Por Omelete
Histórias de quadrinhos de Natal estreladas por super-heróis costumam ser um deleite para os fãs, independente de como eles vejam o feriado. Para alguns, é sobre enfeitar a casa, comprar e receber presentes. Outros, porém, ainda acreditam que esta pode ser a época de mudanças, de realizações e de fazer algo pelas pessoas que precisam, algo que vai totalmente ao encontro das histórias de super-heróis, nas quais indivíduos tentam melhorar o mundo de alguma forma. Destacamos aqui cinco histórias de Natal que transmitem justamente esse espírito.
Uma das mais célebres histórias de Natal estreladas porBatman é Procura-se Papai Noel Vivo ou Morto, que já foi publicada no Brasil nas coletâneas As Várias Faces de Batman e posteriormente em O Melhor de Batman, ambas da Editora Abril. A razão do sucesso da história é a dupla de autores: Dennis O’Neil no texto e Frank Miller na arte. A colaboração entre estes dois gênios da arte seqüencial no personagem que ambos conseguiram reformular e injetar novo fôlego, em momentos distintos, não poderia deixar de resultar interessante, mesmo que em apenas dez páginas. Naturalmente, começa na noite que antecede o Natal, quando nem Batman nem os criminosos param para descansar. Logo na primeira página, é mostrado que o crime continua, e que até a estrela do presépio foi roubada. O herói, contudo, tinha problemas mais prementes com o que se preocupar. Estava investigando criminosos que haviam sido libertados, com a certeza de que estavam tramando algo. Segue a pista de Boomer Katz, que estava trabalhando como papai Noel numa grande loja - com o propósito de assaltá-la com sua quadrilha. O fato é que o meliante acaba tocado pela experiência e pelo carinho das pessoas, recusando-se a seguir com o plano. Naturalmente, seus colegas decidem matá-lo, e num final incrível ele é salvo por Batman, graças à luz da estrela do presépio, que ressurge milagrosamente e desaparece logo depois, sem deixar vestígios.
The Present, um conto curioso reunindo Arqueiro eLanterna Verde - suas versões substitutas, Connor Hawke e Kyle Rayner - foi publicado em DCU Holiday Bash! II. Escrito pela, na época, pouco conhecida Devin K. Grayson e ilustrado por Will Rosado e Sal Buscema, explora muito bem o potencial dos personagens e o talento da roteirista. Grayson, afinal, foi precursora de um quadrinho de super-herói focado nos diálogos e introspecções que alcançaria o ápice comBrian Michael Bendis. Os dois cavaleiros esmeralda novatos estavam fazendo compras num shopping, sendo aquele seu primeiro Natal como membros da Liga da Justiça. Vale lembrar que o controverso Lanterna Verde Kyle Rayner passou pelos Novos Titãs antes, numa fase pouco conhecida no Brasil. Acabam forçados a agir contra um homem que provoca um blecaute e faz uma freira como refém. Sua mulher o havia abandonado e ele não queria viver num mundo sem justiça. Numa jogada de mestre, o Arqueiro Verde consegue derrotá-lo apenas expondo os preceitos do Budismo. E, no final de tudo, a história questiona o significado de dar presentes durante o feriado como uma conseqüência da incapacidade das pessoas exporem seus sentimentos com palavras. Fica difícil alguém acusar falta de conteúdo em histórias simples de super-heróis depois de uma dessas.
Passando para o Universo WildStorm, uma apetitosagraphic novel foi lançada em 2000 com o grupo de heróis adolescentes mais quentes surgidos nas últimas décadas. Gen 13: A Christmas Caper foi escrita e ilustrada por Richard Friend, apresentando versões infantis dos personagens consagrados. O apelo é forte, como já foi comprovado outros personagens, como os X-Babies e os Titãzinhos. Ainda assim, o intento não é narrar uma história para crianças, apenas explorar a turma de Fairchild e Grunge sob um prisma mais ingênuo, perfeito para uma trama natalina, sem exigir conhecimento da cronologia oficial. Após uma rápida introdução em versos, Grunge apresenta um plano para filmar a chegada de papai Noel e protagonizar o maior furo jornalístico de todos os tempos. Paralelamente, os membros do Gen 13 são observados à distância pelos vilões Barão e Condessa, que tinham seus próprios planos. Há boas cenas de ação com uso criativo de poderes dos heróis - destaque para a cena de Grunge tirando meleca do nariz - citações de Martin Scorsese e cultura pop, a paixão adolescente de Queda-Livre, e milagres inusitados. O melhor fica por conta das motivações do vilão, que sempre se esforçou para ser o melhor em tudo, mas nunca ganhou presentes de Natal. O desfecho é emocionante.
