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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um potiguar na liga extraordinária dos quadrinhos

“Estou muito empolgado. Acabei de ver alguns esboços que Gabriel fez e eles são fantásticos. A energia que há neles... o fato é que o cara entendeu e comprometeu sua percepção com as ideias que estavam na minha proposta, e parece que ele está adorando a coisa”, comentou o lendário roteirista britânico de quadrinhos Alan Moore, 60, sobre seu novo parceiro, o desenhista potiguar Gabriel Andrade Júnior. A entrevista, publicada no site Bleeding Cool, canal encarregado de anunciar oficialmente a novidade da editora Avatar Press (EUA), também ganhou repercussão no Brasil.
A dupla une forças à frente do projeto “Crossed + One Hundred”, novela gráfica de ficção sobre um surto zumbi que assola o planeta em um futuro apocalíptico não muito distante. A história, assinada por Moore e desenhada por Andrade, é um desdobramento da sanguinolenta “Crossed” (criada em 2008 pelo irlandês Garth Ennis) e se passa um século depois da trama original, em 2108.
Novela gráfica de ficção sobre um surto zumbi que assola o planeta marca a parceria entre Gabriel e o roteirista britânico de quadrinhos Alan Moore 
Gabriel Andrade
Nascido em Macau, Gabriel Andrade, 29, é quadrinista exclusivo da Avatar Press desde 2011, editora responsável pelo lançamento da nova série que terá seis volumes. Com periodicidade mensal, o primeiro número sai agora em dezembro nos Estados Unidos. O potiguar é o segundo brasileiro a trabalhar com mister Moore, um dos nomes mais cultuados do quadrinho mundial, e autor de histórias famosas como “V de Vingança”, “Constantine”, “Watchmen” e “A Liga Extraordinária”, só para citar as que chegaram às telas de cinema.

Também escritor, romancista, contista, músico e cartunista, foi o inglês quem assinou o roteiro de “Batman: The Killing Joke” (Batman: A Piada Mortal), HQ especial sobre o Homem-Morcego e seu arquiinimigo, o Coringa, publicada em 1988 (e relançada em 2008) pela DC Comics.

“Ainda não conheço ele (Alan Moore) pessoalmente, é tudo online, mas como vou participar de dois eventos de quadrinhos nos EUA no próximo ano, quem sabe não nos esbarramos por lá”, disse Gabriel, que até o lançamento de "Crossed + One Hundred" em dezembro não pode dar detalhes sobre a série.

“Para mim, trabalhar com Alan Moore neste projeto é muito mais um presente do que um desafio. Sinto uma conexão muito forte com o mundo por trás desta história, com todas as referências, livros, filmes, música e arte conceitual que tem me acompanhado sendo exploradas aqui”, declarou Andrade também para o site Bleeding Cool. “Tenho tido total liberdade, tanto na criação do visual dos personagens quanto na formulação deste novo mundo”, complementou.

“O texto inteligente, claro e detalhado de Moore me forneceu uma base sólida para ilustrar, e experimentar, esse universo que estamos criando”, disse o desenhista, elogiando o trabalho do novo parceiro.

Contatos imediatos
O contato entre Alan Moore e Gabriel Andrade se deu a partir do traço do potiguar, impresso na HQ “God is Dead”. “Para cumprir o prazo desse trabalho passei quatro dias desenhando 16 horas por dia”, lembra. O esforço funcionou: hoje Gabriel é o principal desenhista da Avatar Press, e quando Moore foi convidado pela editora para embarcar no novo projeto escolheu o quadrinista potiguar a partir do que ele tinha feito em “God is Dead”. Na Avatar Gabriel também assinou as séries “Ferals” (HQ de lobisomem) e da anti-heroína “Lady Death” - antes de fechar contrato de exclusividade em 2011 ilustrou versões em quadrinhos para os filmes “Duro de Matar” e “Alien”.

Profissional das HQs desde 2008, Andrade começou a carreira colaborando com editoras norte-americanas, agenciado pela Impacto Quadrinhos (SP). O potiguar desenha desde criança, “por hobby”, e antes de decidir trilhar por esse caminho chegou a cursar violão clássico e guitarra na Escola de Música da UFRN. Por enquanto não pensa em sair do país ou do Rio Grande do Norte, e confessa que não é fluente no idioma inglês. “Falo um pouco, já tive mais fluência, mas acabei perdendo um pouco a prática. Tenho compreensão do necessário, e às vezes os roteiros chegam sem tradução, então tenho que desenrolar por aqui”.

O senhor do caos
Nascido em família humilde, Alan Moore estava desempregado e sem nenhuma formação profissional aos 18 anos, quando começou a trabalhar na revista “Embryo”. Em 1979, com o pseudônimo 'Curt Vile', criou a história de detetive “Roscoe Moscou” - trabalho que o fez chegar a conclusão de que não era um bom ilustrador e que deveria se dedicar mais aos roteiros.
ReproduçãoAlan MooreAlan Moore

Suas primeiras contribuições como ficcionista foram para a série “Doctor Who” e o título “2000 A.D.”. Contratado pela revista britânica Warrior, começou a escrever “V de Vingança” uma de suas séries mais famosas. Conquistou os Estados Unidos com a série de ecoterror “Monstro do Pântano”, de onde saiu o personagem “Constantine”. Logo depois viriam “Watchmen” e “A Liga Extraordinária”.

Via TRIBUNA DO NORTE

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