AO MESTRE COM CARINHO
Enchentes, internete lenta para upload, tendinite, lançamento de revista, cuidar do meu filho, fisioterapia, tudo isso adiou a postagem tão aguardada e prometida por nós. Sem mais delongas, conheçam o talento natural e espontâneo de um homem do povo, rude em sua aparência, mas gentil e sábio em suas palavras. Com vocês, Mestre Paulo Pereira, o "pendrive" do cordel (BP):
Lamento de um feto
Emocionante? Imagine que esse senhor de 65 anos (mas que aparenta ter bem mais, devido a jornada dura que teve ao longo de sua vida) em menos de uma hora, deve ter recitado uns dez ou mais cordeis como esses e todos de sua autoria. Segundo ele, certa vez um amigo lhe emprestou uma enciclopédia que continha todas as espécies de aves existentes no planeta (na sua conta, mais de 22 mil), isso o motivou a produzir essa alegre e criativa embolada:
Ainda tem passarinho...
Paulo Pereira teve que abandonar os estudos muito cedo (estudou até o 3º ano) para trabalhar na roça. Passou fome, privações, cicatrizes profundas que carrega em sua face e em suas mãos calejadas. Mas se engana quem pensa que ele faz o tipo coitadinho ou revoltado ao contrário, homem humilde, porém sábio e de uma eloquencia e oralidade de dar inveja a muitos acadêmicos. Mostrou-me com orgulho a sua carteirinha de "cordelista profissional" e afirmar ter cerca de 500 cordeis gravados em sua cabeça (disso não duvido), mas com todo esse talento e versatilidade, este verdadeiro patrimônio vivo da cultura popular deste país, está relegado ao esquecimento e fadado a ter o mesmo destino que seu conterrâneo, Vitalino, que morreu na miséria, assim como a sua esposa (que só passou a receber um salário minímo "doado" pelo poder público, após a comunidade do Auto do Moura se mobilizar e alardar da sua condição crítica de saúde e de qualidade de vida)Rogamos à Deus que Paulo Pereira não seja mais uma dessas vítimas, exploradas em épocas de campanhas e de eventos culturais, geralmente mal pago ou sem nada receber. Que seu talento seja reconhecido ainda em vida e que ele possa ter a alegria de ter diversos cordeis seus publicados (sem ajuda de custeio lançou cerca de três apenas e esgotados) e não se resigne apenas a se orgulhar de ter se apresentado a governadores, a estrangeiros e ter uma matéria lançada na Inglaterra, sem receber um Euro por isso.
Tivemos um grande prazer e orgulho de conhecê-lo e de vê-lo em ação. Um dos espetáculos raros que nós geralmente não encontramos tempo de apreciar ou de valorizar no nosso corre-corre do cotidiano. Paulo Pereira é uma brisa do mar, é um por do sol, é uma lágrima de saudade, é um sorriso de uma criança, é um daqueles momentos ímpares que nos destinguem dos outros animais e que fazem a arte de viver valer tanto a pena. Que Caruaru e Pernambuco descubram a tempo o tesouro vivo que tem em mãos e não deixem pra homenageá-lo ao estilo de Ludugero e Vitalino, pois vocês AINDA TEM UM PASSARINHO...
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