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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Afinal, o que é história em quadrinhos?

Introdução

Quadrinhos, a primeira vista achamos que pode ser uma sequência de quadros?!? É realmente isso mesmo.
Uma definição bem simples é que os quadrinhos são uma sequência de quadros que expressam uma história, informação, ação, etc.
História em quadrinhos, quadrinhos, gibi é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos.
São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e jornais.
São conhecidos como comics nos Estados Unidos, bande dessinée na França, fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina, muñequitos em Cuba, mangá no Japão.
A história em quadrinhos é chamada de “Nona Arte” dando seqüência à classificação de Ricciotto Canudo. O termo “arte sequencial” (traduzido do original sequential art), criado pelo quadrinista Will Eisner com o fim de definir “o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma idéia”, é comumente utilizado para definir a linguagem usada nesta forma de representação.
Uma fotonovela e um infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.
Revista em quadrinhos
A revista em quadrinhos, como é chamada no Brasil, ou “comic book” como é predominantemente conhecida nos Estados Unidos, é o formato comumente usado para a publicação de histórias do género, desde séries românticas aos populares super-heróis. Em Portugal a expressão usada é ‘Revista de Banda Desenhada’.
Graphic novel
Graphic novel é um termo para um formato de revista em quadrinhos que geralmente trazem enredos longos e complexos, frequentemente direcionados ao público adulto. Contudo o termo não é estritamente delimitado, sendo usado muitas vezes para implicar diferenças subjetivas na qualidade artística entre um trabalho e outro. Em Portugal usa-se também a tradução: Novela Gráfica, mas raramente.
Origem
É possível remontar aos tipos de registo pictórico utilizados pelo homem pré-histórico para representar, por meio de desenhos, as suas crenças e o mundo ao seu redor. Ao longo da história esse tipo de registo se desenvolveu de várias formas, desde a escrita hieroglífica egípcia até às tapeçarias medievais, bem como aos códigos/histórias contidos numa única pintura.
Ao longo do século 19 aconteceu a pré-história dos quadrinhos. Histórias ilustradas, caricaturas e charges começaram a aparecer em jornais e livros. Entre maio de 1895 e maio de 1896, o “Menino Amarelo”, criação de Richard Outcault, tornou-se o primeiro personagem a aparecer semanalmente num jornal. A virada do século 19 para o 20 marcou o surgimento de uma leva de artistas e personagens, com destaque para “Os Sobrinhos do Capitão”, de Rudolph Dirks, “Chiquinho” (ou “Buster Brown”, a versão burguesa do pobretão “Menino Amarelo”), de Richard Outcault, e as revolucionárias historinhas de “Little Nemo in Slumberland”, de Winsor McCay.
Mas é nas décadas de 20 e 30 que desponta uma geração de criadores e criatura geniais. Entre eles, Pat Sullivan com o Gato Félix, Hergé com Tintin, Hal Foster com Tarzan e Príncipe Valente, Walt Disney com Mickey Mouse e o Pato Donald, Max Fleischer com Betty Boop, Alex Raymond com Jim das Selvas e Flash Gordon, Al Capp com Ferdinando, Lee Falk com Mandrake e Fantasma, Bob Kane com Batman e Jerry Siegel e Joe Shuster com o Super-Homem. Apesar da crise econômica da Grande Depressão nos Estados Unidos, iniciada no final da década de 20, os anos 30 foram uma época de ouro para os quadrinhos. Além das histórias seriadas nos jornais, eles passaram a ter um veículo exclusivo, os comic books ou gibis, que traziam histórias completas e eram impressos em formato meio tablóide. As historinhas também não se limitavam mais a serem cômicas. Elas passaram a ser também de aventura, fantasia e ficção científica.
Super Homem

A partir daquele momento, os super-heróis e a popularização dos quadrinhos tornaram essa linguagem uma das mais atraentes e importantes para a cultura jovem. Mas, o preconceito contra as historinhas manifestado pela estética tradicional e pelos estudiosos deixou durante muito tempo de reconhecer a complexidade e a riqueza das narrativas que unem imagens e textos nos quadrinhos e o impacto delas na cultura popular e na contestação sócio-política durante o século 20.
Nos anos 30, os quadrinhos ganhavam popularidade no Brasil também. No final da década surgiu no país as revistinhas “Globo Juvenil” e “Gibi”, as primeiras publicações no mesmo formato dos comic books norte-americanos com historinhas completas de personagens como Super-Homem, The Spirit, Tocha Humana e Roy e Bob, entre outros. O sucesso do “Gibi” foi tal que o nome virou sinônimo para todas as revistinhas de histórias em quadrinhos lançadas no país.
Mulhar Maravilha

