Por Marcus Ramone - UHQ
Desde os primeiros anos da década passada, Maceió/AL vinha sofrendo com o alarmante aumento do índice de criminalidade a patamares jamais registrados em sua história mais recente.
Assassinatos, sequestros e outros crimes com diversos níveis de gravidade tomando conta da cidade, antes considerada uma das capitais mais tranquilas do Brasil.
Para deter esse avanço, nada mais indicado do que a aplicação de medidas extremas e pouco ortodoxas.
E foi exatamente isso que o então governador Teotônio Vilela Filho fez, em 2008, ao convocar o colombiano Antanas Mockus, um “super-herói” cuja missão era livrar Maceió do jugo da violência urbana e combater o crime em Alagoas.
Em 2003, Mockus encerrou seu segundo e último mandato de prefeito de Bogotá. Nesse período, com a implementação de inovadoras ações preventivas e corretivas, ele foi responsável pela redução da violência na capital da Colômbia, que nos anos 1990 transformou a cidade em um campo de batalha no qual os vencedores costumavam ser os criminosos.
Os métodos de Mockus viraram exemplos internacionais. O trinômio paz, segurança e desenvolvimento baseava sua linha de ação, cujo alicerce era a mobilização da sociedade numa espécie de autorregulamentação.
Assim, por meio de mudança de hábitos, referência dos valores morais e conscientização da cidadania com o apoio de ferramentas como arte, esporte, cultura e lazer, as taxas de homicídios e de outros crimes foram reduzidas em Bogotá a até menos da metade do que se registrava antes da chegada de Mockus à prefeitura.
Dentre as diversas ações implantadas estavam o treinamento de milhares de líderes comunitários em mediação de conflitos; utilização de mímicos para mostrar aos motoristas, in loco, as infrações que eles houvessem praticado no trânsito; lei seca; e a distribuição de “cartões cidadãos”, na cor vermelha, com os quais a população se expressaria quando presenciasse algum ato nocivo à sociedade, como faria um árbitro de futebol em uma jogada violenta.
Mas não foram apenas esses resultados excepcionais que fizeram o ex-prefeito ser comparado a um super-herói. Mockus criou para si um personagem do qual se fantasiava em muitas de suas aparições performáticas em público.
Sem medo de se passar por ridículo, o homem no uniforme colorido angariou simpatia, respeito e, principalmente, credibilidade para implantar suas vitoriosas estratégias onde quer que necessitem de um “super-herói”, por mais clichê de história em quadrinhos que isso possa parecer.
Nesse raciocínio, alguns leitores de HQs poderiam comparar Mockus a Mitchell Hundred, personagem da série Ex-Machina, que fez o caminho inverso do colombiano ao deixar a vida de super-herói e se tornar prefeito de Nova York, nos Estados Unidos.
Entretanto, a aventura de Antanas Mockus é um dos raros casos em que o final mais feliz não aconteceu na ficção.
Em 2009, ele retornou a Maceió para uma nova rodada do projeto de implementação das medidas contra a violência em Maceió. Infelizmente, por motivos que envolveram política partidária e outros elementos afins, as ideias de Mockus não vingaram – sequer chegaram a ser postas em prática – e a capital alagoana continua sendo uma das mais violentas do mundo, chegando ao ponto de, em 2015, ter sido considerada a mais perigosa do Brasil, de acordo com relatório da City Mayors, fundação britânica dedicada a estudos sobre temas urbanos .
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