Basta falar em quadrinho paraense e o desenhista Volney Nazareno (acima), 39 anos, desanda a enumerar uma lista de seus conterrâneos. “Tem a Julia Bax, que mora em Berlim e já desenhou para a Marvel Comics; o Mauro Souza, que trabalha no estúdio do Mauricio de Souza. Sabe a Luluzinha Teen? Quem ilustra é o Alexandre Coelho, daqui de Belém. Também tem o Pedro Vale, da Cidade Nova. Lá nos Estados Unidos, ele é conhecido como Peter Vale e já fez a arte final do Superman da DC Comics. Hoje desenha a Mulher Hulk da Marvel, acrescenta.
Também fazem parte desta seleção outros artistas talentosos, mas ainda desconhecidos em sua terra natal. Condição que Volney sente na pele. Apesar da boa repercussão da revista em quadrinhos “Encantarias”, em que atua como produtor e desenhista, com quatro indicações ao prêmio nacional HQ Mix, em 2007, o ilustrador ainda vive a sina de artista independente. Sem patrocínio ou editora, segue publicando seus projetos por conta própria, com a ajuda de editais de fomento.
Liberdade autoral tem seu preço
Mas pelo menos durante essa semana, o assunto ganhou um pouco da atenção merecida. Desde a última segunda-feira, 24, acontece a Semana do Quadrinho Nacional, evento voltado para a divulgação e profissionalização da chamada nona arte. A programação faz parte das comemorações pelo Dia Nacional dos Quadrinhos, celebrado neste domingo, 30 de janeiro.
Em sua segunda edição em Belém, o grande mérito da semana é fazer uma ponte entre fãs e aspirantes com profissionais de renome no mercado. Já passaram pelo evento o artefinalista Ruy José, que trabalha na DC Comics, e o próprio Volney Nazareno. A programação termina hoje com um bate-papo com o desenhista paraense Joe Bennett, que trabalhou para editoras americanas como a Marvel Comics e atualmente mantém contrato com a editora DC.
“A ideia é formar um público local que aprecie, consuma e produza quadrinhos”, afirma Adnilson Gomes, 25, integrante do Grupo Catarse, organizador da Semana do Quadrinho Nacional em parceria com a Biblioteca Pública Arthur Vianna, do Centur.
O coletivo é uma prova viva de que esse tipo de interação direta entre fãs e artistas pode render bons frutos. Formado pelos desenhistas Márcio da Silva, Michael Rocha, Cláudio Adriano, Everton Leão e Elieser França, o grupo surgiu em 2007, após uma oficina de Histórias em Quadrinhos ministrada pelo paraense Miguel Imbiriba. Desde o ano passado o Catarse tem sua própria revista.
A publicação apresenta duas histórias: “A Cidade dos Robôs: Beijo Sintético”, que aborda um mundo reconstruído após a destruição da natureza pelo homem, e “Um Conto Antropofágico”, a história de vingança de um índio ambientada na Amazônia pré-colombiana.
MITOLOGIA
Além da publicação, o Catarse participa de outras revistas independentes, como Quadrinorte e Baião-de-Dois. O grupo também mantém um fanzine eletrônico periódico (catarsequadrinhos.blogspot.com.).
“Optamos por publicar com liberdade autoral. Isso quer dizer que nossos desenhos não precisam se adaptar à estética dos quadrinhos de super-heróis da Marvel ou DC”, defende Adnilson.
O Catarse segue os passos de outro coletivo de desenhistas paraenses, o Estúdio Casa Velha. Volney Nazareno, Julião Cristo, João Silveira, Fernando Carvalho, Aline Coelho, Otoniel Oliveira e Carlos Paul criaram o coletivo em 2004, a partir do lançamento da graphic novel “Belém Imaginária”.
“Nossa intenção é dar uma interpretação contemporânea às lendas amazônicas. Assim como os europeus tomam emprestados elfos e fadas para fazer uma literatura de fantasia, nós nos apropriamos das lendas para fazer nossa própria mitologia”, diz Volney.
Tanto o Catarse quanto o Estúdio Casa Velha apostam no filão autoral na hora de fazer quadrinhos. Um movimento arriscado, como eles mesmos podem dizer. As publicações saíram da gaveta por meio dos editais do Instituto de Artes do Pará (IAP).
“Ser independente é difícil, mas tem as suas vantagens. Desenhamos o que queremos. Assumimos nosso trabalho como arte”, diz Volney Nazareno.
MERCADO
Mas se por um lado o setor independente ainda é restrito, por outro as editorias nacionais são extremamente dependentes do mercado externo. Pelo menos é o que atesta o desenhista Joe Bennett. “Não existe mercado de quadrinhos no Brasil. Não vale mais a pena trabalhar aqui”, diz ele.
Paraense de 43 anos, há 25 ele atua profissionalmente na área. Desde a década de 90, Bené já passou pelas duas maiores editoras de quadrinhos americanas e já desenhou personagens como Homem-Aranha, Vingadores, Conan, Elektra e Hulk.