Nos anos 40, na onda dos super heróis, surge a Mulher Maravilha, a primeira heroína da história dos quadrinhos
A partir do final da Segunda Guerra Mundial com o surgimento da adolescência como um fenômeno cultural mundo afora, os quadrinhos conquistaram cada vez mais espaço na cultura jovem. Exemplo maior desse sucesso foi Charles Schulz, que criou em 1950 “Minduim” (Peanuts). Seus personagens principais são um garoto complexado e perdedor chamado Charlie Brown e um cãozinho beagle curioso e filosófico chamado Snoopy. Os constantes fracassos de Charlie Brown transformaram-se em um consolo para crianças e adolescentes ao redor do planeta, que têm que conviver e enfrentar seus próprios insucessos e vergonhas numa sociedade tão competitiva como a que emergiu a partir dos anos 50.
Desde a década de 40, devido ao sucesso dos gibis do Super-Homem, surgiu também uma legião de super-heróis e super-vilões. A influência da Guerra Fria (conflito político, ideológico e cultural entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), nos anos pós-Segunda Guerra, ampliou a população de super-heróis e vilões. Nessa época, um dos artistas que mais se destacou foi Stan Lee ao criar personagens como Homem Aranha, Quarteto Fantástico, Homem de Ferro, Incrível Hulk, Thor, X-Men, Demolidor e o Surfista Prateado.
Sin City filme
Reprodução de pôster de lançamento do filme "Sin City"

Dos quadrinhos para o cinema

Desde os primórdios, quadrinhos e cinema estiveram muito próximos, afinal as historinhas impressas são praticamente um roteiro visual cinematográfico (uma story line). Mas a passagem de um universo para outro nem sempre é uma realização fácil ou bem sucedida.
Os super-heróis ganharam super produções que geraram super bilheterias, como as séries do Homem Aranha, do Batman e dos X-Men. Mas, uma das mais inovadoras experiências cinematográficas a partir dos quadrinhos foi o filme “Sin City” (2005), dirigido por Robert Rodrigues com a co-direção de Frank Miller e tendo Quentin Tarantino como diretor convidado.
Criado a partir da obra homônima de Miller, o filme conseguiu ser a mais fiel e inovadora passagem da linguagem dos quadrinhos para a telona. Todos os recursos gráficos usados por Miller são reproduzidos na linguagem cinematográfica, só que de uma forma que potencializa os sentidos expressos nos quadrinhos. A violência e a sensualidade que transbordam no gibi, transbordam também na tela do cinema.
O resultado é um filme que pode ser classificado como um típico clássico do cinema noir com os poderes sobrenaturais permitidos aos personagens dos quadrinhos. A simbiose é tal, que até dá para imaginar se a genialidade de Frank Miller não transformou em quadrinhos primeiro (lançados entre 1991 e 1992) o filme que ele tinha na cabeça.

Uma breve história dos quadrinhos (Parte 2)

A popularização dos quadrinhos e o amadurecimento das crianças e adolescentes das décadas de 30 e 40 ajudaram a uma proliferação de artistas e personagens voltados também ao mundo adulto. Ainda na década de 50, Harvey Kurtzmann lança a revista “Mad”, uma inovadora publicação que ironizava o estilo de vida norte-americano. Na França, no começo dos anos 60, surge “Barbarella”, de Jean-Claude Forest, uma espécie de feminista intergaláctica insaciável sexualmente. Da França vem também Moebius que com seus desenhos e histórias futuristas viria a inspirar décadas depois produções hollywoodianas como “Alien” e “Tron”. Em meados da década de 60, o italiano Guido Crepax mudou a diagramação tradicional dos quadrinhos e usou para isso “Valentina”, uma das mais bonitas e sensuais heroínas dos gibis. Mas o ápice das revoluções sessentistas nos quadrinhos veio com a obra underground de Robert Crumb. Criador de “Fritz The Cat” e “Mr. Natural”, ele escrevia e desenhava histórias que beiravam a pornografia, mostravam o consumo de drogas, narravam incestos e faziam duras críticas políticas e sociais ao estilo de vida norte-americano. Uma forma de manifestação artística totalmente afinada com a contracultura das décadas de 60 e 70.
O underground “Freak Brothers”, criação de Gilbert Shelton, e as obras de Robert Crumb levaram os temas e a linguagem da contracultura dos anos 60 e 70 para os quadrinhos adultos
Outro artista fenomenal da arte dos quadrinhos foi Will Eisner (1917-2005). Com uma produção inovadora desde os anos 40, quando lançou “The Spirit”, uma série de historinhas que revolucionou a linguagem dos quadrinhos, com o uso de elementos visuais cinematográficos, Eisner protagonizou nos anos 70 mais um salto de patamar na arte dos quadrinhos. Com a obra “Um Contrato com Deus”, lançada em 1978, ele torna mais elaborada a estética dos quadrinhos com a popularização das graphic novels. Apesar de ser um tipo de álbum gráfico que já existia desde os anos 60, como nas publicações das historinhas de Tintin e Asterix, as graphic novels a partir do trabalho de Eisner ganham uma densidade visual e de narrativa que as assemelharam às melhores obras literárias da época. Em sua narrativa autobiográfica sobre os fatos e personagens dos cortiços do bairro nova-iorquino do Bronx nos anos 30, Eisner apresenta um olhar único sobre a vida dos imigrantes, suas emoções e conflitos culturais.

