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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Wolinski, lenda do cartum francês, é uma das vítimas de ataque em Paris

Desenhista foi símbolo de maio de 68 e influenciou Ziraldo, Jaguar e Henfil.
Sede da revista 'Charlie Hebdo' foi alvo de tiros; ao menos 12 morreram.

Fotos de arquivo mostram cartunistas da equipe da revista 'Charlie Hebdo' mortos no ataque. Da esquerda para a direita: Georges Wolinski (em 2006), Jean Cabut - o Cabu (em 2012), Stephane Charbonnier - o Charb (em 2012) e Tignous (em 2008) (Foto: Bertrand Guay, François Guillot, Guillaume Baptiste/AFP)Fotos de arquivo mostram cartunistas da equipe da revista 'Charlie Hebdo' mortos no ataque. Da esquerda para a direita: Georges Wolinski (em 2006), Jean Cabut - o Cabu (em 2012), Stephane Charbonnier - o Charb (em 2012) e Tignous (em 2008) (Foto: Bertrand Guay, François Guillot, Guillaume Baptiste/AFP)
O cartunista francês Georges Wolinski, conhecido por seu trabalho de forte teor erótico e político, considerado um dos símbolos de maio de 68, está entre os mortos no ataque contra o escritório da revista satírica "Charlie Hebdo", em Paris, nesta quarta-feira (7). Ele tinha 80 anos.

Além de Wolinski, outros três cartunistas estão entre as vítimas: o editor da publicação, Stephane Charbonnier, o "Charb"; Jean Cabut, o "Cabu"; e Tignous.
"Wolinski influenciou todo mundo que vocês conhecem: Ziraldo, Jaguar, Nani, Henfil, Fortuna... O cara era uma ESCOLA. Que dia tenebroso!", escreveu o cartunista brasileiro André Dahmer em seu perfil no Twitter.
Ao G1, Dahmer comentou por e-mail: "É uma perda irreparável. Assassinaram o maior cartunista em atividade no mundo. Um homem que influenciou três gerações de desenhistas".

Já Arnaldo Branco completou: "Wolinski era meu favorito – até por aproximação, por conta do seu desenho tosco (opcional, no caso do francês, que na verdade desenhava muito bem). É difícil até comentar, dada a imbecilidade da morte desse grande mestre – que causa é essa que precisa retaliar um cartum?".
Foto de arquivo feita em abril de 1991 mostra o cartunista francês da revista 'Charlie Hebdo' Georges Wolinski em Paris. Wolinski está entre as vítimas do ataque liderado por homens armados que invadiram a sede da revista deixando 12 mortos (Foto: AFP/Arquivo)Wolinski em 1991 (Foto: AFP/Arquivo)
Quem era Wolinski
Nascido na Tunísia em 1934, Georges Wolinski se mudou com a família para a França em 1946.
Começou a publicar suas tiras nos anos 1960, em trabalhos satíricos que envolviam política e sexualidade.

Durante o maio de 1968 francês – série de manifestações e protestos estudantis por reformas na educação que logo teve adesão de trabalhadores e resultou em uma greve geral –, Wolinski foi confundador da revista "L'Enragé".

