Logo na introdução desse segundo título do selo Pagu Comics, Ana Recalde se diz surpresa de descobrir a quantidade imensa de mulheres talentosas que encontrou em sua busca por autoras para o selo. Esse comentário é um tanto quanto peculiar, se você parar pra pensar que “Haole” é o resultado do trabalho de um time e tanto de mulheres.
Diferente de “As Empoderadas”, que tem roteiro e arte de Germana Viana, “Haole” tem o roteiro de Milena Azevedo, arte de Sueli Mendes e Chairim Arraes, cores de Weyne Ribeiro e arte final de Blenda Furtado. Sem contar com a capa de Brendda Lima. Que time, meus amigos e amigas, que time!
“Haole”, que se lê ráuli, é a palavra que define o surfista que não é nativo da praia onde está surfando. Ao longo do quadrinho ainda existem outras expressão do surfe e também do Nordeste, já que a história se passa em Natal, no Rio Grande do Norte. Nada que o glossário da introdução não traduza. Sem pânico! No final, você ainda vai sair falando gíria arretada.
Sinopse
Irene é uma garota negra, que sai da cidade de Tibau para a capital do Estado, fugindo de um passado triste e assustador. Ela é acolhida por Dona Nenzinha, que a faz trabalhar em sua lanchonete. Surfista com receio de pegar onda novamente, aos poucos Irene vai sendo obrigada a encarar seus traumas e essa experiência vai mudar completamente sua vida.
Comentários sem spoilers
Saindo do tom de ação divertida de “As Empoderadas”, “Haoli” traz uma narrativa mais voltada para o drama, seguindo os passos de uma garota atormentada por um passado triste. Irene é uma surfista de outra praia literalmente, mas ela é “haoli” metaforicamente também, porque está nadando em águas completamente desconhecidas pra ela, como o medo de voltar a surfar, a deficiência física recente que precisa aceitar, o coração fechado para não reviver o trauma. Tudo é novo e assustador pra ela.
Numa experiência que me lembrou a toca do coelho de “Alice no País das Maravilhas” (não tem nada a ver, gente, mas me lembrou – ou talvez tenha, sei lá haha), Irene vai ter que enfrentar tudo que evitou até então. Acho que isso define bem o quadrinho como uma descoberta, uma jornada de auto conhecimento. Nada de auto-ajuda, melação e chororô, tá?! É uma garota massa vivendo sua vida e descobrindo como deixar os fantasmas pra trás.
Confesso que não conhecia a arte das meninas e isso foi uma surpresa muito boa. O traço é limpo e em cenas mais aproximadas ganham detalhes bem interessantes. No geral, achei a paleta de cores um tanto fria para o tema, mas às vezes isso também ajuda a deixar claro o clima mais triste das cenas. De qualquer forma, a colorização é muito bonita e cuidadosa também. Esse selo Pagu só arrasa!
A representatividade aqui fica mesmo por conta de Irene, garota negra, potiguar, surfista com deficiência física. Fora ela e Dona Nenzinha, uma idosa de mão firme, não existem outros personagens de grande destaque, pelo menos não nesse primeiro número. A deficiência acaba sendo uma novidade ainda maior nesse universo do quadrinho e provavelmente, esse aspecto deve ser mais explorado. Meu nível de curiosidade já está alto, obrigada.
Agora nos resta aguardar as continuações (por que fazem isso com a gente, quadrinhos?). O selo Pagu Comics, em parceria com o serviço de streaming Social Comics e a Editora Cândido, ainda deve lançar mais 2 histórias novas esse ano. Já estamos prontas, só mandar!
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