Lançar quadrinhos no Brasil não é fácil. Por um lado temos um pequeno mercado de livrarias e comic shops, com retorno demorado; e do outro temos as bancas, espalhadas por esse Brasil enorme e com um alto risco para as editoras. Por isso, lançar revistas mensais é um ato de coragem bem grande. Se você reparar bem, só fizeram isso editoras grandes no nosso País ou pequenas que tinham nas mãos um material consagrado, com personagens conhecidos por todos.
Pensa então em uma editora pequena, com poucos lançamentos em banca até hoje, que resolve lançar justamente como revista mensal um ótimo material, mas com uma base pequena de fãs no Brasil? Muita coragem, certo? Pois é justamente isso que a HQMestá fazendo agora, com o chegada de X-O Manowar #1 (HQM Editora, 100 páginas, R$ 9,90). O gibi já deve estar nas bancas de boa parte do País.
Ok, a coragem, por si só, não se mantém sozinha. A aposta vem, claro, pelo bom material produzido pela editora Valiant nos EUA, que não é nenhuma novata nesse mercado. A Valiant Comics foi criada em 1989 por Jim Shooter e Bob Layton, que, ao lado de outros quadrinistas, empregaram a experiência de anos no mercado de quadrinhos para criar personagens totalmente novos. Assim surgiu X-O Manowar, Harbinger, Bloodshot e tantos outros.
Acontece que a Valiant nunca fez cócegas ao sucesso de Marvel e DC, e ainda perdeu mais espaço depois do surgimento da Image. Acabou nas mãos da Acclaim, que pode até ter entendido de games, mas nunca de quadrinhos. Na segunda metade dos anos 2000 a editora passou a ter novos donos, que iniciaram um processo de reestruturação, culminando com um reboot em 2012.
No caso da Valiant, o reboot fazia sentido — não era muito fácil arrumar as besteiras feitas com tantas mudanças no comando. E é esse reboot que chega ao Brasil, na primeira oportunidade que um material da editora é publicado no nosso País.
Na primeira edição da revista X-O Manowar, a HQM reuniu as duas primeiras edições gringas da atual versão do personagem-título, além de Harbinger #1.
X-O Manowar
X-O Manowar é, de longe, o herói mais famoso da Valiant. Criado em 1992 por Jim Shooter, Bob Layton e Jon Hartz (e com uma boa ajuda do Joe Quesada), o alter-ego do herói é Aric da Darcia, um soldado visigodo do século V que lutava contra os romanos quando se mete onde não deveria e é preso por uma raça de alienígenas. Ele passa anos trabalhando como escravo, até que rouba uma armadura inteligente, dando finalmente ao Aric uma forma de escapar.
Por conta da dinâmica das viagens especiais, enquanto para Aric passou apenas alguns anos, na Terra foram 16 séculos. Assim, o herói chega aos tempos atuais e adota o nome de X-O Manowar.
A nova versão do personagem, criada por Robert Venditti e Cary Nord, faz jus à versão original, mas com conceitos novos, principalmente no que se refere à forma como a história é contada. Ou seja, reencontramos Aric como um visigodo enfrentando romanos para defender o próprio povo, mas que acaba caindo nas mãos dos alienígenas.
Na arte, Nord faz um bom trabalho, competente até, mas sem ousadias. O diferencial, mesmo, é o roteiro de Venditti. Dá pra ver a pesquisa do roteirista, preocupado em estabelecer para o leitor como era o mundo em 402 D.C. e em retratar o confronto entre visigodos e romanos com uma exatidão nos movimentos das tropas.
É possível dizer que, de todos os títulos da Valiant, esse deve ser o mais épico, com um guerreiro histórico vivendo fora de seu tempo. Quase como um Ben-Hur de armadura que existe no século XXI.
Harbinger
Este é outra HQ dos tempos clássicos da Valiant. Criado por Jim Shooter e David Lapham, a história da publicação começa com Toyo Harada, o primeiro “precursor” com habilidades mentais, tornando possível, por exemplo, controlar outras pessoas. Ele criar a Fundação Harbinger, que passa a se empenhar em reunir jovens com os mesmos poderes. E é essa fundação que concentra todos os grandes problemas.
A publicação é centrada na formação de uma equipe diferente daquelas que vemos nos quadrinhos. Normalmente cada membro tem um poder diferente, com as habilidades de uns completando a dos outros. No caso, os Harbingers são um grupo de pessoas com os mesmos poderes, mas interesses e vontades completamente diferentes. É uma dinâmica que funciona quando bem trabalhada.
Como no caso de X-O Manowar, Joshua Dysart e Khari Evans respeitaram bastante os conceitos criados no começo dos anos 90, o que também é positivo.
Edição nacional
Um caminho fácil para a HQM ao lançar X-O Manowar era investir em um papel barato e tentar lucrar o máximo possível. Só que é surpreendente botar as mãos na revista. A qualidade do papel é muito boa, algo que não via desde a época que a Abril lançou as primeiras edições de Spawn no Brasil. A impressão também é muito boa, com as cores bem fortes, um benefício do bom papel utilizado. Com 100 páginas assim, o preço de R$ 9,90 é bem justo.
Não é só isso. São duas capas variantes, em um total de três capas diferentes. No final o gibi ainda traz nos extras todas as capas variantes das edições gringas.
Para a segunda edição a HQM promete a estreia de outro personagem na revista, Bloodshot. Há ainda outros personagens da Valiant, que devem aparecer nos próximos meses dentro de uma nova revista mensal.
Pois é, a HQM já deu o primeiro passo corajoso ao lançar o material no Brasil. Agora resta a nós, os leitores, encarar algo novo e dar uma chance para os pouco conhecidos personagens da Valiant. Pelo que deu pra ver nessa primeira edição, não tem como se arrepender…
Via Judão
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