Por Adneison Severiano, G1 AM, Manaus
Muitas pessoas que utilizam os ônibus do transporte coletivo de Manaus já se depararam com um “super-herói” entre os passageiros. Luciano Almeida Ferreira Neto, de 28 anos, se fantasia de Batman para vender livros e revistas educativas na capital. Com as vendas, ele custeia os estudos preparatórios para concursos públicos. Por onde passa o estudante ainda deixa pelo caminho mensagens e reflexões sobre a vida.
Em 2013, Luciano Neto interrompeu o curso de psicologia que fez por dois anos após ficar desempregado. Sem dinheiro para custear os estudos, Luciano teve a inspiração de vender livros a preços populares ao ver uma jovem comercializando obras em Manaus.
“Eu vi uma moça fazendo esse trabalho e vendendo as revistas educativas no ônibus no horário do almoço. Fiquei impressionado com a habilidade dela de se comunicar com as pessoas e isso me chamou atenção. Perguntei como era esse trabalho e ela explicou. Ela disse onde comprava os livretos e me levou no local onde vendia os materiais”, contou.
Papai Noel
Descaracterizado, as vendas não foram promissoras e Luciano Neto ficou apenas quatro meses comercializando os livretos e revistas. O estudante voltou a ocupar um trabalho formal como operador de máquina em uma fábrica de injeção plástica, mas ficou novamente desempregado em 2016. Ele então passou novamente a vender livretos educativos por apenas R$ 1.
“Pensei em voltar a vender os livros, mas queria uma forma de atrair as pessoas e tive a ideia de me caraterizar com uma fantasia de Papai Noel porque estávamos no Natal. As pessoas gostavam de comprar os materiais, tiravam fotos com Papai Noel e as crianças abraçavam. Vendo os exemplares baratos pois também é uma forma de incentivar as pessoas a buscar conhecimento”, relatou Luciano.
Após o natal e sem dinheiro para comprar indumentárias prontas em lojas, Luciano Neto teve que improvisar uma nova fantasia. Foi fantasiado de Batman que as vendas progrediram e o super-herói passou atrair os clientes.
“Acabou o Natal e precisava de outra fantasia para chamar atenção das pessoas. Como eu estava com pouco recurso tinha que criar uma fantasia de baixo custo. Tive a ideia criar a fantasia do Batman por ser mais acessível. Comprei a máscara no Centro e pedi para uma costureira amiga da família fazer a roupa. O Batman fez mais sucesso e quando eu passo nas ruas as pessoas acenam, tiram fotos, pedem para gravar vídeos para crianças falando para elas comerem”, disse o estudante.
Preparação
Com as vendas das revistas e livretos, Luciano conseguiu recursos para custear o cursinho preparatório online de concursos que custa R$ 590. Percorrendo diariamente ônibus e terminais, o estudante vende até 100 exemplares por dia e tem lucro diário de até R$ 50.
O estudante mora com avó aposentada na comunidade Grande Vitória, na Zona Leste da capital. Mesmo rotina intensa, ele concilia o trabalho informal com os estudos e os primeiros resultados já começaram a surgir.
Luciano Neto se veste de Batman para chamar atenção de passageiros em Manaus (Foto: Suelen Gonçalves/G1 AM)
“Em 2016, eu fui um dos aprovados do concurso da Ufam para auxiliar de administração. Porém, não fiquei entre os classificados. Eram 10 vagas e fiquei em 14º lugar. Eram 800 candidatos para uma vaga a concorrência. No concurso do IBGE de 2016 gabaritei a prova de matemática, acertei todas as questões. Estou esperando para saber se fui aprovado para o cargo de assistente censitário administrativo. Eu comecei estudar para um possível concurso do Tribunal Regional Eleitoral mesmo ainda não tendo edital lançado e estudo para outros concursos à noite, mas quando tem edital aberto estudo também durante o dia. Quero ter um bom cargo e vou fazer concurso até passar. Faço concurso para ter mais qualidade de vida e estabilidade financeira no serviço público”, disse o estudante.
Diariamente, Luciano Neto também leva mensagens motivacionais para pessoas nos ônibus e terminais de Manaus. “Além dos materiais educativos eu levo uma mensagem de motivação para as pessoas, pois motivação tem que ser todo dia para a pessoa se renovar. Eu acredito em sonhos, eu acredito em projetos e ideias. Eu falo com as pessoas e levo elas a refletirem a importância do convívio social entre as pessoas. Abordo assuntos sobre respeito aos mais velhos e gentileza do homem com a mulher. Estamos em uma sociedade que tenta justificar a modernidade para não ser gentis e falo para as pessoas que riqueza não traz felicidade”, afirmou.
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