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Nessa quinta-feira, dia 30 de março de 2017, às 19h, na Livraria da Vila, em São Paulo, a Sesi-SP Editora vai lançar a primeira publicação brasileira de Monsieur Jabot, do suíço Rodolphe Topffer.
(Na verdade, seria a segunda publicação, porque o livro Imageria do Rogério de Campos, publicado em 2015, apresentava a história na íntegra, mas, sei lá, deve ter alguma especificidade aí pra reivindicação do título de “primeira” que eu não entendo).
Enfim, Monsieur Jabot foi publicado em 1833 na Suíça e é considerado por muitos a “primeira história em quadrinhos”. Não vou entrar no mérito da questão, mas o lance é que Jabot apresenta uma narrativa na qual a sequência de imagens tem um papel muito forte, há transições de quadros e ritmos que lembram muito os quadrinhos de hoje. Só não tem o uso de balões, mas tem a “virada de páginas”.
Já aqui no Brasil, a galera atribui a Angelo Agostini a publicação da primeira história em quadrinhos, com seu As Aventuras de Nhô Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte, publicado na revista Vida Fluminense, de 30 de janeiro de 1869 (daí a comemoração do Dia do Quadrinho Nacional).
Na real, antes de Nhô Quim, o próprio Agostini já tinha publicado umas histórias em quadrinhos curtas e antes de Agostini, (de novo, de acordo com o Imageria do Rogério), o artista francês radicado no Brasil Sébastien Auguste Sisson publicou O Namoro, Quadros ao Vivo por S… o Cio, em 1855.
Esse lance de “primeiro” é sempre muito discutível, ainda mais nos quadrinhos. Mas o certo é que esses dias me surpreendi lendo As Aventuras de Zé Caipora, uma série que Agostini começou a publicar na Revista Ilustrada, a partir de 27 de janeiro de 1883.
Zé Caipora começa mostrando as trapalhadas do protagonista José Corimba. O apelido “Caipora” vem por causa de seu azar. No começo, assim como Jabot, a história se baseia no humor pastelão do sujeito que frequenta festas e rodas da elite, tropeçando nas próprias pernas e sendo alvo de situações constrangedoras aleatórias. Muito parecido com o tipo de humor em Um convidado bem trapalhão (The Party), com Peter Selers.
Mas o legal com Zé Caipora é que a história vai mudando. O humor vira aventura quando Zé deixa a cidade pra trás e se embrenha no mato. A série Zé Caipora era publicada esporadicamente, sem periodicidade definida. Ela seguia o formato das novelas de folhetim e foi interrompida em 1906, no 75º capítulo.
Em muitos aspectos, o Zé Caipora antecipa os quadrinhos de aventura seriados e também apresenta um ritmo de narrativa muito semelhante aos quadrinhos que conhecemos.
O mais legal disso tudo é que na Biblioteca do Senado você pode baixar gratuitamente um PDF do livro coletando as histórias completas de Nhô Quim e Zé Caipora e conferir como eram os quadrinhos brasileiros do século XIX. Acompanham textos de contextualização histórica para as duas HQs e, melhor de tudo, um prefácio do José Sarney que você não pode deixar de ler.
Brincadeiras à parte, apesar de alguns problemas de edição por causa dos ajustes entre formatos e recuperação dos originais de mais de 130 anos, é um material muito bacana que realmente vale a leitura.
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