segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

OS 75 ANOS DA DC COMICS

Por  Farrazine

A editora de quadrinhos mais tradicional do mundo comemora 3 quartos de século. O que você sabe sobre ela?

    O selo “DC 75 anos” nas capas das revistas da editora Panini no Brasil pode ter pego muitos leitores de surpresa. Afinal, não faz três anos, em 2008, a própria Panini comemorou “Os 70 anos da DC”. Como é possível três anos depois a editora já ter 75?
    A mancada foi da editora ítalo-brasileira. Erroneamente, muita gente acredita que a DC tenha começado com a Action Comics nº 01, de junho de 1938. Mas a empresa começou a ser formada de fato no ano de 1934, tendo sua primeira publicação em 1935, data que é considerada oficialmente pela empresa como o nascimento oficial da editora. Assim, agora em 2010 é que se darão as comemorações dos 75 anos, tendo sido anunciada uma mini-série sobre as várias gerações de heróis da editora, uma edição pra falar de cada década, e um encadernado de luxo com as primeiras edições da “More Fun Comics”, a primeira revista da editora.
    A DC é o resultado da fusão de várias empresas, e assim continua até os dias de hoje. A história começa com um major que resolveu editar histórias em quadrinhos, Malcolm Wheeler-Nicholson. Os primeiros gibis começaram a aparecer nos anos 30, como compilações das tiras de quadrinhos publicadas nos jornais. Logo o material de republicação acabou, e Wheeler foi pioneiro na idéia de produzir material inédito para os gibis.
    Para isso ele fundou a National Allied Publications e começou a procurar autores que produzissem histórias em quadrinhos a um preço barato. Como a “nata” dos profissionais já estava bem empregada nos jornais, o que sobrava era gente com projetos rejeitados pelos diários, ou seja, em geral material de baixíssima qualidade.
    A primeira revista da editora seria a “FUN” (Diversão), cuja principal atração eram histórias de humor estreladas por animais e meninos peraltas, que era o gênero que mais fazia sucesso nos jornais da época. Desde o princípio estava claro para o editor que seu público alvo eram as crianças e por muito tempo a linha editorial foi com esse viés.
    Para imprimir a revista, o Major procurou alguém que “fizesse fiado” para ele. Encontrou oportunidade com Harry Donenfeld, que já participara de todo tipo de golpe na juventude, inclusive traficar bebida ilegal, e havia sossegado o facho imprimindo revistas pornográficas e pulp magazines de conteúdo erótico. Donenfeld, que dizem as más línguas também era agiota, aceitou o acordo, e o Major não percebia que futuramente isso seria a causa da sua ruína.
    Além da FUN, outra revista que o Major criou foi a New Comics, também em 1935. Em poucas edições a Fun começou a diversificar seu leque de atrações, e publicar também histórias de detetives, pirataria e aventura. Na edição número 06, começaram a aparecer as histórias do “Doutor Oculto”, um material que o Major comprara de uma dupla de Cleveland, Jerry Siegel e Joe Shuster. Exatamente, você sabe quem eles são...
    O Doutor Oculto era inicialmente um mágico/detetive, mas não foi exatamente um sucesso, embora não fosse rejeitado pelos leitores. Ele foi publicado na revista até 1938 até que seus criadores se vissem ocupados com outra série... Nessa altura, a Fun já se chamava “More Fun Comics”.
    As histórias de detetive estavam fazendo sucesso devido principalmente as pulp-magazines, - revistas de literatura barata - e o Major resolveu criar sua primeira revista temática, com histórias sobre crime, a Detective Comics. No entanto, o esperto Harry Donenfeld, de olhos nas boas vendas da More Fun Comics e da New Comics, disse que só imprimiria “a crédito” a nova revista se eles fizessem uma parceria, ou seja, criassem uma nova editora para editar o gibi.
    Assim nasceu a Detective Comics Inc. Devido aos rolos de Harry na justiça americana, ele colocou como seu testa de ferro o contador e amigo Jack Liebowitz. Liebowitz era uma fera nos números, e através dos anos ia provar ao major que suas revistas estavam dando prejuízo, apesar de estar dando lucro, e que o Superman custava tanto para publicá-lo quanto os milhões que arrecadava para os seus ingênuos criadores.
    Detective Comics começou a ser publicada em dezembro de 1936. Entre suas primeiras atrações estão os detetives Slam Bradley, também criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, e as aventuras de Speed Saunders, de Fred Guardiner (o criador do mago Zatara). A revista também traria a série Spy, de Siegel & Shuster, e o “Vingador Escarlate”, atualmente considerado “o primeiro vigilante mascarado” na atual continuidade do universo DC.
    Por causa das dívidas do Major com a gráfica de Donenfeld, em um ano, ele teve que ceder sua parte para o agiota. Assim, não teve a sorte de ver o que seu novo projeto, a revista Action Comics, se tornaria. O editor Vin Sullivan assumiu a publicação, a mando de Donenfeld e Liebowitz, e entre as várias historietas selecionadas, estava uma que se chamava “Superman”, daquela dupla de Cleveland que tantas séries já faziam para os editores.
    Action Comics 01 deu início a “Era de Ouro dos quadrinhos”. Nunca se vendeu tanto gibi como naquela época. As tiragens eram de milhões de exemplares. Demorou um pouquinho pros editores se tocarem que a causa era o Superman, o primeiro “super-herói”, um sujeito com super-poderes fantásticos que combatia o crime numa roupa espalhafatosa.
    Logo todos os editores queriam o “próximo Superman”. O mais forte candidato apareceu em 1939, no número 27 da Detective Comics: The Bat-Man (com hífen mesmo, que logo cairia em desuso). No mesmo ano apareceu O Sandman, na revista New Comics que passou a se chamar “New Adventures Comics”, que marcava sua transição de histórias de humor para histórias de aventura (principalmente com super-heróis).

