Introdução
 Por Almanque Gigante
Quadrinhos, a primeira vista achamos que pode ser uma sequência de quadros?!? É realmente isso mesmo.
Uma definição bem simples é que os quadrinhos são uma sequência de quadros que expressam uma história, informação, ação, etc.
História em quadrinhos, quadrinhos, gibi é uma forma de arte que  conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais  variados gêneros e estilos.
São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e jornais.
São conhecidos como comics nos Estados Unidos, bande dessinée na  França, fumetti na Itália, tebeos na Espanha, historietas na Argentina,  muñequitos em Cuba, mangá no Japão.
A história em quadrinhos é chamada de “Nona Arte” dando seqüência à  classificação de Ricciotto Canudo. O termo “arte sequencial” (traduzido  do original sequential art), criado pelo quadrinista Will Eisner com o  fim de definir “o arranjo de fotos ou imagens e palavras para narrar uma  história ou dramatizar uma idéia”, é comumente utilizado para definir a  linguagem usada nesta forma de representação.
Uma fotonovela e um infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.
A revista em quadrinhos, como é chamada no Brasil, ou “comic book”  como é predominantemente conhecida nos Estados Unidos, é o formato  comumente usado para a publicação de histórias do género, desde séries  românticas aos populares super-heróis. Em Portugal a expressão usada é  ‘Revista de Banda Desenhada’.
Graphic novel
Graphic novel é um termo para um formato de revista em quadrinhos que  geralmente trazem enredos longos e complexos, frequentemente  direcionados ao público adulto. Contudo o termo não é estritamente  delimitado, sendo usado muitas vezes para implicar diferenças subjetivas  na qualidade artística entre um trabalho e outro. Em Portugal usa-se  também a tradução: Novela Gráfica, mas raramente.
Origem
É possível remontar aos tipos de registo pictórico utilizados pelo  homem pré-histórico para representar, por meio de desenhos, as suas  crenças e o mundo ao seu redor. Ao longo da história esse tipo de  registo se desenvolveu de várias formas, desde a escrita hieroglífica  egípcia até às tapeçarias medievais, bem como aos códigos/histórias  contidos numa única pintura.
 Uma breve história dos quadrinhos (Parte 1)
Ao longo do século 19 aconteceu a pré-história dos quadrinhos.  Histórias ilustradas, caricaturas e charges começaram a aparecer em  jornais e livros. Entre maio de 1895 e maio de 1896, o “Menino Amarelo”,  criação de Richard Outcault, tornou-se o primeiro personagem a aparecer  semanalmente num jornal. A virada do século 19 para o 20 marcou o  surgimento de uma leva de artistas e personagens, com destaque para “Os  Sobrinhos do Capitão”, de Rudolph Dirks, “Chiquinho” (ou “Buster Brown”,  a versão burguesa do pobretão “Menino Amarelo”), de Richard Outcault, e  as revolucionárias historinhas de “Little Nemo in Slumberland”, de  Winsor McCay.
Mas é nas décadas de 20 e 30 que desponta uma geração de criadores e  criatura geniais. Entre eles, Pat Sullivan com o Gato Félix, Hergé com  Tintin, Hal Foster com Tarzan e Príncipe Valente, Walt Disney com Mickey  Mouse e o Pato Donald, Max Fleischer com Betty Boop, Alex Raymond com  Jim das Selvas e Flash Gordon, Al Capp com Ferdinando, Lee Falk com  Mandrake e Fantasma, Bob Kane com Batman e Jerry Siegel e Joe Shuster  com o Super-Homem. Apesar da crise econômica da Grande Depressão nos  Estados Unidos, iniciada no final da década de 20, os anos 30 foram uma  época de ouro para os quadrinhos. Além das histórias seriadas nos  jornais, eles passaram a ter um veículo exclusivo, os comic books ou  gibis, que traziam histórias completas e eram impressos em formato meio  tablóide. As historinhas também não se limitavam mais a serem cômicas.  Elas passaram a ser também de aventura, fantasia e ficção científica.
Super Homem
A partir daquele momento, os super-heróis e a popularização dos  quadrinhos tornaram essa linguagem uma das mais atraentes e importantes  para a cultura jovem. Mas, o preconceito contra as historinhas  manifestado pela estética tradicional e pelos estudiosos deixou durante  muito tempo de reconhecer a complexidade e a riqueza das narrativas que  unem imagens e textos nos quadrinhos e o impacto delas na cultura  popular e na contestação sócio-política durante o século 20.
Nos anos 30, os quadrinhos ganhavam popularidade no Brasil também. No  final da década surgiu no país as revistinhas “Globo Juvenil” e “Gibi”,  as primeiras publicações no mesmo formato dos comic books  norte-americanos com historinhas completas de personagens como  Super-Homem, The Spirit, Tocha Humana e Roy e Bob, entre outros. O  sucesso do “Gibi” foi tal que o nome virou sinônimo para todas as  revistinhas de histórias em quadrinhos lançadas no país.