Reprodução de página da publicação “New York - A Grande Cidade”
“New York - A Grande Cidade”, de Will Eisner, é um exemplo da contribuição do artista na sofisticação da linguagem das HQs
Mas o universo infantil continuava a gerar uma riqueza de historinhas e personagens para os quadrinhos. No Brasil, na virada dos anos 50 para os 60, Maurício de Sousa começou a criar uma série de personagens que virariam sucesso nacional. A “Turma da Mônica” nasceu com Franjinha e seu cachorrinho Bidu em tiras publicadas na Folha de S. Paulo em 1959. Nas décadas seguintes, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento e toda a turma ganhariam seus gibis e o sucesso dos personagens e suas historinhas fizeram de Maurício de Sousa um dos grandes nomes dos quadrinhos internacional.
Os anos 80 iniciaram uma nova era de ouro para os quadrinhos. Naquela década, houve a consagração das graphic novels não só como um formato mais sofisticado para os gibis, mas também como um veículo que permitia novas experiências visuais e de roteiro para os artistas. Mas o mais importante é que apareceu uma nova geração de criadores geniais, como Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore. Assim, já não havia mais como negar o reconhecimento das histórias em quadrinhos como uma nona arte. E o marco para isso foi o lançamento em 1986 da mini-série “O Cavaleiro das Trevas”, a versão de Frank Miller para a história do Batman. Não foi só o tratamento artístico diferenciado ao visual de Batman, seus inimigos e Gotham City, que fez da graphic novel um marco. Foi principalmente o aspecto soturno, sério, a complexidade psicológica dos personagens e uma trama que revelava os conflitos internos do herói que fizeram de “O Cavaleiro das Trevas” uma referência para uma nova era dos quadrinhos. A segunda metade da década de 80 traz ainda outras obras-primas como “Sandman” e “Orquídea Negra”, de Neil Gaiman, “Watchmen” e “V de Vingança”, de Alan Moore, e “Akira”, de Katsuhiro Otomo.

Reprodução de página da publicação “Sandman - Prelúdios & Noturnos”
Graphic novel “Sandman - Prelúdios e Noturnos”, de Neil Gaiman, exemplifica a nova linguagem que autores como ele, Alan Moore e Frank Miller trouxeram para as HQs
Paralelamente à evolução dos quadrinhos ocidentais, os mangás, a forma japonesa de fazer historinhas em quadrinhos, têm conquistado leitores e mercados mundo afora. No Japão foram impressos 745 milhões de mangás em 2006 (em 1995 chegaram a ser impressos 1,34 bilhão de exemplares) e desde os anos 80 eles começaram sua invasão do Ocidente a partir da publicação nos Estados Unidos da série “Akira”. De lá prá cá, apesar do declínio de vendas no Japão nos últimos anos, os mangás conquistaram mercados na Europa e nas Américas, com as historinhas de “Os Cavaleiros do Zodíaco”, “Dragon Ball Z”, “A Princesa e o Cavaleiro” e “Astro Boy”, entre outros.
Desde o seu surgimento no final do século 19, as histórias em quadrinhos têm renovado constantemente sua linguagem e revelado artistas geniais e personagens inesquecíveis em todos os gêneros. Delas saíram alguns dos mais bem sucedidos e populares sucessos do cinema e da televisão nas últimas décadas. Até mesmo as artes plásticas, com a Pop Arte, e o teatro têm incorporado a linguagem e as criações dos quadrinhos. De arte de “menor valor”, os quadrinhos ganharam respeito e mercado. Apenas nos Estados Unidos, as vendas anuais de gibis alcançaram cerca de US$ 700 milhões em 2007, segundo estimativa da Comics Buyers Guide. Isso sem contar todos os subprodutos que eles geram, de miniaturas dos personagens a superproduções hollywoodianas.
Sites de referência e imagens:
http://www.willeisner.com
http://www.comicbookdb.com/index.php
http://www.readyourselfraw.com/profiles/spiegelman/profile_spiegelman.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Banda_Desenhada
http://www.dccomics.com/
http://lazer.hsw.uol.com.br/quadrinhos1.htm

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