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sábado, 21 de janeiro de 2012

Do Ceará para o mundo inteiro

Por Adriana Martins - Diário do Nordeste
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Desenhos de sketchbooks do artista gráfico Julião Júnior...

Facilidades da tecnologia ampliam possibilidades de trabalho para profissionais de qualquer lugar
Embora ainda não gere demanda suficiente para todos os profissionais do Estado, o mercado cearense de artes gráficas tem crescido, especialmente no setor de ensino e de publicidade.

Entre os elementos facilitadores desse processo está a internet, que permite aos ilustradores não apenas divulgar amplamente seu portfólio, mas trabalhar com empresas de outros Estados e países, sem precisar sair de casa. "A internet é imprescindível, foi uma revolução na nossa área. Muitos pais de alunos me perguntam se existe mercado em Fortaleza para quadrinhos, explico que nosso mercado é o mundo. Não consigo imaginar desenhista sem site, sem blog, sem espaço para divulgar seu trabalho, sem uma rede de contatos", explica o quadrinista Daniel Brandão, dono do próprio estúdio na Capital, onde produz material e coordena cursos.
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... exercício do manual é importante
"Um ótimo exemplo disso, é o Ed Benes (José Edilbenes Bezerra), de Limoeiro do Norte. Sem sair de lá, ele trabalha para a DC Comics, dos Estados Unidos. Desenha para títulos como ´Liga da Justiça´ e ´Super-Homem´", destaca Brandão. "O mercado local existe mas ainda é pequeno, não abarca todo mundo. Se você é competente e tem postura profissional, não importa se mora em Fortaleza, Manaus, Belém, sempre vai ter espaço", complementa.

Além das possibilidades de trabalho, Brandão também aponta uma mudança em relação à própria imagem da profissão. "Hoje as pessoas com algum grau de instrução sabem que é possível viver de desenho. Os quadrinhos, por exemplo, tomaram patamar de coisa cool, interessante, deixou um pouco a marginalidade ou a atmosfera infantil", explica o empresário.

Demandas
O caminho, porém, foi e ainda é longo. "Trabalhar com quadrinhos no Ceará era uma coisa quase impossível em meados dos anos 90. Até hoje, mesmo as pessoas não tendo mais vergonha de dizer que fazem quadrinhos, o cenário ainda tem muito o que melhorar. Trata-se de uma linguagem não respeitada como mídia, não da maneira como deveria ser", argumenta Brandão.

No cenário local, o quadrinista aponta dois casos de sucesso, entre eles a presença de cearenses na série de luxo "MSP50", iniciada em 2009, em homenagem aos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa. Em cada álbum, 50 artistas de diferentes locais do País desenham suas versões de personagens da Turma da Mônica.

"Na primeira edição fui o único cearense a participar. Em 2010, foram dois, o Denilson Albano e o J.J. Marreiro; no ano passado, forma quatro, Ed Benes, Lene Chaves, Klévisson Viana e Lederly Mendonça", contabiliza Brandão.

O quadrinista cita ainda o trabalho do Fórum de Quadrinhos do Ceará, cujos representantes "fortaleceram o espaço da Gibiteca, fizeram vários eventos, foram sensacionais", elogia Brandão.

Entre os nomes que merecem destaque o empresário aponta o do colega Allan Goldman, que trabalha com ele no estúdio. "É extremamente talentoso, desenha personagens como Superman e Mulher Maravilha para editoras dos EUA, está comigo há sete anos".

Já o proprietário da OPA Escola de Design, Dirceu Ximenes, aponta a boa procura pelos cursos da instituição como um sinal de desenvolvimento do mercado local. "Para o curso de design gráfico, que é o maior, temos oito turmas. As quatro deste semestre já estavam fechadas no fim do ano passado. A procura está sendo muito boa", revela.

Ximenes é arquiteto por formação, e, há 20 anos, trabalha com design. Em 2006, fundou a OPA. "Quando comecei, o curso mais próximo que existia aqui era Arquitetura. Fiz também um no extinto Instituto Dragão do Mar. A escola surgiu do desejo de oferecer uma opção de formação para as pessoas sem possibilidade de estudar fora, de contribuir para profissionalizar o mercado", conta Ximenes.

Como funcionário de uma agência de publicidade, Pádua Sampaio (que também é integrante do Coletivo Base), acredita na revalorização de trabalhos com caráter mais artesanal. "O ilustrador sempre teve lugar cativo no ramo da publicidade, especialmente na época em que não existiam ferramentas como Photoshop e máquina digital", ressalta.

"Quando esses recursos se popularizaram, houve certa banalização. Então agora o mercado experimenta uma revalorização do acabamento artesanal, como vemos nas peças de (Carlo) Giovani, por exemplo", diz Sampaio. 
Cadernos para esboços viram objetos de arte
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Outra ilustração de Julião Júnior: exercício constante e cadernos produzidos artesanalmente
Eles sempre estiveram presentes na vida de grandes artistas, desde mestres como Leonardo Da Vinci até os designers, arquitetos, ilustradores, cartunistas e grafiteiros da modernidade. Podem ser usados para registrar ideias, inspirações ou os primeiros estudos sobre uma possível obra. Seja como for, o sketchbook - ou "caderno de rascunho", em uma tradução livre - é ferramenta importante para qualquer profissional do ramo.

No Brasil, um dos maiores difusores de sketchbooks é o ilustrador carioca Renato Alarcão. Por aqui, um de seus "pupilos" é Julião Júnior, que inclusive elabora artesanalmente esse tipo de caderno.

"Ele é importante como ferramenta de criação, na verdade funciona como um banco de ideias. Ao buscar referências na internet, por exemplo, encontramos muito modismo. No sketchbook não, você captura a imagem e faz sua leitura. Além disso, pode fazer novas intervenções ao longo do tempo e, a partir daí, trazer outro conceito", explica o cearense.

Manual
Não por acaso, sketchbooks são uma excelente maneira de conhecer melhor o pensamento e a obra de grandes artistas. Os cadernos já renderam até assunto para o mercado editorial.

Em 2010, por exemplo, foi lançado "Sketchbooks", o primeiro livro brasileiro a mostrar o processo criativo de vários artistas nacionais por meio de suas coleções de esboços.

A publicação foi organizada por Cezar de Almeida e Roger Bassetto. Além de Renato Alarcão, participaram nomes como Alex Hornest, Amanda Grazini, Angeli, Arthur D´Araujo, Bruno Kurru, Hiro Kawahara, Kako, Kiko Farkas, Orlando, Rafael Grampá, entre outros.

No âmbito da valorização de trabalhos mais artesanais no mercado, o hábito de manter um sketchbook cai como uma luva. "Hoje temos um retorno às prática manuais, porque o computador, em determinado momento, deixou tudo meio homogêneo", avalia Julião.

Para o ilustrador, o fazer manual enriquece muito a obra de qualquer profissional, além de possibilitar o exercício constante da mão, do traço - habilidades que nunca serão dispensáveis.

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