Por trás dos quadrinhos: um estudo sobre a metaficção em Homem-Animal Marcelo Grisa Série Quiosque, 48 Paraíba: Marca de Fantasia, 2017. 153p. Digital. R$5,00. ISBN 978-85-67732-73-2 |
Grant Morrison é um deslocado. Condenado eternamente a vagar preso na quinta dimensão, a manifestação corpórea e mental do autor que divide esta contemporaneidade e lugar específico do continuum multiversal conosco tenta, há muitos anos, estabelecer contato com nossas mentes por meio de ideias representadas por desenhos e textos impressos na bidimensionalidade do papel. Não limitadas pelas aparentes duas dimensões (altura x largura) as páginas às quais estão presas, as histórias de Morrison interagem em outros níveis de realidade com a nossa imaginação e se transformam em portais capazes de nos levar a outros universos, alguns deles difíceis de se compreender à primeira vista, mas acessíveis se dedicarmos tempo mental e reflexão.
Mesmo assim, muitas vezes é necessário que se debruce sobre essas páginas com um pouco mais de afinco pra que seja possível extrair toda a informação codificada entre as linhas que delimitam os quadros e, não raro, descobrir informações escondidas entre os quadros e entre a página e o leitor. Essas informações cifradas – ou tão na cara que são difíceis de ser percebidas como tal à primeira vista – são atalhos diretos para a mente do autor e para as preciosas mensagens enviadas na condição de náufrago preso em uma ilha esperando que seus bilhetes em garrafas não sejam extraviados no mar infinito, mas que alcancem um destinatário que os decifre.
Por isso, devemos mandar algumas de nossas mentes mais curiosas para períodos de imersão nessa realidade paralela situada entre o autor, a obra e nós para que possam ir até lá e retornar com pequenos vestígios e artefatos escondidos nas camadas e camadas que compõem essas histórias – bilhetes em garrafas ou não – e trazer para que possam ser apreciados à luz do dia, e claro, fruídos por aqueles que talvez tenham as mesmas curiosidades, mas não tenham o tempo necessário para uma escavação metalinguística quadrinhológica com tamanho esmero.
É isso que Marcelo Grisa faz, indo até onde muitos já estiveram, mas olhando da forma que poucos olharam e traduzindo para que nós, leitores, possamos ver o tanto que ele descobriu e encontrou nesse universo aparentemente inacessível, mas que em sua busca se mostra pelo menos um pouco mais próximo da nossa realidade – seja ela qual for.
Fabiano Denardin
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