   A ALL-AMERICAN COMICS E A SOCIEDADE DA JUSTIÇA

    No oba-oba do Superman, várias novas editoras pipocaram nos Estados Unidos, em busca do dinheiro fácil. Os artistas eram mal-pagos, os gibis baratos vendiam aos milhões, era lucro certo para editores audaciosos e caras-de-pau. Max Gaines pode ser creditado com o inventor da revista em quadrinhos, já que ele tinha tido a idéia, em 1935, de dobrar uma página de jornal em quatro e imprimir em cores, criando assim o formato.
    Sem muita grana, mas com energia ambiciosa, ele não só contratou artistas que pagaria quando o material fosse publicado, como buscou uma gráfica onde pudesse “fazer fiado”, ou seja, a do nosso amigo picareta Harry Donenfeld. Harry topou, com a condição que a nova editora tivesse como sócio o seu amigo Jack Liebowitz, já que na Detective Comics Inc ele era apenas um laranja.
    Max topou e assim nasceu a All American Publications. Pra se ter uma idéia da importância dessa “pequena editora”, em janeiro de 1940 eles lançaram o gibi “Flash Comics”, que além de logicamente trazer a primeira história do “homem mais rápido do mundo”, também apresentou ao mundo super-heróis como o Gavião Negro e Johnny Trovoada.
    Ma a primeira revista da editora foi a All American Comics, que inicialmente tinha como seu carro chefe a popular tira de quadrinhos dos jornais Mutt & Jeff. Mas isso durou pouco. Afinal os super-heróis haviam chegado pra ficar. No número 16, em 1940, apareceu a primeira história do LANTERNA VERDE. E não parou por aí.
    All American Comics, assim como todas as revistas da época, tinha 64 páginas, ou seja, espaço pra muitas histórias em quadrinhos. Assim, a revista também apresentou ao mundo histórias do Átomo, Tornado Vermelho, Doutor Meia-Noite e Sargon, o Feiticeiro.
    Embalados no sucesso, Max Gaines e Liebowitz, criaram a “All Star Comics”, que era uma antologia trazendo personagens tanto da editora All American Comics (Lanterna verde, Flash, Atomo, Gavião Negro), quanto da Detective Inc (Sandman, Homem-Hora, Espectro). A coisa mudou de figura no número 03, quando o editor Sheldon Mayer e o escritor Gardner Fox tiveram a idéia de reunir os personagens num time, a primeira super-equipe das histórias em quadrinhos, a Sociedade da Justiça da América!
    Em 1941 apareceu mais uma revista digna de nota, a Sensational Comics, já que seu carro-chefe era senão a primeira super-heroína dos quadrinhos, pelo menos a mais popular que os gibis já tiveram, a Mulher-Maravilha.
    Assim, a All-American Publications se tornou a segunda maior editora de quadrinhos dos Estados Unidos, ficando atrás apenas da Detective Inc, pois afinal eles eram os donos de Superman e Batman, os maiores sucessos da época. E quem imprimia o material das duas editoras era Harry Donenfeld, que enchia as burras de dinheiro.
    Em 1944, por causa das brigas e constante tensão interna entre o editor Max Gaines e a dupla Harry Donenfeld e Jack Liebowitz, Gaines resolveu enfim ceder e vender sua parte para Harry.
    Com a fusão das duas empresas, Detective Comics Inc e All-American Publications, nascia a National Periodical Publications, nome que a empresa teria por mais de duas décadas.
    A NATIONAL COMICS E A ERA DE PRATA

