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quarta-feira, 12 de março de 2014

Quadrinhos Independentes e Financiamento Coletivo

Maki
Por Mylle Silva - GHQ
Publicar um livro é o sonho de muitos, mas o pesadelo começa quando o assunto é enviar o material para uma editora. É triste, mas precisamos encarar o fato de que boa parte das obras enviadas para as grandes editoras são simplesmente ignoradas, já que são poucos os casos em que o autor recebe uma resposta, mesmo que negativa. Sem saber muito bem o que fazer, o artista pensa que talvez se autopublicar seja uma boa saída, no entanto, dentre vários problemas, um se destaca: como conseguir dinheiro para pagar o livro?

Para potencializar o problema, estamos falando de publicação independente de histórias em quadrinhos, ou seja, normalmente livros com desenhos coloridos e papel couche (brilhante), o que pode triplicar o custo de impressão se comparado a um livro apenas em PB.
Precisamos encarar os fatos: a classe artística brasileira não é valorizada, ou seja, ganha mal e não tem dinheiro para se dar ao luxo de sair publicando seus trabalhos por conta própria. Claro que temos em nosso país vários mecanismos para arrecadar dinheiro através das leis de incentivo, como a Lei Rouanet, mas nem todos os artistas têm facilidade em lidar com os trâmites burocráticos dos editais, como planilhas orçamentárias e acerto de contas.
Sendo assim, o panorama das publicações de quadrinhos independentes no Brasil era, basicamente, composto por fanzines bancados pelos próprios autores e vendidos em eventos. Uma matéria publicada no site Saraiva Conteúdo em 2010 questiona se, além do Mauricio de Sousa e Ziraldo, todo quadrinho no Brasil é independente? Por aí, é possível observar que a cena nacional de quadrinhos estava escondida, acessível apenas entre os fãs. Entretanto, três fatores mudaram (e muito!) o cenário: facilitação na produção de ilustrações e quadrinhos no meio digital; criação e proximidade com o público através de blogs e redes sociais; e o financiamento coletivo, cujo grande representante brasileiro é o site Catarse.
Pioneirismo Mineiro
O primeiro projeto de quadrinhos publicado no Catarse foi o Achados e Perdidos, dos autores Luís Felipe Garrocho e Eduardo Damasceno, que reuniu R$30.834,00 através de 573 apoiadores – quase R$6 mil a mais do que o pedido. O livro, lançado noFIQ 2011, serviu de inspiração para muita gente e, em pouco tempo, novos projetos começaram a pipocar no Catarse.
Os artistas curitibanos do estúdio LoboLimão são um exemplo. Depois de voltarem do FIQ 2011 e perceberem que o mercado de quadrinhos independentes estava evoluindo, começaram a pensar em uma publicação impressa. Na época o site de webcomics tinha pouco mais de 1 ano de existência e a única experiência deles com impresso era o fanzine Dino Hunterz.
Em junho de 2012, o projeto Last RPG Fantasy foi publicado no Catarse e, em dois meses, arrecadou cerca de R$17 mil. A iniciativa recebeu destaque na mídia local por ser pioneira na capital paranaense. O livro foi lançado no evento Gibicon, em Curitiba e, em fevereiro de 2013, recebeu o Troféu Angelo Agostini de Melhor Publicação Independente de 2012. O trio decidiu apostar mais uma vez no financiamento coletivo e lançou um novo projeto no segundo semestre de 2013: a HQ MAKI, que reuniu R$15500 e foi lançada no FIQ de 2013.
Há uma diferença gritante no número de projetos de HQ no Catarse com o passar dos anos. Foram apenas 02 em 2011, 15 em 2012 e 55 em 2013. Além disso, os projetos de quadrinhos atingiram alguns recordes do site como, por exemplo, a graphic novel d’O Mostro, de Fabio Coala, que conseguiu esgotar todas as recompensas em 24h – ou melhor, em 26h, como ele mesmo gosta de dizer. Outro projeto que chama a atenção é o Combo Rangers, de Fabio Yabu, que conseguiu arrecadar quase R$68 mil, o maior valor em dinheiro na categoria quadrinhos até o momento.
Em pouco tempo, o mercado independente de HQs “saiu da toca” e tem dado a cara a tapa para provar que os artistas estão produzindo para um público que existe, consome e está disposto a pagar por livros e souvenirs. Quem ganha, naturalmente, é o leitor, o fã de quadrinhos, que tem cada vez mais possibilidades de acesso a novas publicações, lindas, para ler, se divertir e, depois, colocar em um bom lugar da estante.

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