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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Aprendendo a ser herói

BomDeBriga
Por Milena Azevedo - GHQ
Custa-se a crer que Paul Pope fez uma HQ infantojuvenil, haja vista seus trabalhos anteriores serem povoados por cenários delirantes e sexys, como 100%Heavy LiquidEscapo e Batman – Ano 100.

Mais interessante ainda é saber que Pope deu conta do recado e até ganhou o Eisner na categoria Melhor Publicação para Jovens Adultos (entre 13 e 17 anos), em 2014.
Bom de Briga (208 páginas, colorido, R$ 40,00) foi publicado no Brasil, sem muito alarde, pela Quadrinhos na Cia. E a leitura é extremamente fluida e atrativa para adolescentes que curtem mangá e/ou literatura fantástica.
A trama foca no rito de passagem da infância para a adolescência, chamado de “virada” ou “incursão”, pelo qual o semideus Bom de Briga deverá passar. Para isso, seu pai o leva a Arcópolis, que ainda chora a morte de seu vigilante (um herói da ciência) Haggard West, e lhe pede para livrar aquela cidade humana de todas as aberrações monstruosas que a infestam.
Mesmo temeroso, Bom de Briga se vê forçado a encarar o desafio. Para lhe ajudar, recebe de presente uma mala com 16 itens, entre eles 12 camisetas feitas com um tecido encantado, as quais ostentam totens pintados com “sangue-da-lua pulverizado”, cujas habilidades assimila quando as veste, embora ele ainda não tenha pegado completamente o jeito da coisa.
Arcópolis testemunhará a transição da era dos heróis da ciência para a dos super-heróis ao alçar Bom de Briga ao posto de novo defensor local, rebatizado como “Arcomoço”. Então, sem querer, o menino compra briga com Aurora (a filha de Haggard West, que vem treinando escondida para ser uma vigilante tão boa quanto seu pai), e com toda a “gangue dos espectros”.
Com uma trama simples e abusando das cenas de ação, que saltam aos olhos devido ao seu traço nervoso e suas onomatopeias histéricas, ganhando vida numa paleta de cores que abusa dos tons quentes, Pope prestou uma baita homenagem aos quadrinhos e aos pulps (há várias referências, que vão de Thor a Batman, até Buck Rogers, Rocketeer e Homem-Animal, passando pelos monstros gigantes japoneses), com alusões a mitologia nórdica e relatos lendários (vale lembrar que Humbaba era o nome do guardião da floresta de cedros, na Epopeia de Gilgamesh, e só foi derrotado porque o Rei de Uruk fez um pedido a Shamash, o deus do sol).
O chato desse quadrinho é que, quando o bicho está pegando, a história acaba abruptamente. Fica-se à espera de que Pope finalize logo o segundo volume e que a Quadrinhos na Cia. publique aqui o especial The Rise of Aurora West.

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