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Por Henrique Magalhães 
Entre as décadas de 1960 e 
1980 as histórias em quadrinhos brasileiras se notabilizaram pelas 
histórias de terror, ganhado prestígio nas editoras e no gosto dos 
leitores. Fala-se muito que não há mercado para os quadrinhos nacionais,
 contudo, esse período foi generoso com nossos autores. Essa abertura 
surgiu para dar continuidade à escassa produção estrangeira, perseguida 
pelo conservadorismo do código de ética em vigor nos Estados Unidos. 
Isso favoreceu nossos quadrinistas, que souberam ocupar o espaço.  
                      
Autores como Julio Shimamoto, 
Mozart Couto, Rodolfo Zalla, Franco de Rosa, Eduardo Ofeliano, Elmano 
Silva, Eugênio Colonesse, Flavio Colin, entre tantos outros, não só 
produziram de forma exuberante como renovaram o gênero, trazendo um 
tanto de brasilidade às já manjadas aventuras de vampiros, zumbis e todo
 tipo de malassombro. Um dos autores que mais se destacaram dessa 
geração foi Flavio Colin, pelo magnífico traço caricatural e por abordar
 em suas histórias as mitologias e causos de nossa cultura. 
                      
Alberto Pessoa descobriu Colin por intermédio das revistas Calafrio e Mestres do Terror,
 séries icônicas do gênero, lançadas na década de 1980 pela editora 
D-Arte, de Rodolfo Zalla. Apaixonou-se pelo trabalho do mestre e vive a 
estudar sua obra, que lhe serve de referência e inspiração. Foi para 
homenagear Flavio Colin que Alberto criou uma série de histórias em 
quadrinhos baseadas no universo mítico desse autor, buscando, de certo 
modo, um amálgama de seu traço. O resultado é esta edição, Medo!. 
                      
Nas HQ de Alberto não poderiam
 faltar os elementos convencionais do gênero: o pacto com o diabo, o 
morto-vivo, as forças obscuras e sobrenaturais. As histórias de terror 
comumente gravitam esses temas clássicos, contudo Alberto o faz com 
insuspeitado toque de originalidade ao tangenciar de leve a obra de 
Colin, ao mesmo tempo referenciando-a e inovando no traço e no conteúdo.
 
                      
Um dos aspectos que impressionam no álbum Medo!
 é a desenvoltura do autor, que transita por vários estilos gráficos e 
temáticos, sempre perpassados pelo terror. Desse modo, encontramos 
ambientes que remetem ao faroeste, campos nevados, paisagens urbanas, 
nazismo e cangaço, o que oferece ao leitor um diversificado portfólio da
 capacidade criativa de Alberto. 
                      
Embora os quadrinhos de terror
 aparentemente tenham se exaurido, ou perdido o rumo das bancas de 
revistas por problemas estruturais de nossas editoras, há sim um grande 
potencial a ser explorado cujo caminho foi tão bem apontado por Colin. 
Alberto Pessoa é uma prova que o gênero tem fôlego para se renovar e 
seduzir o público. 
                      
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