Mulhar Maravilha
Nos anos 40, na onda dos super heróis, surge a Mulher Maravilha, a primeira heroína da história dos quadrinhos
A partir do final da Segunda Guerra Mundial com o surgimento da  adolescência como um fenômeno cultural mundo afora, os quadrinhos  conquistaram cada vez mais espaço na cultura jovem. Exemplo maior desse  sucesso foi Charles Schulz, que criou em 1950 “Minduim” (Peanuts). Seus  personagens principais são um garoto complexado e perdedor chamado  Charlie Brown e um cãozinho beagle curioso e filosófico chamado Snoopy.  Os constantes fracassos de Charlie Brown transformaram-se em um consolo  para crianças e adolescentes ao redor do planeta, que têm que conviver e  enfrentar seus próprios insucessos e vergonhas numa sociedade tão  competitiva como a que emergiu a partir dos anos 50.
Desde a década de 40, devido ao sucesso dos gibis do Super-Homem,  surgiu também uma legião de super-heróis e super-vilões. A influência da  Guerra Fria (conflito político, ideológico e cultural entre os Estados  Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), nos anos  pós-Segunda Guerra, ampliou a população de super-heróis e vilões. Nessa  época, um dos artistas que mais se destacou foi Stan Lee ao criar  personagens como Homem Aranha, Quarteto Fantástico, Homem de Ferro,  Incrível Hulk, Thor, X-Men, Demolidor e o Surfista Prateado.
Sin City filme Reprodução de pôster de lançamento do filme "Sin City"
Dos quadrinhos para o cinema
Desde os primórdios, quadrinhos e cinema estiveram muito próximos,  afinal as historinhas impressas são praticamente um roteiro visual  cinematográfico (uma story line). Mas a passagem de um universo para  outro nem sempre é uma realização fácil ou bem sucedida.
Os super-heróis ganharam super produções que geraram super  bilheterias, como as séries do Homem Aranha, do Batman e dos X-Men. Mas,  uma das mais inovadoras experiências cinematográficas a partir dos  quadrinhos foi o filme “Sin City” (2005), dirigido por Robert Rodrigues  com a co-direção de Frank Miller e tendo Quentin Tarantino como diretor  convidado.
Criado a partir da obra homônima de Miller, o filme conseguiu ser a  mais fiel e inovadora passagem da linguagem dos quadrinhos para a  telona. Todos os recursos gráficos usados por Miller são reproduzidos na  linguagem cinematográfica, só que de uma forma que potencializa os  sentidos expressos nos quadrinhos. A violência e a sensualidade que  transbordam no gibi, transbordam também na tela do cinema.
O resultado é um filme que pode ser classificado como um típico  clássico do cinema noir com os poderes sobrenaturais permitidos aos  personagens dos quadrinhos. A simbiose é tal, que até dá para imaginar  se a genialidade de Frank Miller não transformou em quadrinhos primeiro  (lançados entre 1991 e 1992) o filme que ele tinha na cabeça.
Uma breve história dos quadrinhos (Parte 2)
A popularização dos quadrinhos e o amadurecimento das crianças e  adolescentes das décadas de 30 e 40 ajudaram a uma proliferação de  artistas e personagens voltados também ao mundo adulto. Ainda na década  de 50, Harvey Kurtzmann lança a revista “Mad”, uma inovadora publicação  que ironizava o estilo de vida norte-americano. Na França, no começo dos  anos 60, surge “Barbarella”, de Jean-Claude Forest, uma espécie de  feminista intergaláctica insaciável sexualmente. Da França vem também  Moebius que com seus desenhos e histórias futuristas viria a inspirar  décadas depois produções hollywoodianas como “Alien” e “Tron”. Em meados  da década de 60, o italiano Guido Crepax mudou a diagramação  tradicional dos quadrinhos e usou para isso “Valentina”, uma das mais  bonitas e sensuais heroínas dos gibis. Mas o ápice das revoluções  sessentistas nos quadrinhos veio com a obra underground de Robert Crumb.  Criador de “Fritz The Cat” e “Mr. Natural”, ele escrevia e desenhava  histórias que beiravam a pornografia, mostravam o consumo de drogas,  narravam incestos e faziam duras críticas políticas e sociais ao estilo  de vida norte-americano. Uma forma de manifestação artística totalmente  afinada com a contracultura das décadas de 60 e 70.
