Preparamos uma lista enfocando algumas partes da manufatura de criação de uma história em quadrinhos. Claro, é apenas uma base para se entender os fundamentos da criação de roteiros, mas só isso não basta, é preciso frequentar oficinas, praticar, mostrar seu roteiro para a mamãe, a vizinha, o papagaio e o mendigo da esquina.
UMA VISÂO GERAL – Desenhando Quadrinhos, de Scott McCloud
Apesar dessa tradução tosca do título Making Comics (Fazendo Quadrinhos), a edição dá uma visão geral e também um pouco teórica da arte de fazer quadrinhos. Uma das partes mais interessantes que esse livro trata e que McCloud não tratou em seus livros anteriores é a construção de mundo e de personagens e como isso é diferente nos quadrinhos do que na prosa ou em outras mídias. Ah, e já falei que esse livro é todo feito no formato de quadrinhos? Não? Pois é!
Nos anos 2000, a Opera Graphica lançou no Brasil dois volumes desses Guias da DC Comics, um deles era sobre desenhos, por Klaus Janson, e outro era de roteiros, de Denny O’Neil. A edição, como todas da Opera Graphica, era caprichada, luxuosa e carésima. Mas não tardou em aparecerem diversos scans dos dois livros. São relativamente fáceis de se achar na web. O’Neil destrincha o fazer quadrinhos no estilo americano, contando até mesmo como se prepara uma megassaga com diversos autores.
McKee é um dos script doctors mais famosos do mundo, o que ele faz é consertar falhas de roteiros de cinema e aplicar estrutura, estilo e substância neles. O que McKee faz é não apenas ensinar a estrutura dos três atos no cinema, mas mostras como trazer valores para um filme, como quebrar atos em cenas e cenas em beats. Apesar de se tratar de um livro sobre cinema é interessante para o roteirista de quadrinhos ler esse livro, pois ele ensinará como fazer o esqueleto de uma história e como preencher esse esqueleto através de uma espinha dorsal de valores positivos e negativos, buscando entender o que o autor quer passar com sua história.
Sabe aqueles diálogos espetinhos do Brian Michael Bendis? Ele aprendeu tudo com o David Mamet. Embora não seja tão conhecido por nós, brasileiros, Mamet tem vários filmes premiados, mas além disso é um baita roteirista e diretor de teatro. É, fio, pensou que pra escrever quadrinho era só ler tudo do Alan Moore? ¯\_(ツ)_/¯ Assim como não se fazem atores de teatro que não vão ao cinema. Neste livro, Mamet fala sobre a importância do drama e como criar tensão através dos diálogos. Como sabemos, quadrinhos é uma arte que se apoia principalmente nos diálogos. Então nada melhor que flexionar esse músculo.
Esse livro saiu há pouco tempo no Brasil, pela Editora Criativo, mas eu já havia lido ele quando saiu pela Dark Horse Comics. A proposta é muito parecida com o livro Hitchcock/Truffaut, só que com foco nos quadrinhos, embora os dois mestres falem muito sobre cinema, uma mídia que, com certeza, os influenciou bastante. A intenção é comparar o estilo antigo de fazer quadrinhos com o novo. O resultado é uma conversa fluida sobre passado, presente e futuro do “fazer quadrinhos”.
A filha do dramaturgo Nelson Rodrigues nos leva por um passeio através do mundo das séries. Nos conta como funcionam as séries e nos mostra os tipos de série, mas mais que isso ela nos ensina a fazer a engenharia reversa, assistindo e reassistindo as nossas séries favoritas e identificando os mecanismos que nos fazem prender nossa atenção e esperar até o próximo capítulo. Entendemos também os elementos que formam a narrativa seriada em cada tipo de série. O capítulo mais interessante do livros, sem dúvida é o Estratégias Narrativas em Séries Dramáticas, que ensina como sair de um bloqueio, ou dar uma guinada na sua história.
Não espere que Bendis vá lhe ensinar a escrever como ele nesse livro. Os segredos que ele conta aqui são mais práticos do que técnicos. Para começar ele dá uma panorama geral sobre o mercado de quadrinhos americano. Depois, entrevista escritores famosos, em outro capítulo traz a visão dos desenhistas sobre os trabalhos dos roteiristas. Em seguida é a vez dos editores e, por fim, a vez dos agentes literários.
Baseado no famoso livro Exercises in Style, de Raymond Queneau, Madden pegou uma história em quadrinhos original e retrabalhou-a em 99 estilos diferentes, da mesma maneira que seu mestre, Queneau fez com a prosa. O resultado é muito inspirador e pode se tornar uma solução na hora de um aperto de como layoutar uma página ou decupar uma cena da sua história.
O criador de Dragon Ball e Dr. Slump mostra em lições divertidíssimas como desenhar mangá. Desenhar?, você pergunta. Sim, pois para entendermos os mecanismos dos mangás também precisamos saber como eles são feitos. Mangás usam muito mais símbolos e expressões faciais que os comics. Poderia até arriscar a dizer que os mangás são muito mais visuais que os comics. Mangaka ajuda a entender a linguagem dos quadrinhos, mas principalmente dos mangás, que é tão peculiar.
Sabe bonecos de palitinhos? Então, é isso que Brunetti desenha. Mas nãos e engane pela simplicidade, Brunetti sabe explicar a prática na teoria muito bem. Ou seja, ele nos apresenta os elementos básicos de uma história em quadrinhos e explica porque cada um deles é importantes e que papel eles têm no entendimento dos leitores. Ivan Brunetti ensina como enxergar o mundo através dos olhos de um quadrinista.
Para quem curtiu essa postagem e deseja aprender mais sobre roteirizar quadrinhos, gostaria de convidar a acessar esse link e se candidatar uma vaga ao Curso Relâmpago de Roteiro de Quadrinhos, que a Galeria Hipotética está oferecendo em julho, ministrado por esse que vos escreve. Obrigado!
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