Em 2005 Nelson Mandela brincou dizendo que “você sabe que é realmente famoso quando se torna um personagem de história em quadrinhos”. Na ocasião, Mandela completava 87 anos e era homenageado com a primeira edição de uma série em quadrinhos que contava a vida do grande líder sul-africano.
Herói na vida real e nos quadrinhos, Mandela chegou ao fim de seus dias da maneira mais simples possível: morreu em casa, aos 95 anos, na companhia de sua família. Porém, sua morte reacendeu com toda força a popularidade que ele sempre teve como líder mundial, e seu grande papel na luta pela igualdade racial. E é fácil entender toda essa comoção, uma vez que toda a história de “Madiba” parece até roteiro de ficção – que não à toa já rendeu vários livros e filmes.
Porém, mesmo com uma figura tão ilustre como personagem, a representação dos negros nas histórias em quadrinhos ainda tem um bom caminho a percorrer. Em entrevista ao site Global Voice e à RevistaPonto Com, o professor Nobuyoshi Chinen, do Observatório de Quadrinhos da Universidade de São Paulo (USP), falou de sua tese de doutorado sobre a representação afrodescendente nos quadrinhos brasileiros.
Chinen fez um levantamento da presença de negros nas HQs nacionais, publicadas entre 1869 a 2011, e seu estudo encontrou poucos personagens. Quando encontrava, muitas vezes as aparições consistiam em papéis subalternos e/ou estereotipados. Ele inclusive lembrou-se do Jeremias, personagem do Maurício de Sousa, o qual classificou como “terciário” – afinal, nunca o vemos protagonizando grandes histórias (olha a deixa para uma produção especial do Graphic MSP aqui, pessoal!).
O professor admite que recentemente esse quadro vem passando por mudanças significativas, mas acredita que a representatividade negra ainda não é a ideal. Dos atuais autores que levantam a questão racial nos quadrinhos, o professor destacou os trabalhos do cartunista Maurício Pestana e do ilustrador e quadrinista Marcelo D´ Salete.
Da série Mandrake a Luke Cage no Netflix
O primeiro personagem negro de destaque nos quadrinhos norte-americanos foi Lothar, um africano musculoso parceiro de “Mandrake, o mágico”, esse sim o protagonista. A história foi muito bem sucedida, e até ganhou uma série na TV. Porém, o tempo passou e a HQ atualmente é interpretada como uma publicação permeada pelo estereótipo racista. Motivos para explicar isso não faltam, desde a caracterização cômica do personagem até sua fala mais “truncada” e sua história: ele era o príncipe de tribos africanas, mas largou tudo para se tornar um “ajudante” do Mandrake.
O primeiro personagem negro de destaque nos quadrinhos norte-americanos foi Lothar, um africano musculoso parceiro de “Mandrake, o mágico”, esse sim o protagonista. A história foi muito bem sucedida, e até ganhou uma série na TV. Porém, o tempo passou e a HQ atualmente é interpretada como uma publicação permeada pelo estereótipo racista. Motivos para explicar isso não faltam, desde a caracterização cômica do personagem até sua fala mais “truncada” e sua história: ele era o príncipe de tribos africanas, mas largou tudo para se tornar um “ajudante” do Mandrake.
Com o tempo e a mudança de roteirista (de Phil Davis para Fred Frederick, na década de 1960) as histórias ganharam um contorno mais “politicamente correto”, e Lothar ganhou inclusive uma mulher na trama.
Atualmente vários personagens negros nos quadrinhos são bem conhecidos pelo público, e alguns já ganharam sua versão em desenho, como o Lanterna Verde terrestre John Stewart, na “Liga da Justiça”, e por que não citar também o Super-Choque (Static), que eu nem fazia ideia que tinha saído dos quadrinhos.
E se os bons personagens negros já ganharam sua versão nas telonas, como Blade, o Caça-Vampiros, já estava na hora de um super-herói negro ganhar sua própria série. Afinal, Luke Cage (que foi muito bem abordado pelo Marcos Dark aqui no Impulso HQ), foi um dos personagens escolhidos pela Marvel para ganhar uma série própria, após acordo da empresa com o site de streaming Netflix para a produção de cinco séries, que serão exibidas a partir de 2015. Uma evolução e tanto para quem teve que se contentar com Lothar há algumas décadas.
Um pouco sobre a luta de Madiba
Se os negros vêm ganhando mais espaço e representatividade nas produções de HQs, muito disso é por conta da mudança na mentalidade e na cultura que ocorreu no mundo nas últimas décadas. E é impossível não se lembrar de Nelson Mandela, o “Madiba”, quando falamos da luta pela igualdade racial. O tradicional dia de luto seria muito pouco para esta grande figura, que ao invés disso tem recebido diversas homenagens pelo mundo desde a sua morte. E não é para menos.
Se os negros vêm ganhando mais espaço e representatividade nas produções de HQs, muito disso é por conta da mudança na mentalidade e na cultura que ocorreu no mundo nas últimas décadas. E é impossível não se lembrar de Nelson Mandela, o “Madiba”, quando falamos da luta pela igualdade racial. O tradicional dia de luto seria muito pouco para esta grande figura, que ao invés disso tem recebido diversas homenagens pelo mundo desde a sua morte. E não é para menos.
A liderança de Mandela na luta contra a segregação racial no seu país, primeiro de forma pacífica e depois como chefe de guerrilha até ser preso, em 1963, já seriam o suficiente para colocá-lo de vez na história. Mas nem a prisão derrubou a reputação do líder. A sentença que era perpétua durou 27 anos, e quatro anos após ser solto, em 1994, Mandela foi eleito o primeiro presidente negro da África do Sul, nas primeiras eleições multirraciais do país. Isso tudo, claro, um ano depois de ganhar um Prêmio Nobel da Paz, em 1993.
Mandela também protagonizou grandes discursos, como o do dia de sua sentença, e realizou feitos memoráveis. Um dos mais conhecidos rendeu o filme Invictus (2009), com o ator Morgan Freeman como “Madiba”. O filme narra o apoio público que o então presidente Mandela prestou à seleção sul-africana de rúgbi, em 1995, que era formada apenas por jogadores brancos e odiada pela população negra. Com o apoio de Mandela, a população abraçou o time e a seleção foi campeã mundial naquele ano (não é spoiler, é história!).
Se apenas dois parágrafos podem contar tudo isso, imagine o quanto poderíamos escrever sobre este homem. Talvez fossem necessárias muitas edições em HQ…uma ideia, não é? Será que alguém se candidata?
Nenhum comentário:
Postar um comentário