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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Histórias em Quadrinhos & Educação

Por Marca de Fantasia

Histórias em Quadrinhos e Educação: formação e prática docente
Elydio dos Santos Neto & Marta Regina Paulo da Silva (orgs.)
São Bernardo do Campo, SP: Umesp, 2011, 152p. 16cmx23cm. ISBN 978-85-7814-178-3
R$33,00
Posso dizer que durante minha vida inteira me interessei pelas histórias em quadrinhos. Primeiramente, como leitor e colecionador, eu as elegi o meu espaço preferencial de lazer e divagação, perdendo-me em suas narrativas, personagens, desenhos e balões, num (felizmente, ainda infindo) percurso pelo mundo da leitura, que jamais me decepcionou. Depois, atuando como professor e pesquisador, eu tive o privilégio de me aprofundar nos meandros da Nona Arte, passando a conhecer melhor suas características e conseguindo dar sentido a tudo o que sempre me atraiu e fascinou nos quadrinhos.
Com o tempo, por meio dessas duas e não-excludentes abordagens, consegui compreender que as histórias em quadrinhos possuem uma forma muito particular de narrar um fato, seja ele um relato fictício ou um acontecimento real, que não é emulada por qualquer outra forma narrativa. A relação entre o código escrito e o imagético existente nos produtos da linguagem gráfica sequencial permite uma fruição única de leitura, uma forma de apreensão da mensagem que é apenas deles e de nenhuma outra forma de comunicação. Em minha opinião, nessa forma especial de relacionamento dos leitores com os quadrinhos está a explicação maior do sucesso e permanência dessa linguagem como uma das mais populares do mundo da comunicação de massa.
Entre outras coisas, meu interesse acadêmico pelas histórias em quadrinhos também me levou a considerar sua utilização em diversas áreas do conhecimento, especialmente a da educação. Nesse sentido, tive a oportunidade não apenas de refletir sobre formas de aplicação do meio em ambiente didático, como, também, de conhecer profissionais que em seu dia-a-dia utilizam os quadrinhos em suas lides educativas, atingindo resultados muitas vezes surpreendentes. E confesso que sempre fiquei um pouco insatisfeito, por ver que muitas vezes essas iniciativas têm impacto muito limitado, ficando restritas a algumas classes e a um número não muito expressivo de estudantes. Isso absolutamente não diminui a importância delas, é claro. No entanto, cada vez mais eu me convenço de que essas experiências precisam chegar a um público mais amplo, não apenas para que deixem de se perder no anonimato das intervenções bem intencionadas e tenham seus méritos reconhecidos, mas, mais que isso, para que seus benefícios possam ser socializados e replicados. A educação brasileira precisa disso.
O livro Histórias em Quadrinhos & Educação: formação e prática docente, organizado pelos professores Elydio dos Santos Neto e Marta Regina Paulo da Silva, representa uma resposta às minhas inquietações. Mas vai ainda mais longe. Não apenas descreve e discute algumas práticas de intervenção na educação pela aplicação e uso de histórias em quadrinhos nesse ambiente formal, mas também propõe várias reflexões sobre o próprio meio e apresenta sugestões que podem ser seguidas pelos educadores em suas atividades.
A obra conta com vários elementos que a fazem distinguir-se entre aquelas já produzidas com o objetivo de ampliar o uso dos quadrinhos na educação. Menciono apenas dois. Por um lado, a experiência dos organizadores na área de formação de professores representa uma garantia de aprofundamento teórico e consistência metodológica. Por outro, a presença, no grupo de colaboradores, de autores que aliam a experiência didática (em diversos níveis de ensino) à prática de elaboração de histórias em quadrinhos possibilita uma dimensão empírica poucas vezes atingida em obras dessa natureza. Desta forma, com um enfoque ao mesmo tempo teórico e prático, o alcance do livro amplia-se consideravelmente, possibilitando benefícios muito maiores a todos os interessados. O resultado final é um conjunto de textos que se complementam de forma harmônica e linear, proporcionando uma leitura agradável e fluida. Não tenho dúvidas de que muitos leitores deste livro, principalmente aqueles envolvidos diretamente em atividades formais de ensino, chegarão a suas páginas finais com muitas idéias novas sobre como e por que aplicar os quadrinhos na educação. Acredito até que alguns, mais afoitos, talvez lendo a obra de forma aleatória - e esse é um dos direitos inalienáveis dos leitores, como já dizia Daniel Pennac... -, nem cheguem a terminar a obra: entusiasmados, irão colocá-lo de lado e se engajar imediatamente em projetos com quadrinhos, fazendo emergir suas antigas paixões, ao mesmo tempo em que despertando novas em seus pupilos.
Sou um otimista nato, eu sei. Mas, neste caso, não me guio apenas pelo otimismo ao afirmar que grandes idéias poderão surgir da leitura deste livro. Parece-me que tenho motivos justificados para isso. Conheço a competência de autores e organizadores. Acredito no potencial das histórias em quadrinhos como elemento auxiliar do processo educativo. Sei o quanto a educação brasileira necessita de instrumentais diferenciados, que possam revolver as águas barrentas em que ela vem se chafurdando há décadas. Só temos a ganhar.
Por outro lado, meu lado realista não me permite dizer que os problemas da educação brasileira serão resolvidos com a inserção das histórias em quadrinhos na prática docente, por mais que obras bem fundamentadas e elaboradas - como é o caso de Histórias em Quadrinhos & Educação: formação e prática docente -, estejam ao alcance dos educadores. Sou otimista, sim. Não ingênuo. Mas, como diria Paulo Freire, o caminho se faz caminhando. Desta maneira, no papel de alguém que aprecia as histórias em quadrinhos, eu só posso aplaudir e parabenizar os colegas que, com tal obra, desbravam novas veredas e endireitam antigas no diálogo educação/quadrinhos. Com isso, irão aproximar novos leitores dos quadrinhos e tornarão mais críticos aqueles que com eles já estão familiarizados. E digo mais, ainda: até mesmo sem o saber – e espero que os amantes do seriado Jornada nas Estrelas me perdoem o infame trocadilho -, corajosamente indo onde educador algum jamais esteve...
Waldomiro Vergueiro 
Prof. Dr. da Escola de Comunicação e Artes da USP

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