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Shiko e o poema gráfico
Desde o início de sua criação de história em quadrinhos, em meados da década de 1990, Shiko já demonstrava uma sensibilidade pouco comum aos jovens que mal saíam da adolescência. O trabalho de Shiko não se guiava pelo decalque dos super-heróis, os personagens preferidos dessa faixa etária, muito menos pelo mangá, gênero que se expandia no país como uma febre avassaladora.
Ao contrário de seguir o apelo fácil dos quadrinhos de massa, que pululam no mercado editorial, o traço de Shiko já trazia o requinte dos quadrinhos autorais, comumente de origem europeia, mas com um toque de brasilidade ao mesmo tempo universal. Como obra personalizada, o trabalho de Shiko evoluiu gráfica e plasticamente, seja pelas incursões nos grafites de rua, seja pela imersão nas artes plásticas.
Malgrado a força significante de sua arte visual, Shiko esmerou-se desde sempre em buscar um texto reflexivo, não raro inspirado ou baseado na literatura, que deu o escopo necessário à construção de sua obra. Não se espere na obra de Shiko a narrativa obvia e linear dos quadrinhos de aventura; seu texto pode ser considerado como uma narrativa poética, ao mesmo tempo literária e funcional.
Foi exatamente um poema que motivou Shiko a produzir no final de 2013 o álbum O azul indiferente do céu, que lançado por conta própria, mas com o apoio indefectível da loja especializada Comic House e da editora Marca de Fantasia. O trabalho corrobora a força da obra de Shiko, que ganha cada vez mais destaque no país.
A partir de um poema de Jorge Luiz Borges, encontrado com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Colômbia, assassinado em 1987, Shiko constrói uma narrativa que antecede ao fato, numa elaboração ficcional que toma a realidade perversa e violenta da América Latina como lastro, mas sem ceder à linguagem panfletária. Consistente e fluídico em seu desdobrar, Shiko nos oferece um verdadeiro poema gráfico, numa alusão à graphic novel.
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