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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Arte do Brasil

Para marcar o Dia do Quadrinho Nacional, o Fórum de Quadrinhos do Ceará realizou, durante todo o dia de ontem, evento com debate e oficinas
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No dia 30 de janeiro de 1869 foi publicada aquela que é considerada a primeira história em quadrinhos do Brasil. A sequência trazia um personagem fixo, Nhô Quim, criação do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini (1843 - 1910).

A data foi instituída pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo como o Dia do Quadrinho Nacional. Em Fortaleza, a ocasião será marcada por evento que acontece hoje, organizado pelo ainda jovem Fórum de Quadrinhos do Ceará.

O "Dia do Quadrinho Nacional 2011" acontece na Gibiteca de Fortaleza, localizada na Biblioteca Municipal Dolor Barreira. A programação, que se inicia às 9 horas, inclui debate, oficina, lançamentos, exposições e outras atividades. Esta é a segunda edição do evento.

Segundo J.J. Marreiro, um dos organizadores, o evento surgiu a partir da necessidade de celebrar e refletir sobre a produção brasileira de quadrinhos, algo então inexistente na capital cearense. "A ideia apareceu em uma conversa do (cartunista e ilustrador) João Belo Jr. comigo", recorda o quadrinhista.

"A gente tinha acabado de inaugurar a Gibiteca de Fortaleza. A partir das oportunidades que esse espaço nos mostrou, pensamos em organizar uma reunião de artistas, que acabou se tornado um evento em comemoração ao Dia do Quadrinho Nacional".

A primeira edição aconteceu em 2010. Agora, o Fórum de Quadrinhos do Ceará toma a frente do projeto, realizado inteiramente na base do voluntariado. "É uma iniciativa dos próprios artistas, não houve captação de recursos públicos. Mas a gente conta com apoio do Município na cessão do espaço, o que é muito importante", ressalta Marreiro.

Idealizado para defender direitos dos artistas cearenses e lutar pelo espaço do quadrinho no Estado, o Fórum foi criado há dois anos, mas apenas nos últimos meses passou a trabalhar com ações mais concretas. "A entidade congrega vários desenhistas de diversos estilos gêneros. Tem artista que desenha pra a Europa, para os EUA, outros para jornais locais. É um leque bem amplo que contribui para a união do setor", comemora Marreiro.
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Programação
A lista de convidados do evento inclui artistas de Acaraú, Sobral, Maranguape e outras cidades. "Estamos vendo se vem uma turma de Limoeiro do Norte, que trabalha para o mercado dos EUA. Eles estavam confirmados, mas devido às fortes chuvas recentes e a problemas nas estradas, não sabemos se poderão vir", revela Marreiro.

Outras alterações na programação incluem a substituição dos artistas Walter Giovani, Di Amorim e Alex Lei. No lugar de Giovani, para ministrar a oficina "Como elaborar testes para o mercado americano", entrou Geraldo Borges, que atualmente desenha a Mulher Maravilha para a DC. "É um dos pontos altos do evento", destaca.

Já para a mesa-redonda "O método de trabalho e a emoção de trabalhar com quadrinhos" comparecem os artistas Zé Wellington (Grupo Gattai, Sobral), Daniel Brandão (Estúdio Daniel Brandão), Walber Feijó (Armagem.com) e Allan Goldman. A apresentação fica por conta de Guilardo Branco (HCast).

"Esse debate vai contemplar vários aspectos do mercado, como os quadrinhos na internet, a turma que trabalha para editoras nos EUA e a produção de quadrinho independente no Brasil", enumera Marreiro.

Além da oficina e do bate-papo, durante todo o dia será possível conferir a exposição "Arte e Invenção", que reúne trabalhos de artistas representativos do cartum e dos quadrinhos cearenses. "Foram convidados nove artistas cearenses para integrar essa mostra, como Mino, Geraldo Jesuíno e Denilson Albano", destaca o organizador.

