[Resenha] Carcará, Cabra pió num há
Carcará, Cabra pió num há (2010) é uma revista em quadrinhos composta pelas historias a Peleja de djabo com o satanás e O dia em que o Saci virou perneta, ambas retratadas como causos bastante fantasiosos pela arte e roteiro de Beto Potyguara.
A primeira, conta o confronto entre os cangaceiros Lampião e Carcará ou, como o próprio texto proclama: “o djabo pernambucano” e o “satanás potiguar”. Na história, Lampião passava pelo Seridó com seu bando quando é abordado por Carcará, dando inicio à batalha. A notícia “do cacete do século” se espalha e chama atenção “de gente honesta a vigarista” que se amontoa para acompanhar a peleja “que o capeta no inferno quis evitá”. O segundo conto narra a desavença do protagonista com o Saci que, “Perdeu a noção do perigo” e “atiçou o fio do cão” e, como o título antecipa, deixou sequelas para a figura folclórica.
Escrito em versos rimados que se assemelham a um conteúdo extraído de folhetos de cordel, o texto concede à narrativa um caráter poético e um ritmo melódico. Utiliza-se ainda de expressões e sotaques típicos do linguajar nordestino, o que ajuda a conferir uma maior verossimilhança ao roteiro.
De inicio, a revista chama atenção, pelo formato, mas o principal mérito visual da publicação consiste em sua arte. Com o intuito de simular a arte da xilogravura, as cenas são representadas, em sua maioria, como quadros estáticos, sem a ilusão de movimento e linhas cinéticas comuns aos quadrinhos tradicionais. No entanto, os quadros são elaborados com admirável esmero, se beneficiando da aplicação de texturas que ajudam a criar o clima e ambientação de cada cena, além de prover contraste e profundidade em relação aos personagens bidimensionais que atuam em primeiro plano.
Carcará, Cabra pió num há é uma das inúmeras publicações em quadrinhos que tratam da temática do cangaço, ainda assim, consegue se destacar por adotar uma abordagem nova, tanto em termos de estética visual como textual. Ainda que reverente a elementos da tradição, cultura e arte regional, Potyguara consegue compor uma das mais inovadoras obras da cena de quadrinhos potiguar e que merece atenção.
Fonte: ONOMATOPEIA
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