“Acho que o Brasil dos quadrinhos é igual ao Brasil do futebol. Aparece um cara bom aqui, mas o dinheiro está lá fora. Se eu ganhasse aqui dentro o que eu ganho lá fora, te garanto que só trabalharia no Brasil”, conclui.
Também fazem parte desta seleção outros artistas talentosos, mas ainda desconhecidos em sua terra natal. Condição que Volney sente na pele. Apesar da boa repercussão da revista em quadrinhos “Encantarias”, em que atua como produtor e desenhista, com quatro indicações ao prêmio nacional HQ Mix, em 2007, o ilustrador ainda vive a sina de artista independente. Sem patrocínio ou editora, segue publicando seus projetos por conta própria, com a ajuda de editais de fomento.
Liberdade autoral tem seu preço
Mas pelo menos durante essa semana, o assunto ganhou um pouco da atenção merecida. Desde a última segunda-feira, 24, acontece a Semana do Quadrinho Nacional, evento voltado para a divulgação e profissionalização da chamada nona arte. A programação faz parte das comemorações pelo Dia Nacional dos Quadrinhos, celebrado neste domingo, 30 de janeiro.
Em sua segunda edição em Belém, o grande mérito da semana é fazer uma ponte entre fãs e aspirantes com profissionais de renome no mercado. Já passaram pelo evento o artefinalista Ruy José, que trabalha na DC Comics, e o próprio Volney Nazareno. A programação termina hoje com um bate-papo com o desenhista paraense Joe Bennett, que trabalhou para editoras americanas como a Marvel Comics e atualmente mantém contrato com a editora DC.
“A ideia é formar um público local que aprecie, consuma e produza quadrinhos”, afirma Adnilson Gomes, 25, integrante do Grupo Catarse, organizador da Semana do Quadrinho Nacional em parceria com a Biblioteca Pública Arthur Vianna, do Centur.
O coletivo é uma prova viva de que esse tipo de interação direta entre fãs e artistas pode render bons frutos. Formado pelos desenhistas Márcio da Silva, Michael Rocha, Cláudio Adriano, Everton Leão e Elieser França, o grupo surgiu em 2007, após uma oficina de Histórias em Quadrinhos ministrada pelo paraense Miguel Imbiriba. Desde o ano passado o Catarse tem sua própria revista.
A publicação apresenta duas histórias: “A Cidade dos Robôs: Beijo Sintético”, que aborda um mundo reconstruído após a destruição da natureza pelo homem, e “Um Conto Antropofágico”, a história de vingança de um índio ambientada na Amazônia pré-colombiana.
MITOLOGIA
Além da publicação, o Catarse participa de outras revistas independentes, como Quadrinorte e Baião-de-Dois. O grupo também mantém um fanzine eletrônico periódico (catarsequadrinhos.blogspot.com.).
“Optamos por publicar com liberdade autoral. Isso quer dizer que nossos desenhos não precisam se adaptar à estética dos quadrinhos de super-heróis da Marvel ou DC”, defende Adnilson.
O Catarse segue os passos de outro coletivo de desenhistas paraenses, o Estúdio Casa Velha. Volney Nazareno, Julião Cristo, João Silveira, Fernando Carvalho, Aline Coelho, Otoniel Oliveira e Carlos Paul criaram o coletivo em 2004, a partir do lançamento da graphic novel “Belém Imaginária”.
“Nossa intenção é dar uma interpretação contemporânea às lendas amazônicas. Assim como os europeus tomam emprestados elfos e fadas para fazer uma literatura de fantasia, nós nos apropriamos das lendas para fazer nossa própria mitologia”, diz Volney.
Tanto o Catarse quanto o Estúdio Casa Velha apostam no filão autoral na hora de fazer quadrinhos. Um movimento arriscado, como eles mesmos podem dizer. As publicações saíram da gaveta por meio dos editais do Instituto de Artes do Pará (IAP).
“Ser independente é difícil, mas tem as suas vantagens. Desenhamos o que queremos. Assumimos nosso trabalho como arte”, diz Volney Nazareno.
MERCADO
Mas se por um lado o setor independente ainda é restrito, por outro as editorias nacionais são extremamente dependentes do mercado externo. Pelo menos é o que atesta o desenhista Joe Bennett. “Não existe mercado de quadrinhos no Brasil. Não vale mais a pena trabalhar aqui”, diz ele.
Paraense de 43 anos, há 25 ele atua profissionalmente na área. Desde a década de 90, Bené já passou pelas duas maiores editoras de quadrinhos americanas e já desenhou personagens como Homem-Aranha, Vingadores, Conan, Elektra e Hulk.
“Acho que o Brasil dos quadrinhos é igual ao Brasil do futebol. Aparece um cara bom aqui, mas o dinheiro está lá fora. Se eu ganhasse aqui dentro o que eu ganho lá fora, te garanto que só trabalharia no Brasil”, conclui.
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