Deadpool é um caso curioso. Criado em
1991 por Rob Liefeld, um dos quadrinhistas mais polêmicos e criticados
das últimas décadas, o personagem passou por significativas mudanças em
seu status quo ao longo dos anos.
Inicialmente, ele era um vilão
mercenário que enfrentou os Novos Mutantes e a X-Force. Esse falastrão e
sarcástico antagonista tinha fator de cura, assim como o Wolverine, e
era considerado uma cópia do Exterminador (DC Comics), inclusive no visual.
Mas, em 1997, houve uma reviravolta
quando Deadpool ganhou uma revista própria, escrita por Joe Kelly. A
transformação que vinha acontecendo para torná-lo em anti-herói se
consolidou e, mais do que isso, o autor inseriu muito humor nas
histórias. Com o tempo, esse tom cômico evoluiu e passou a parodiar
outros personagens e situações do Universo Marvel.
Deu tão certo que, até hoje, Deadpool é o campeão de cosplays em qualquer evento ligado a quadrinhos em diversos lugares do mundo, especialmente Estados Unidos e Brasil.
A primeira tentativa de transpô-lo para os cinemas foi em X-Men Origens – Wolverine
(2009), mas o filme falhou em retratá-lo com o seu já então conhecido
jeito desbocado, exagerado e satírico. Pelo contrário: transformado no
antagonista do ato final do longa, chegou a ter a boca costurada, e o
tagarela não pôde falar uma palavra sequer enquanto enfrentava Logan.
Tudo mudou nos anos seguintes. Os fãs
queriam um filme fiel aos quadrinhos, e a jornada malsucedida do ator
Ryan Reynolds ao interpretar o Lanterna Verde acelerou os planos.
Em 2014, um vídeo de teste para o longa-metragem “vazou” na internet, mostrando aquilo que todos queria ver: a famosa roupa vermelha, muita ação e humor afiado.
Assim, a 20th Century Fox deu sinal verde para a produção de Deadpool, que agora estreia nas salas de cinema de todo o Brasil.
Wade Wilson é uma pessoa normal, que
ganha a vida fazendo trabalhos questionáveis e passa as horas de folga
no bar do amigo Weasel, onde enche a cara e faz apostas nas brigas que
rolam por lá. Ele acaba conhecendo Vanessa Carlysle, por quem se
apaixona. Mas a vida de amor e sexo, que parece interminável, sofre uma
reviravolta quando Wade é diagnosticado com câncer terminal.
Sua única chance de sobreviver parece
residir num experimento para ativar seus genes mutantes. Sua vida é
salva, ele passa a ter agilidade fora do comum e a habilidade de se
regenerar, mas os responsáveis pelo procedimento esqueceram de informar
um pequeno detalhe: o corpo de Wade fica completamente deformado.
A partir daí, o personagem começa uma missão de vingança.
Deadpool é um filme de ação de
muito, muito humor. O objetivo é fazer o público rir a todo momento,
usando as ferramentas possíveis, principalmente violência, sexo e
referências.
Desde a cena dos créditos iniciais,
brincando com os clichês de filmes de super-heróis, até o final, tudo
vira motivo para piadas. Tagarela, o personagem não para de falar e se
vangloriar enquanto estoura os miolos de um bandido e o sangue jorra na
tela, tudo acompanhado por danças para comemorar o feito.
Aproveitando o fato de estrear quando se comemora o dia dos namorados nos Estados Unidos, a história brinca inserindo momentos in love e músicas melosas para reforçar a discrepância de romantismo num filme tão maluco quanto este.
Além disso, há nudez, masturbação, sexo,
mais sexo e, para terminar, um pouquinho mais de sexo. Entretanto, ao
contrário do que alguns sites brasileiros chegaram a reportar, por causa
da classificação indicativa de 16 anos, não há sexo explícito.
As passagens mais divertidas para os fãs
de quadrinhos ou de filmes de super-heróis estão nas referências que
são jogadas a todo momento. E não só de personagens dos X-Men ou da Marvel:
duas piadas são com o Lanterna Verde, personagem da editora
concorrente, que Reynolds interpretou em 2011, sendo muito criticado, e
até a dupla dinâmica, Batman e Robin, é mencionada.
E a característica do personagem de
quebrar a quarta parede e falar diretamente com o público e fazer
menções a acontecimentos fora da realidade imaginária do filme estão
presentes, e várias vezes.
Desde o fato de ter acontecido um reboot
na cronologia dos filmes dos X-Men, inclusive citando atores das duas
linhas temporais, até brincadeiras com o orçamento limitado de Deadpool em relação a outros longas-metragens mutantes da Fox, tudo é motivo para o personagem fazer piada.
O elenco está afiado, principalmente
Ryan Reynolds e a brasileira Morena Baccarin. A participação do
Colossus, com suas tentativas de dar jeito no Deadpool e fazê-lo se
tornar um herói de verdade, para integrar os X-Men, apenas para se ver
falhando a cada momento, é recorrente.
Narrativamente, o filme aposta em um
forma não-linear para contar a história. Começa com a principal cena de
ação, muito bem coreografada, e a partir daí alterna cenas de flashback
para revelar os acontecimentos até aquele momento. Isso também faz com
que o primeiro ato seja o mais empolgante , quando normalmente isso
deveria ser no terceiro.
Parece que a Fox entendeu os erros cometidos em X-Men Origens – Wolverine,
e desistiu de tentar mudar o personagem. Aceitou o risco de lançar uma
produção com classificação etária restrita, um passo ousado para grandes
estúdios de Hollywood. Tudo bem que, por causa disso, o orçamento foi
mais moderado do que em outros filmes de heróis e custou US$ 58 milhões,
contra costumeiros US$ 150 ou até mesmo US$ 200 milhões atuais.
Ainda assim, essa revisão de postura é bem-vinda.
E vale ainda mencionar a campanha de
marketing, que também contou com menos investimento, mas explorou o lado
debochado do personagem para fazer ações que se tornaram virais na
internet.
Se a trama é simplória, o resultado
final é aquilo que se esperava ver em um filme do Deadpool: uma diversão
maluca de quase duas horas, com momentos que poucos achavam que um dia
veriam em uma adaptação de super-heróis para os cinemas.
DeadpoolDuração: 108 minutos
Estúdio: 20th Century Fox
Direção: Tim Miller
Roteiro: Rhett Reese e Paul Wernick
Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, Ed Skrein, Jed Rees, Gina Carano, Stefan Kapicic, Brianna Hildebrand, T.J. Miller, Leslie Uggams, Karan Soni.
Via UHQ
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