O underground “Freak Brothers”, criação de Gilbert Shelton, e as  obras de Robert Crumb levaram os temas e a linguagem da contracultura  dos anos 60 e 70 para os quadrinhos adultos
Outro artista fenomenal da arte dos quadrinhos foi Will Eisner  (1917-2005). Com uma produção inovadora desde os anos 40, quando lançou  “The Spirit”, uma série de historinhas que revolucionou a linguagem dos  quadrinhos, com o uso de elementos visuais cinematográficos, Eisner  protagonizou nos anos 70 mais um salto de patamar na arte dos  quadrinhos. Com a obra “Um Contrato com Deus”, lançada em 1978, ele  torna mais elaborada a estética dos quadrinhos com a popularização das  graphic novels. Apesar de ser um tipo de álbum gráfico que já existia  desde os anos 60, como nas publicações das historinhas de Tintin e  Asterix, as graphic novels a partir do trabalho de Eisner ganham uma  densidade visual e de narrativa que as assemelharam às melhores obras  literárias da época. Em sua narrativa autobiográfica sobre os fatos e  personagens dos cortiços do bairro nova-iorquino do Bronx nos anos 30,  Eisner apresenta um olhar único sobre a vida dos imigrantes, suas  emoções e conflitos culturais.
Reprodução de página da publicação “New York - A Grande Cidade”
“New York - A Grande Cidade”, de Will Eisner, é um exemplo da contribuição do artista na sofisticação da linguagem das HQs
Mas o universo infantil continuava a gerar uma riqueza de historinhas  e personagens para os quadrinhos. No Brasil, na virada dos anos 50 para  os 60, Maurício de Sousa começou a criar uma série de personagens que  virariam sucesso nacional. A “Turma da Mônica” nasceu com Franjinha e  seu cachorrinho Bidu em tiras publicadas na Folha de S. Paulo em 1959.  Nas décadas seguintes, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali, Chico Bento e  toda a turma ganhariam seus gibis e o sucesso dos personagens e suas  historinhas fizeram de Maurício de Sousa um dos grandes nomes dos  quadrinhos internacional.
Os anos 80 iniciaram uma nova era de ouro para os quadrinhos. Naquela  década, houve a consagração das graphic novels não só como um formato  mais sofisticado para os gibis, mas também como um veículo que permitia  novas experiências visuais e de roteiro para os artistas. Mas o mais  importante é que apareceu uma nova geração de criadores geniais, como  Frank Miller, Neil Gaiman e Alan Moore. Assim, já não havia mais como  negar o reconhecimento das histórias em quadrinhos como uma nona arte. E  o marco para isso foi o lançamento em 1986 da mini-série “O Cavaleiro  das Trevas”, a versão de Frank Miller para a história do Batman. Não foi  só o tratamento artístico diferenciado ao visual de Batman, seus  inimigos e Gotham City, que fez da graphic novel um marco. Foi  principalmente o aspecto soturno, sério, a complexidade psicológica dos  personagens e uma trama que revelava os conflitos internos do herói que  fizeram de “O Cavaleiro das Trevas” uma referência para uma nova era dos  quadrinhos. A segunda metade da década de 80 traz ainda outras  obras-primas como “Sandman” e “Orquídea Negra”, de Neil Gaiman,  “Watchmen” e “V de Vingança”, de Alan Moore, e “Akira”, de Katsuhiro  Otomo.
Reprodução de página da publicação “Sandman - Prelúdios & Noturnos”
Graphic novel “Sandman - Prelúdios e Noturnos”, de Neil Gaiman,  exemplifica a nova linguagem que autores como ele, Alan Moore e Frank  Miller trouxeram para as HQs
Paralelamente à evolução dos quadrinhos ocidentais, os mangás, a  forma japonesa de fazer historinhas em quadrinhos, têm conquistado  leitores e mercados mundo afora. No Japão foram impressos 745 milhões de  mangás em 2006 (em 1995 chegaram a ser impressos 1,34 bilhão de  exemplares) e desde os anos 80 eles começaram sua invasão do Ocidente a  partir da publicação nos Estados Unidos da série “Akira”. De lá prá cá,  apesar do declínio de vendas no Japão nos últimos anos, os mangás  conquistaram mercados na Europa e nas Américas, com as historinhas de  “Os Cavaleiros do Zodíaco”, “Dragon Ball Z”, “A Princesa e o Cavaleiro” e  “Astro Boy”, entre outros.
Desde o seu surgimento no final do século 19, as histórias em  quadrinhos têm renovado constantemente sua linguagem e revelado artistas  geniais e personagens inesquecíveis em todos os gêneros. Delas saíram  alguns dos mais bem sucedidos e populares sucessos do cinema e da  televisão nas últimas décadas. Até mesmo as artes plásticas, com a Pop  Arte, e o teatro têm incorporado a linguagem e as criações dos  quadrinhos. De arte de “menor valor”, os quadrinhos ganharam respeito e  mercado. Apenas nos Estados Unidos, as vendas anuais de gibis alcançaram  cerca de US$ 700 milhões em 2007, segundo estimativa da Comics Buyers  Guide. Isso sem contar todos os subprodutos que eles geram, de  miniaturas dos personagens a superproduções hollywoodianas.
Sites de referência e imagens:
http://www.willeisner.comhttp://www.comicbookdb.com/index.php
http://www.readyourselfraw.com/profiles/spiegelman/profile_spiegelman.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Banda_Desenhada
http://www.dccomics.com/
http://lazer.hsw.uol.com.br/quadrinhos1.htm
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