Os Melhores do Mundo
Através do viés da história que é contada numa história em quadrinhos podemos dizer que os super-heróis assumem identidades secretas para proteger sua família e entes queridos. Como no exemplo da origem do Homem-Aranha que deixa um bandido escapar e depois descobre que o mesmo foi responsável pelo assassinato de seu tio. Peter Parker, o alter-ego do Homem-Aranha jura, então, usar seus poderes com responsabilidade e isso envolve não revelar sua identidade para o mundo. Por outro lado, se analisamos de um ponto de vista externo às histórias concluiremos que as identidade secretas como Peter Parker e Clark Kent existem com o intuito de trazer o leitor para realidade da HQ.
Tanto Peter como Clark são dois desajustados na sociedade, eles não se encaixam nos padrões pré-estabelecidos pela mídia e por isso permitem a identificação com o que Umberto Eco chamou de leitor-médio deste tipo de entretenimento. É possível para o leitor se identificar com as histórias de Peter e Clark e ainda aspirar a ser também ele um super-herói, mostrando que por trás de uma aparente mediocridade pode existir algo que faça esse leitor ser “super”. É ainda mais interessante o caso do Capitão Marvel, no qual o menino Billy Batson, ao pronunciar a palavra SHAZAM!,  transforma-se no mortal mais poderoso da Terra. Essa identificação com as crianças (internas ou não) foi responsável pela maior venda de exemplares de comic books durante a Segunda Guerra Mundial.
Os Melhores do Mundo

Além de ter sido o primeiro super-herói, o Superman também foi o primeiro herói a apresentar uma identidade secreta não-aristocrática. Enquanto Zorro, Fantasma e Tarzan eram lordes e herdeiros de sangue azul, Clark Kent era um jornalista filho de fazendeiros do interior dos EUA. Por sua vez, Batman segue a linha dos heróis sem poderes com uma origem mais endinheirada, com a qual ele pode comprar seu treinamento e equipamentos usados em sua outra vida como super-herói. No caso de Batman, há uma personalidade dominante, a do Batman, enquanto seu status como Bruce Wayne serve apenas para que mantenha sua empresa e seus compromissos sociais. No caso do Superman, há ambigüidades porque a verdadeira identidade do herói é o kriptoniano e, portanto, alienígena Kal-El. Quentin Tarantinoquestiona essa identidade de Kent em seu filme Kill Bill Vol. 2, dizendo que Kal-El se disfarça de Clark Kent para zombar da raça humana, portando-se como um homem frágil, míope e desajeitado. Por outro lado, temos o caso do super-herói Sentinela, criado em 2000, que possui três identidades: a do super-herói Sentinela, do humano Robert Reynolds e a do vilão Vácuo. Somente desabilitando a personalidade de Sentinela, os heróis poderiam derrotar Vácuo, transformando o super-herói novamente em uma pessoa comum.
A revelação da identidade secreta vêm gerando diversos arcos de histórias nos personagens das duas maiores editoras de quadrinhos de super-heróis do mundo, a DC e a Marvel Comics, principalmente depois da segunda metade da década passada. Entre os exemplos estão a minissérie Crise de Identidade onde os entes queridos dos super-heróis da DC eram caçados e mortos. A série regular do herói cego Demolidor também lidou por anos com a revelação  e o desmentido de sua identidade secreta. E o Homem-Aranha revelou sua identidade na frente das câmeras da TV durante a minissérie Guerra Civil, mas os editores tiveram que voltar atrás dessa decisão e criaram uma nova série de histórias onde Peter Parker nunca havia tomado aquela atitude. Talvez o exemplo mais evidente de super-herói que revelou sua identidade secreta seja o do Homem de Ferro, tanto no universo dos filmes como dos quadrinhos o mundo sabe que Tony Stark é o vingador dourado.
Revelar a identidade secreta também pode ser associado ao fato de mostrar quem realmente é, por isso também está associada ao ato dos gays de “sair do armário”. Uma reportagem publicada na página online do The New York Times no ano passado afirma que há muito de homoerótico nas páginas de um quadrinho de super-herói. Não apenas a reportagem mas o psiquiatra Frederic Wetham via um romance homossexual entre Batman e Robin na década de 50. Em seu trabalho na minissérie Flex Mentallo, o escritor Grant Morrison colocava no diálogo de um de seus personagens que “Frederic Wetham estava certo pra caralho!”, dizendo que estas histórias proviam a hipersexualização dos leitores com seus corpos definidos e uniformes colantes. Será mesmo?  Não por acaso muitos gays se identificam com este tipo de histórias. Em entrevistas para o site muitos disseram que essa identificação se dá seja pelo fetiche dos uniformes colantes, seja pela mensagem de aceitação no subtexto de quadrinhos como X-Men, que “juraram proteger um mundo que os teme e odeia”. Um dos entrevistados,Dan Avery, editor de um guia gay, disse “Eu lembro de sentir que tinha dois segredos para manter: ser gay e fã de quadrinhos. Não tinha certeza de qual deles tinha mais medo que as pessoas descobrissem”. Existe ainda a fantasia de poder: “Eu acho que muitos homens e garotos gays são atraídos para isso do que o garoto comum porque eles tem uma luta a mais para lutar além de ser somente o desajustado da escola”, diz Bob Schreck, bissexual que já editou as histórias do Lanterna Verde que falavam deste tema. Para celebrar esse tipo de fãs, acontece em Nova York a festa Skin Tight, onde gays se vestem como super-heróis. Para celebrar qualquer tipo de fã de quadrinhos existem inúmeras convenções mundo afora.
O Bravo e o Audaz
O Bravo e o Audaz

Via SPLASH PAGES