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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Nunca o sexo será o assunto de uma história

Mauricio de Sousa fala ao iG sobre sexo na Turma da Mônica Jovem e de sua sucessão na empresa

O gibi que traz o início do namoro de Mônica e Cebolinha já vendeu mais de 500 mil exemplares. A informação foi passada ao iG pelo criador dos personagens, Mauricio de Sousa. A HQ, da série "Turma da Mônica Jovem", chegou às bancas em 27 de maio.
Conheça a página de Quadrinhos do iG

Lailson dos Santos/divulgação MSP
Mauricio de Sousa fala sobre sexo nos gibis da Turma da Mônica Jovem: "Não podemos fugir da realidade"
Inicialmente publicada em 2008 e adotando o estilo mangá, a versão jovem dos personagens conquistou uma nova legião de fãs, ávidos por acompanhar a adolescência de Mônica e companhia. A intenção de Sousa com a iniciativa é reestabelecer contato com os leitores mais velhos e abordar assuntos como sexo e drogas.
Quando rabiscou a primeira tirinha do cãozinho Bidu, em 1959, o quadrinista e então repórter policial Mauricio de Sousa dava o primeiro passo para a formação de um império do entretenimento infantil que, em 2011, já ultrapassou um bilhão de revistas publicadas e atinge leitores em mais de 30 países.
Agora, com o sucesso dos quadrinhos mais que consolidado, Mauricio aposta suas fichas em produções animadas para a TV. A primeira delas, estrelada pela Turma do Penadinho, deve estrear no fim deste ano no canal da TV paga Cartoon Network - e posteriormente ser exibida na Rede Globo.
Depois disso, os planos envolvendo animações seguem com as séries do personagem Astronauta e da Turma da Mônica Jovem, além de um longa-metragem do dinossauro Horácio, previsto para 2014.
Leia abaixo a entrevista de Mauricio de Sousa ao iG.
iG: O início do namoro entre Mônica e Cebolinha vai estimular a abordagem de temas como sexo na adolescência em "Turma da Mônica Jovem"?
Mauricio de Sousa:
Não sei ainda. Se nós sentirmos que o público aceita, se não houver muito pé atrás, acho que podemos tocar no tema, mas nunca o sexo será o assunto de uma história. Podemos falar dos primeiros momentos de uma preocupação, dúvidas sobre o assunto, mas não exatamente de sexo.


 
Capa da edição 34 de "Turma da Mônica Jovem"
Nos primeiros anos na escola os professores já falam com as crianças sobre o assunto, não podemos fugir da realidade. Mas vamos fazer de uma forma que atenda ao jovem e não choque os adultos e crianças que leem as revistas. Temos que ter cuidado, pois essas publicações circulam em três faixas de público. Siga o iG Cultura no Twitter
É como se estivéssemos na mesa de jantar, onde os assuntos são discutidos naturalmente para toda a família.
iG: Você acha que tratar de sexo é mais difícil do que de drogas ou de abuso de álcool?
Mauricio de Sousa:
Quando eu comecei a série já pensei em usar esses assuntos. Tanto que eu coloquei na capa da revista "aconselhável para maiores de 12 anos". Mas aí descobrimos que a garotada de 8, 9 anos estava comprando o gibi. Falei "Xi! Não posso partir para algo dessa profundidade". Por isso acabei suavizando o processo, focando as histórias num lado romântico, e me distanciei desses temas que eu queria abordar.

Mas vai chegar o momento, só não sei quando e de que maneira. Costumo dizer que a Turma da Mônica não levanta bandeiras, mas se passa uma bandeira que todos estão segurando, pegamos ela.
iG: Você disse que a Turma da Mônica Jovem surgiu de um desejo seu de manter contato com o seu público, que estava cada vez amadurecendo mais cedo. Como você vê esse encolhimento da infância?
Mauricio de Sousa:
Isso tem sido uma coisa normal por causa do tipo de educação e informação que chegam às crianças. A internet, os games... A criança está receptiva para um monte de informações e liberdades que não tinha até muito recentemente.

Consequentemente ela pula etapas na fase de desenvolvimento - não no desenvolvimento físico ou na maturidade, mas nos hábitos. Por causa disso a garotada está adotando costumes de adolescentes mais cedo - às vezes nem sabendo o motivo de usar aquela roupa ou falar daquele jeito.
Foi aí que percebi que as nossas revistas clássicas estavam fugindo das mãos da garotadinha antigamente que lia até os 14, e agora aos dez já achava coisa de criança. Foi quando resolvi criar essa alternativa, misturando o mangá com os personagens da Turma da Mônica.
iG: Qual a sua opinião sobre a publicidade direcionada para o público infantil?
Mauricio de Sousa:
Eu acho que houve desacertos, não acho que foram abusos, mas desconhecimento ou falta de informações e adequações de algumas empresas, que estavam esquecendo-se de coisas evidentes que envolvem os cuidados que devemos ter na orientação da criançada quanto a costumes, hábitos, alimentação... Cuidados com o corpo e a saúde.

Sou contra proibições. Acho que a família precisa ser chamada para cuidar mais e melhor da situação dos filhos. Os pais precisam rejuvenescer para entender os jovens e os jovens precisam entender suas responsabilidades na família.
Sou totalmente contra leis e decretos de proibição, ou que formulem que o Estado deve cuidar da criançada ou da família - o Estado precisa cuidar de coisas mais graves como a educação, o contrabando, e nós precisamos reeducar não apenas as crianças, mas as famílias, para que assumam o cuidado dos filhos. Com isso vamos evitar a violência, o bullying, a desobediência...

Mauricio de Sousa em ação: "Às vezes desenho uma parte das histórias que me enviam pela internet"
iG: Você mencionou em outras ocasiões um projeto do Chico Bento jovem, com uma proposta mais ecológica, mas até o momento nada foi divulgado. Esse projeto ainda existe?
Mauricio de Sousa:
Queremos abordar as possibilidades das pessoas do campo permanecer no campo, se profissionalizarem, melhorarem a qualidade de vida e não precisarem deixar suas raízes nem nada. Isso já ocorre no Brasil e em outros países. E eu estou pesquisando essas áreas com informações do Ibama, Embrapa, ONGs, para pegar exemplos reais e criar o "Chico Bento Moço", pois em "caipirês" não existe jovem, é moço.
iG: Você ainda escreve histórias para as revistas?
Mauricio de Sousa:
Às vezes eu sugiro. Como tenho uma grande equipe de roteiristas eu leio, analiso e até desenho uma parte das histórias que me enviam pela internet.

iG: Os roteiristas não trabalham na sede da Mauricio de Sousa produções?
Mauricio de Sousa:
A maioria deles trabalha fora. Tenho gente no Norte, Nordeste, Sul... Foi uma proposta que fiz há três anos e funciona maravilhosamente. Eles vivem melhor, tem qualidade de vida, não pegam trânsito pra ir trabalhar - e faz com que o material chegue diversificado. Aqui, quando todos trabalhavam no mesmo ambiente, um colava do outro.

iG: Quando você se aposentar as histórias da Turma da Mônica continuarão a ser publicadas?
Mauricio de Sousa:
Lógico! Estou no meio de um projeto de sucessão, praticamente pronto, que deve ser colocado em prática no ano que vem, para que eu tenha delegados em todas as áreas e a coisa continue. Fora de cogitação que isso pare.

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