Na década seguinte, passou a fazer parte de jornal comunista "L'Humanité". Outros veículos com os quais colaborou foram "Liberácion", "Paris-Match" e "L'Écho des Savanes", além de "Charlie-Hebdo".
Uma das personagens mais marcantes de Wolinski foi a polêmica Paulette, criada junto do artista Georges Pichard (1920-2003) também o início dos anos 1970. Ela foi uma espécie de musa dos quadrinhos da época e apareceu pela primeira vez nas páginas da revista de humor "Charlie Mensuel" .
Em seu perfil no Facebook, o cartunista brasileiro Rafael Campos Rocha lembrou o lado "libertário" do francês: "WOLINSKI foi acusado de falocrata, masculi e todas essas merdas, porque era um LIBERTÁRIO. quem matou foi mais um desses patrulheiros filhos da p**a, para o qual a causa (seja religiosa, política ou de gênero) não serve para LIBERTAR, mas sim para COIBIR, CASTRAR e DESTRUIR, além de, é claro, de manter a sociedade de exploração, que vocês, moralistas de merda, precisam para continuar transformando a vida dos outros em um inferno".
O editor e cartunista da revista 'Charlie Hebdo' Stephane Charbonnier (conhecido como Charb) é visto em foto de dezembro de 2012 ao apresentar sua nova tira de quadrinhos intitulada 'A vida de Maomé', em Paris (Foto: François Guillot/AFP)Stephane Charbonnier, o Charb (Foto: AFP)
Quem era Charb
Stephane Charbonnier, o Charb, era o editor da "Charlie Hebdo" e tinha 47 anos. Sempre defendeu a posição da revista de publicar os desenho do profeta Maomé (segundo o islamismo, essas representações gráficas são consideradas blasfêmia).
Em 2012, ele afirmou à agência de notícias Associated Press que "Maomé não era sagrado para ele". Charb disse na mesma entrevista que vivia "sob a lei francesa. Não sob a lei do Corão".
O cartunista Cabu (Foto: AFP)O cartunista Cabu (Foto: AFP)
Quem era Cabu
Jean Cabut, conhecido como Cabu, tinha 76 anos e era o cartunista por trás da capa de 2006 da "Charlie Hebdo" que mostrava o profeta Maomé. Aquela edição veio na esteira das ameaças contra um jornal dinamarquês que publicou desenhos de Maomé.
Ele era um cartunista veterano de vários jornais franceses. De acordo com o britânico "The Independent", ele poderia ser o profissional de charge mais bem pago do mundo.
O cartunista Tignous (Foto: AFP)O cartunista Tignous (Foto: AFP)
Quem era Tignous
Bernard Verlhac, conhecido como Tignous, nasceu em 1957 e colaborava com as revistas "Charlie Hebdo", "Marianne" e "Fluide glacial".
Seu último trabalho é de 2011 e tinha o título de "Cinco anos de Sarkozy", sobre o período de Nicolas Sarkozy na presidência da França.

O ataque
Pelo menos 12 pessoas morreram no tiroteio em Paris nesta quarta. Entre os mortos estão dois policiais e 10 funcionários da revista, segundo a France Presse. A agência Reuters, citando a polícia, diz que outras dez pessoas ficaram feridas, cinco em estado crítico.
Segundo o jornal britânico “The Guardian”, Rocco Contento, porta-voz do sindicato dos policiais local, disse aos jornalistas que três suspeitos fugiram em um carro dirigido por um quarto homem. O veículo seguiu no sentido de Port de Pantin, onde o veículo foi abandonado e os suspeitos roubaram um segundo carro, no qual continuaram fugindo.

O número de suspeitos envolvidos no crime ainda é incerto e não foi confirmado pela polícia. Eles ainda são procurados e são perigosos, segundo as autoridades.
O romancista Michel Houellebecq (Foto: Divulgação)O romancista Michel Houellebecq
(Foto: Divulgação)
Michel Houellebecq
A sede da "Charlie Hedbo" foi alvo de um ataque a bomba em novembro de 2011 após colocar uma imagem satírica do profeta Maomé em sua capa.

Coincidência ou não, a "Charlie Hebdo" fez a divulgação em sua edição desta quarta-feira do novo romance do controvertido escritor Michel Houellebecq, um dos mais famosos autores franceses no exterior.
A obra de ficção política fala de uma França islamizada em 2022, depois da eleição de um presidente da República muçulmano. "As previsões do mago Houellebecq: em 2015, perco meus dentes... Em 2022, faço o Ramadã!", ironiza a publicação junto a uma charge de Houellebecq.

A revista de humor tem sido ameaçada desde que publicou charges do profeta Maomé em 2006.

Em novembro de 2011, a sede da publicação foi destruída por um ataque criminoso, já definido como atentado pelo governo na época.

Em 2013, um homem de 24 anos foi condenado à prisão com sursis por ter pedido na internet que o diretor da revista fosse decapitado por causa da publicação das caricaturas do profeta muçulmano.
Via G1

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