Outra parte da exposição será composta por material produzido ao vivo no evento, durante o encontro "Gibiarte". Na ocasião, artistas e interessados em geral poderão fazer seus próprios quadrinhos e cartuns.

"Os visitantes também terão acesso a outra exposição, que é permanente na Gibiteca, chamada Painel 80 anos de Histórias em Quadrinhos do Ceará. Trata-se de um registro do histórico desses artistas nesse período", explica Marreiro. Quem quiser abastecer sua coleção poderá comprar título na Banca de Quadrinhos Nacionais.

Para J.J. Marreiro, o setor das histórias em quadrinhos no Ceará conquista cada vez mais novos espaços, sendo o "Dia do Quadrinho Nacional" um deles. "As oportunidades aparecem seja pelas editoras privadas ou pelos editais. Esse fortalecimento acontece tanto pela valorização cultural da linguagem do quadrinho quanto por sua influência sobre outras mídias, como o cinema e os games", complementa o artista.
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Críticas
Para o escritor e pesquisador em quadrinhos, Gonçalo Junior, uma da maiores referências no assunto, o Dia do Quadrinho Nacional deve servir para a reflexão sobre o mercado brasileiro. "Embora o País seja pioneiro no setor, nossa produção sempre foi insipiente, devido a uma série de questões de mercado", critica o estudioso.

"Desde a revista ´O Tico-Tico´, lançada em 1905, privilegia-se a publicação de material estrangeiro em vez de nacional", ressalta Gonçalo. Embora reunisse importantes desenhistas e cartunistas brasileiros da época, além de criações tupiniquins - como os famosos personagens Réco-Réco, Bolão e Azeitona (do cearense Luiz Sá) - a ´Tico-Tico´ também introduziu no Brasil a produção de HQs norte-americanas. O personagem Mickey Mouse, de Walt Disney, por exemplo, foi publicado com exclusividade a partir de 1930, com o título "As aventuras do Ratinho Curioso".

"Em março de 1934 foi lançado o Suplemento Juvenil, de Adolfo Aizen, que trouxe para o Brasil os heróis americanos. Desde então tem sido assim, o mercado nacional dominado por produção estrangeira. E durante muito tempo artistas daqui encontraram nessa dominação desculpa para justificar a incompetência em criar algo competitivo", alfineta Gonçalo, autor de "A Guerra dos Gibis".

"Por isso, o dia do quadrinho nacional deveria servir para a reflexão sobre as deficiências e limitações do nosso mercado. Temos história de um século de produção e quase nada relevante. Talvez alguns autores marcantes, mas não obras", complementa o pesquisador.

Apesar disso, Gonçalo não deixa de destacar nomes importantes nessa trajetória, além de novos talentos brasileiros revelados na última década do século XX - segundo ele, principalmente graças a revolução digital, que tornou a impressão de livros muito mais barata.

"Além de nomes como Adolfo Aizen, temos Angeli, Laerte e Glauco, que modernizaram o humor nos anos 80; temos o Henfil e seus quadrinhos altamente politizados e militantes. Dos contemporâneos destaco Marcelo Quintanilha, Marcatti, Allan Sieber, Rafael Coutinho, Nestablo Ramos, Gustavo Duarte e o garoto João Montanaro".

Para Gonçalo Junior, esses nomes são exceções em um universo marcado por estrelismo e pilantragem. "Tem muito editor pilantra e gente fazendo histórias em quadrinhos pra virar celebridade. Falta visão profissional no mercado", opina.
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Confiram como foi a programação
9h - Abertura do evento

9h - Gibiarte- Produção de quadrinhos, tiras, cartuns e ilustrações com o tema Arte e Invenção

12h - Lançamento Oigo - Diego José

12h30 - Lançamento Zinóia - Alunos Estúdio Daniel Brandão

14h - Mini-oficina: Como elaborar de testes para o mercado americano

15h - Debate: O método de trabalho e a emoção de trabalhar com quadrinhos

17h - Encerramento

Por ADRIANA MARTINS - Diário do Nordeste 

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