[Resenha] Kika e a estrela encantada
Kika e a estrela encantada (2022) é uma história em quadrinhos/cordel sinalizado com roteiro de Klícia Campos e arte de Beto Potyguara. Na história ambientada em Teixeira, cidade localizada no sertão da Paraíba, Kika é uma adolescente surda que vive com seu avô Felinto e que, por sua dificuldade de se comunicar e compreender o mundo da mesma forma que os ouvintes, se sente deslocada e curiosa por conhecer e entender as manifestações artísticas e culturais da região (como a música, as danças e a literatura de cordel).
Um dia, Kika dormia quando percebeu que uma estrela cadente havia atingido o solo, a menina então se dirigiu ao local e, ao tocar a estrela, tem uma experiência fantástica. A jovem volta para casa entusiasmada para falar sobre o acontecimento ao vô Felinto, porém esbarra na falta de conhecimento do homem com a língua brasileira de sinais, se frustrando ao não conseguir se comunicar com o familiar. O idoso então percebe que (por bem ou por mal) seu desconhecimento de Libras é um obstáculo para o relacionamento e o compartilhamento de conhecimentos entre ele e Kika e que, cabe a ele se esforçar para superar essa dificuldade afim de fortalecer ainda mais seus vínculos e promover um maior desenvolvimento social da jovem.
Visto que se pretende como uma obra acessível, o quadrinho é “mudo” em sua quase totalidade, se restringindo a se utilizar de textos em raras ocasiões, como nos recordatórios que situam os acontecimentos, nas onomatopeias (representações dos sons) e na tradução dos gestos sinalizados por Kika e seu avô.
O estilo de arte de Potyguara emula a arte minimalista e chapada das xilogravuras tão características das ilustrações apresentadas nos livretos de cordel. Utilizando-se ainda de efeitos de montagens para compor os cenários, tanto no sentido de gerar contraste entre os elementos em diferentes planos, quanto de representar texturas distintas.
Embora fale de questões e dificuldades reais, como se trata de uma HQ educativa voltada para um público infantil, Kika e a estrela encantada apela para a ludicidade e a simplicidade, recorrendo ao uso de soluções mágicas, que visam cativar e entreter ao mesmo tempo que ensinam o leitor.
A História em Quadrinhos tem como ideia central a importância da inclusão como forma de diminuir o ruído e permitir que as pessoas com deficiência auditiva possam ter uma convivência mais plena. O êxito em transmitir a mensagem pretendida resulta do empenho admirável tanto da narração quanto de tradução propostos pelos envolvidos no projeto.
FONTE: ONOMATOPEIA
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