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quarta-feira, 13 de maio de 2015

O mercado das HQ’s no Brasil – Em números

O mercado das HQ’s no Brasil – Em números
Você já deve ter ouvido que quadrinhos no Brasil não vende, certo? Mas você realmente seria capaz de expressar em números essa afirmação?
Banca de jornal
O IVC (Instituto Verificador de Circulação) é uma entidade sem fins lucrativos que tem como objetivo, entre outras, auditar a circulação de jornais e revistas. A medida serve para estabelecer autenticidade aos números que as editoras fornecem. Uma ferramenta imprescindível para anunciantes e agências de publicidade.

E apesar de ser bem difícil encontrar anúncios em revistas em quadrinhos há muitos anos, a linha clássica da turminha da Mônica (Panini), a revista Recreio e a linha Disney (Abril) são auditadas pelo IVC e, portanto, seus números são mais ou menos conhecidos.
No final de 2012, por exemplo, as revistas da Mônica clássica vendiam aproximadamente entre 120 e 140 mil exemplars cada. Nesse mesmo período, a revista Recreio bateu quase 79 mil exemplares e a turminha da Disney quase 40 mil cada uma.
mercado_numeros_tabela
Infelizmente, nenhum mangá ou super herói, seja da DC ou da Marvel são auditados pelo IVC. Pode ser que eu esteja enganado, mas não acho que nenhuma outra revista nas bancas, com exceção da Mônica Jovem, supere qualquer um dos títulos apresentados acima.
Na outra ponta da tabela, é extensa a lista dos títulos que não conseguiram se manter nas bancas. Apenas para citar exemplos recentes, somente em 2013 a Ediouro decidiu cancelar as revistas Riquinho, Gasparzinho e Brasinha e, em 2012, a editora Abril descontinuou “O Garoto Vivo”, “Uma Família Fora de Órbita” (ambos vencedores da primeira edição do Prêmio Abril de Personagens) e Gemini 8 no quarto número. Pior ainda aconteceu com “Meninos e Dragões”, vencedor da segunda edição do prêmio, que teve apenas o primeiro número publicado.
As apostas recentes da Abri - Vida curta...
As apostas recentes da Abril – Vida curta…
Pouca gente sabe, mas a tiragem mínima para distribuição em bancas de jornal é de 30 mil exemplares (Essa informação não procede, estou tentando buscar a informação correta). É difícil dizer qual o mínimo de revistas um título precisa vender para se manter nas bancas. Os custos de se publicar uma revista estrangeira é bem diferente do que de uma revista produzida por aqui (vou falar disso mais pra frente), mas se tivesse que arriscar, eu diria que todos os títulos descontinuados vendiam menos de 5 mil exemplares/ mês.
Livrarias
Cinco mil exemplares, por outro lado, seria considerado uma vendagem excepcional para os quadrinhos vendidos em livrarias ou para os independentes. Nesses casos, o mais comum é que suas tiragens variem entre 1 e 3 mil exemplares (muitos independentes imprimem apenas 500 cópias de seus álbuns), que serão vendidos não em 1 mês (que é o tempo médio que uma revista fica nas bancas), mas ao longo de anos (e eventualmente ainda sobra encalhe).
Para efeitos práticos, vamos fazer uma simulação de um caso hipotético. Dois profissionais levaram um ano para produzir uma graphic novel entre roteiro, desenho, pintura e lettering. A editora imprimiu uma tiragem de 1000 livros e conseguiu vender tudo em 1 ano. O valor do álbum nas livrarias foi de R$ 30,00 e a editora repassou aos autores 10%, totalizando R$ 1.500,00 para cada um. O que significa que cada artista recebeu R$ 125,00 por mês trabalhado. Pouco, né?
Mas além da óbvia satisfação pessoal, publicar um álbum também pode significar novas oportunidades. Um exemplo excepcional é o Rafael Grampá, que em sua primeira Graphic Novel, conseguiu abrir espaço no mercado americano.
Mesmo Delivery, a primeira graphic novel de Grampá lhe rendeu um contrato com a editora americana Dark Horse Comics
Mesmo Delivery, a primeira graphic novel de Grampá lhe rendeu um contrato com a editora americana Dark Horse Comics. Mas não se anime, isso é quase uma exceção à regra.
Ainda assim, nada muda o fato que o nosso mercado é completamente inexpressivo, mesmo com tantos confetes recentes comemorando o aumento da produção dos quadrinhos brasileiros. Aliás, boa parte desse aumento se deve às iniciativas independentes, agora potencializado com os novos sites de financiamento coletivo, especialmente o Catarse.
Independentes
Historicamente, existem dois grandes desafios para quem pretende produzir seu próprio quadrinho: Os custos gráficos e a distribuição.
O Catarse meio que resolveu esses problemas. Com a ferramenta, o autor pode levantar os recursos para imprimir seu trabalho e distribuí-lo via correios. O que sobra, normalmente, tenta se vender via internet ou em algum evento para quadrinhos.
Particularmente, eu entendo que a dificuldade em comercializar quadrinhos em livrarias ou bancas sem uma editora por trás ainda é um problema. Mas, ainda assim, me parece ser uma solução melhor do que embolsar meros 10% do valor de seu próprio trabalho por uma editora que não vai se arriscar com uma tiragem alta ou tampouco gastar dinheiro com publicidade para promover o trabalho.
Prêmios, editais e incentivos
Atualmente existem alguns programas de incentivo à produção cultural que é bom conhecer, vou citar os que eu conheço e deixo o espaço para quem quiser contribuir com o post nos comentários:
Concurso de Apoio a Projetos Culturais Independentes de Santos oferece R$ 10.000,00 para cada projeto.
PROAC, restrito apenas à moradores do Estado de São Paulo,  já contemplou projetos com valores entre R$ 20.000,00 e R$ 40.000,00 .
Lei de cotas: Desde 2006 tramitam dois projetos de lei que prevê a obrigatoriedade de (ou incentivos fiscais para) cota mínima de 20% de quadrinhos originalmente brasileiros a serem impressos pelas editoras nacionais.  Provavelmente não vai dar em nada…
O PNBE é um programa do governo que adquire livros para as escolas públicas. A tiragem varia de 50.000 para escolas do ensino fundamental 01, 30.000 para escolas do ensino fundamental 02 ou 8.000 escolas do segundo grau.
O assunto é extenso e podemos ir nos aprofundando nos próximos posts, mas se você  tiver mais informações, dúvidas ou críticas a respeito, não deixe de comentar.

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