistas possam entender todo o linguajar jurídico. Eles também fizeram uma comparação entre os contratos franceses e os brasileiros. Ambos comentaram ser os franceses bem melhores. O Wander, inclusive, desabafou que a Ediouro foi a pior editora com a qual trabalhou, em compensação, a Cia. das Letras (com a qual ele assinou contrato para adaptar Clara dos Anjos) tem um contrato decente para os artistas. E descobrimos, abismados, que a famosa editora portuguesa Meribérica (hoje extinta) também deu calote no Altuna, e do pouco dos trabalhos dele publicados no Brasil, que praticamente tudo é “pirata”.  Que vergonha!
Na sexta-feira, acompanhei discretamente as conversas entre o João Marcos e o Jean Galvão, e o painel Lady´s Comics. Então, podemos pular para o primeiro painel do sábado, sobre a produção das tiras, com Kioskerman, Alves, Ryot e Fernando Gonsales. Os artistas falaram sobre como lidam com a pressão x inspiração de ter que criar uma tira diária, bem como a força das tiras na Argentina, com a última página do jornal El Clarín, repleta delas, que eram devoradas pelos leitores (há um ditado popular que diz que os argentinos começam a ler o jornal pela última página).
Kioeskerman comentou que quando foi se interessar por política, tinha de 15 para 16 anos e os jornais já estavam na internet, por isso ele não acompanhou essa clássica forma portenha de leitura dos periódicos; embora tenha visto nas tiras on-line de Liniers uma inspiração para o seu trabalho.
Ainda na sexta houve uma das melhores entrevistas que presenciei na vida, com o Sidney Gusman escolhendo a dedo as perguntas ao Bill Sienkiewicz, e o Érico Assis completando a mesa como tradutor (a Arena Carlos Trillo ficou lotada). Ficamos sabendo de todos os infortúnios que aconteceram para que Big Numbers não tivesse continuidade (série de 12 HQs escritas pelo Alan Moore e desenhadas pelo Bill, mas que só foram feitas 02) – Bill terminou um relacionamento de cinco anos com sua namorada, as modelos das personagens principais morreram de forma trágica (uma afogada, outra de câncer), as crianças, que também foram tomadas como modelo, cresceram muito e as referências se perderam… ou seja, foi a própria teoria do caos se manifestando. Bill falou sobre seus novos trabalhos, entre eles HQs do Demolidor, escritas pelo Brian Michael Bendis, e as capas das adaptações dos contos de Philip K. Dick. Como foi uma entrevista legal demais da conta, vocês verão todos os detalhes nos vídeos que postarei.
No último dia, um domingo ensolarado em BH, só consegui presenciar a primeira entrevista do dia, com a simpática Jill Thompson(e sua água de côco). Entre outras coisas, Jill contou que está envolvida com um app bacana, que provavelmente se chamará Jilly Jill, e que pretende deixar o preconceito de lado e começar a fazer HQs com seu marido, Brian Azzarello. Como também foi uma entrevista bastante informativa, deixo vocês com os vídeos. E a boa notícia dada pela Jill via twitter é que parece que a NewPop vai publicar no Brasil, em 2012, Scary Godmother volume 1.
O próximo texto será sobre a bela exposição organizada pelo Ivan Costa e as sessões de autógrafo.

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