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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O tempo que (não) nos resta

Por Diário do Nordeste
Clique para AmpliarUm dos melhores quadrinhos do ano, "Castelo de Areia", de Frederik Peeters e Pierre-Oscar Lévy, é um ensaio sobre o tempo, com toques de surrealismo e existencialismo
Surpreendente. É a primeira palavra que a graphic novel "Castelo de Areia" arranca de seu leitor. O assombro que o assalta, contudo, é plural. Os motivos terminam por amplificar a surpresa e alimentar a expectativa.
Primeiro, porque a editora (ainda) não é conhecida por publicar material na área das histórias em quadrinhos. A Tordesillas conta com um catálogo pequeno, mas editorialmente atraente. Romances fantásticos, de Mircea Eliade, e de espionagem, de John Buchan, eram há muito desejados por fãs do gênero e, inexplicavelmente, ignorados por outras editoras.
Segundo, porque os autores são, à primeira vista, desconhecidos da maioria dos leitores de HQs. As credenciais, contudo, pesam em favor do ilustrador suíço Frederik Peeters, ganhador de prêmios importantes, como o francês Angoulême; e do roteirista, Pierre-Oscar Lévy, cineasta francês com mais de 20 filmes realizados em 30 anos de atuação no mercado europeu.
Terceiro, porque a bela e enigmática capa se nega a dizer algo sobre seu conteúdo (exceto que o desenhista é talentoso).




Desconhecido
Deixar o leitor diante do desconhecido é uma dádiva, quando se trata de uma história como a de "Castelo de Areia". Peeters e Lévy contam a inusitada história de três famílias que se encontram por acaso em uma praia e dela não conseguem sair. Lá o tempo corre e esvai as vidas de seus prisioneiros.
À priori, os fãs de ficção científica devem ser mordidos pela expectativa de ler uma espécie de "Lost". O resultado, no entanto, é bem distinto.
"Castelo de Areia" é herdeiro de dois importantes momentos literários franceses - o surrealismo e o existencialismo. Num caso e noutro, é decretada a incapacidade da razão de realizar seu sonho: desvelar os enigmas que assolam o homem.
Com uma boa dosagem de diálogos, monólogos e silêncios, e um desenho marcante, "Castelo de Areia" consegue algo que poucos quadrinhos foram capazes (não por problemas formais, mas de conteúdo) ser um ensaio sobre temas tão densos quanto o tempo e a finitude.
A surpresa se converte em dúvida: seria essa a melhor história em quadrinho do ano?


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