Por Henrique Magalhães - Marca de Fantasia
O editor e a editora. Foto de JJ. Domingos
No início de 2016, como de praxe, voltamos nosso olhar para a produção do ano anterior para fazer um balanço das atividades editoriais da Marca de Fantasia. Constatamos o avanço da edição digital sobre a impressa, embora esta seja - ainda - imprescindível. De fato, há certa resistência dos autores em perder completamente o contato físico com o livro, e isso tem sua justificativa. Como as publicações acadêmicas são a maioria de nossa produção editorial, os autores são grandes parceiros não só pela cessão de seus trabalhos, em geral resultantes de pesquisas realizadas em programas de pós-graduação, como também são os maiores difusores de suas obras, apresentando-as nos eventos do meio. É aceitável, portanto, que mais que a divulgação da obra digital, a concretude do livro impresso impressiona e proporciona mais interesse do público.
A melhor estratégia é produzir duas versões de cada livro, uma impressa e outra digital, não necessariamente de forma simultânea. Há casos em que o livro sai primeiramente no formato impresso e só mais tarde, quando já teve uma boa circulação, é lançada a edição digital. Há também a simultaneidade, sendo produzidas as duas versões; e há os livros que têm apenas a versão digital, em geral os que se originam de textos mais longos, que seriam inviáveis de ser impressos pelos nosso processo artesanal de produção. Há, também, os que, por opção do próprio autor, têm apenas a versão digital, abrindo mão da edição impressa. Essa talvez seja uma tendência a se confirmar, ainda que não signifique a extinção da edição impressa.
O trânsito entre edição impressa e digital tem sido mais evidente nos livros textuais, mas não tanto nos álbuns e revistas em quadrinhos. Contudo, começa a haver um movimento nessa direção nas grandes editoras - que já lançam revistas apenas no formato digital - e também na Marca de Fantasia. Uma boa amostra é a edição 26 do fanzine Top! Top!, lançado lá em 2010, que teve edição impressa e digital. Os álbuns Maria: quarentona, mas com tudo em cima, de minha autoria, e Marginal, de Shiko, também sairam em duas versões; já o álbum Primas, de Alberto Pessoa, saiu primeiramente em versão digital em 2015 e só em 2016 terá a versão impressa, invertendo a lógica de produção atual.
Entressafra, parceria com a Café Espacial e Maria, pela editora Polvo
Em 2015 a Marca de Fantasia voltou a ter uma grande quantidade - para nosso padrão editorial independente e artesanal - de edições com ênfase nos livros teóricos, mas também com uma boa apresentação de álbuns e revistas em quadrinhos. Dos álbuns tivemos a 3ed. de Marginal, de Shiko, em formato digital; foi produzido Entressafra, de Eder Rodrigues e Allan Ledo, sendo o segundo título da série "Café Espacial apresenta", que é uma parceria entre a editora e a revista Café Espacial, de Sérgio Chaves, contudo a publicação só sairá no início de 2016. Lançou-se Primas, de Alberto Pessoa; Maria: quarentona, mas com tudo em cima, de Magalhães, em duas versões; e Seu nome próprio... Maria! Seu apelido, Lisboa!, álbum da personagem Maria numa parceria entre a Marca de Fantasia e a editora portuguesa Polvo, de Rui Brito.
Os álbuns digitais, vale lembrar, têm sido editados dentro de uma nova perspectiva de mercado, com a criação de empresas de difusão através de streaming. Temos contratos com a Cosmic, que têm veiculado as edições de Primas, Maria: quarentona, mas com tudo em cima, e Marginal. Este promete ser um excelente meio de veiculação das obras, que eventualmente poderá levar o público à edição impressa.
Álbuns em edição digital
A produção de revistas manteve os títulos do catálogo, com mais uma edição de Artlectos e Pós-humanos, de Edgar Franco; Maria Magazine, de Henrique Magalhães; duas edições da revistaimaginário!, do Grupo de Pesquisa em História em Quadrinhos da UFPB. Saiu também mais uma edição da série Corisco, de quadrinhos experimentais: O diário de Virgínia, de Cátia Ana.