Retornando para os velhos tempos da Casa das Idéias, temos a história de Marvel Tem-Up 1, escrita por Roy Thomas e ilustrada por Ross Andru. Trata-se de um encontro entre dois heróis de enorme carisma, o Homem-Aranha e o Tocha Humana, no início de suas carreiras, e no auge da criatividade inocente da Marvel Comics. Na época de Natal, os dois heróis estão bem mais preocupados com suas vidas amorosas problemáticas que com qualquer outra coisa, e aprendem uma lição valiosa.Peter Parker começa numa praia preocupado com as fotos que precisa vender para oClarim Diário, como de costume, e logo se vê às voltas com o Homem-Areia. Decide pedir ajuda ao Quarteto Fantástico, e começa então a famosa parceria com o mais esquentado membro da equipe. Capturados pelo vilão, os dois heróis conseguem escapar trabalhando em equipe. Fechando a história, descobrem que o propósito do vilão era apenas visitar sua mãe, que estava doente, numa tradição familiar anual. A reação do Cabeça de Teia é de tocar o coração de qualquer fã.
O artigo começou com um conto de Batman, e deve terminar com mais uma história do Cavaleiro das Trevas. Brinquedo Favorito foi publicada no Brasil em Batman Anual 5, de 1996, com texto de Mark Millar e desenhos de Steve Yeowell. O roteirista dos Supremos estava tão distante da posição de astro dos quadrinhos que sua história não chamou atenção. Além de tudo, seu nome foi grafado de forma errada nos créditos. Mas falemos sobre a trama. O Homem Morcego começa investigando quadrilhas de ladrões de domicílios, após a mansão Wayne ter sido assaltada e de ele ter abandonado convidados no meio de uma festa. Batman interroga criminosos e dedica-se ao caso com o afinco que lhe é característico. Temos elementos curiosos, como uma quadrilha de adoradores do Coringa, e o dispositivo usado pelo herói para atrair morcegos, visto em Batman: Ano Um, de Frank Miller, bem como em suas aventuras cinematográficas. No final, ao confrontar o ladrão, novamente uma alma boa, porém torturada pelo mundo corrupto, Batman recupera o que tanto almejava: o último brinquedo que ganhou dos pais, antes de serem assassinados.
O que se pode verificar em todos esses contos de Natal é uma variação dos temas clássicos em que o super-herói é uma figura de autoridade poderosa que combate o mal, uma quebra dos padrões que não ocorreria em outra época do ano. Os valores deixam de ser assim tão absolutos, e parece que a época traz não só o melhor de cada ser humano, mas de cada história de super-heróis também. Mesmo em histórias curtas e praticamente esquecidas, temos valores tão significativos como dos grandes clássicos. E talvez o ponto mais válido seja o fato de que elas aproximam vilões e heróis, bem como leitor e criadores. Basta um mínimo de atenção para perceber que um criminoso nas histórias de Natal é tratado de forma mais digna e pode alcançar a redenção, os heróis são dotados de uma compaixão tão grande quanto seus superpoderes, e não se distinguem mais de fãs e roteiristas. Afinal, Devin K. Grayson e Roy Thomas, por exemplo, começaram como fãs, tomaram de assalto a indústria de quadrinhos e não se pode negar que sejam heróis à sua maneira, assumindo um potencial presente em todos nós.
Para todos os omelenautas que acreditam em seus superpoderes e sabem fazer bom uso deles, um Feliz Natal, e que 2007 seja repleto de atos heróicos de fazer inveja a vigilantes uniformizados, mutantes excluídos e qualquer um que salve o mundo regularmente.
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