Revistas como expressão pessoal e veículo de estudos
Dos livros tivemos, pela série Veredas, Do armário ao altar: a constituição do sujeito homoafetivo no discurso midiático, de JJ Domingos; Mimesis & simulação: estudos narrativos transmídia - 1, de Marcelo Bolshaw Gomes; Diacronia: ensaio de comunicação, cultura e ficção científica, organizado por João Matias de Oliveira Neto e Wander Shirukaya; A cultura underground nas páginas do jornalismo cultural, de Andréa Karinne Albuquerque Maio; Discurso, poder e subjetivação: uma discussão foucaultiana, 3ed, de JJ Domingos.
Pela série Quiosque lançou-se Humor em pílulas: a força criativa das tiras brasileiras, 2ed., de Henrique Magalhães; Heróis da resistência: uma história dos quadrinhos paraibanos (1963-1991), de Regina Behar e Waldomiro Vergueiro; O inventor do fanzine: um perfil de Edson Rontani, de Gonçalo Junior; Fanzine como obra de arte: da subversão ao caos, de William de Lima Busanello;Falas & Balões: a transformação do texto nas Histórias em Quadrinhos, 3ed., de Marcos Nicolau;Como escrever quadrinhos, de Gian Danton; Tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim: crônicas sobre quadrinhos na atualidade, de Guilherme Smee.
Saíram pela série Periscópio Olhares Múltiplos, organizado por Derval Golzio; Imaginários sobre a língua nas narrativas jornalísticas da revista Veja, de Bruno Ribeiro Nascimento; Televisão universitária e redes sociais: proposta de programa para a TV UFPB, de Karla Rossana Francelino Ribeiro Noronha. Pela série Quadrinhos poético-filosóficos foi editado Processos criativos de quadrinhos Poético-filosóficos: a revista Artlectos e Pós-humanos, de Edgar Franco e Danielle Barros; e pela série Socialidades saíram Corpo e Saúde: ensaios socioantropológicos. Volume I: Sobre Corpo; e Corpo e Saúde: ensaios socioantropológicos. Volume II: Sobre Saúde; ambos organizados por Ednalva Maciel Neves e Eduardo Sérgio Soares Sousa.
Alguns livros da temporada, sobre fanzines, quadrinhos e gênero
A totalidade de lançamentos da Marca de Fantasia em 2015 foi de 29 publicações, chegando a mais de dois títulos por mês. Isso está muito acima de nossa meta, que é lançar no máximo 18 títulos por ano, mas sofremos a pressão da enorme quantidade de textos e quadrinhos que nos chegam para publicação, a grande maioria de qualidade inquestionável e oferta irrecusável. Essa sobrecarga nos leva a um dilema sobre a nossa capacidade produtiva. Não é possível manter esse ritmo e não podemos deixar de editar as preciosidades que recebemos generosamente dos autores. Um novo plano estratégico tem que ser traçado, provavelmente nos dobrando as nossas limitações, mas produzindo com mais profissionalismo o que vier a ser editado.
Além das publicações, a editora foi evidência em alguns eventos de quadrinhos realizados no país e em Portugal. Em agosto participamos do Quadrinhos intuados, encontro regional de editores de quadrinhos organizado pela Fundação Espaço Cultural, em João Pessoa. Na ocasião reinaugurou-se a Gibiteca Henfil, retomando suas atividades nesse centro cultural. Também em agosto lançamos oito publicações nas Jornadas Internacionais de HQ da USP, o principal evento acadêmico com foco nos estudos sobre quadrinhos. Em setembro fizemos palestra e lançamento de publicações noEnQuadrinhos, seminário sobre o tema na Universidade de Brasília. Em outubro participamos doFestival Internacional de Banda Desenhada de Amadora, Portugal, com o lançamento do álbum com a personagem Maria. Finalmente, em novembro, fizemos a palestra de abertura do 3o Encontro de Estudos sobre Quadrinhos na UFRPE, em Recife, realizado por Amaro Braga e Bruno Alves na Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Janeiro de 2016
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