    No final dos anos 40, os super-heróis perderam a popularidade e as revistas em que eles figuravam foram canceladas ou mudavam de nome, para trazerem novas atrações com histórias de faroeste, ficção científica e suspense.
    A All-American Comics se tornou a “All American Western”, a All-Star Comics se tornou a “All-Star Western” e assim por diante.
    Apenas Superman, Batman e Mulher-Maravilha continuavam sendo publicados durante os anos 50, o que alguns chamam de “Era das trevas” dos quadrinhos, e não sem algum dano. As revistas diminuíram o numero de paginas para poderem continuar a serem vendidas por 10 cents, e passaram de 64 páginas gradualmente para 32 páginas. Algumas também passaram a ser bimestrais, porque não davam conta de se manter mensalmente, já que eram “doses duplas” do mesmo herói. Superman aparecia em Action Comics e Superman, de forma que muitos leitores não se dispunham a comprar duas revistas por mês do mesmo personagem. A solução foi implementar um “rodízio”, com uma saindo a cada mês alternado.
    A maré começou a virar em meados em 1956 quando a National contratou um editor egresso de revistas de ficção científica, que na época já haviam conhecido sua decadência, Jullius Schwartz. O editor trouxe muitos autores dessas publicações que conheciam seu cancelamento para escrever gibis, como Gardner Fox, John Broome, Arnold Drake e Robert Kaningher, entre outros.
    Devido as imposições do código de censura dos quadrinhos, a era dos gibis de terror havia acabado, e não se podia nem ver uma gota de sangue num gibi de faroeste ou de guerra. Talvez isso tenha aberto espaço para os super-heróis voltarem, no que se chamou doravante de “Era de Prata” dos quadrinhos.
    O ponta-pé inicial da Era de Prata foi a revista Showcase, uma “publicação-laboratório”, onde seriam apresentados novos personagens, e conforme a aceitação dos leitores, estes ganhariam suas próprias revistas. No número 04, Schwartz relançou o Flash, mas com novo uniforme, e nova identidade secreta, o detetive da polícia Barry Allen.
    As aventuras voltadas para ficção científica agradaram, e em breve o Flash voltaria a ter revista própria, a partir do número 105, exatamente onde a antiga revista havia parado nos anos 40.
    Além de remodelar antigos personagens, Showcase também apresentou novos, principalmente voltados a ficção científica, como Os Desafiadores do Desconhecido, Ranger do Espaço, Rip Hunter, Demônios do Mar, Homens Metálicos, entre outros de menor sucesso.
    Em 1959 foi a vez do Lanterna Verde ser relançado, agora como o piloto de testes HAL JORDAN, membro de uma polícia intergaláctica chamada “Tropa dos Lanternas Verdes”. Jordan também em breve ganhou sua própria revista, mas a partir do número 01. Outro personagem reinventado na Showcase foi o Átomo, que no Brasil ganhou até novo nome, Elektron.
    Outra publicação criada por Julius foi a Brave and the bold, onde debutaram personagens como o Esquadrão Suicida, Sexteto Secreto, Metamorfo, e a versão da era de prata do Gavião Negro. A revista logo foi remodelada para apresentar “parcerias” entre heróis da editora. A maior das parcerias foi entre os sete personagens da editora: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e os novatos Lanterna verde, Caçador de Marte e Flash. Assim surgiu a Liga da Justiça da América, que em 1960 ganharia seu próprio gibi.
    Durante a década de 60 a Liga foi o gibi mais vendido dos Estados Unidos, até ser suplantado por uma revista de uma pequena editora que viria a se tornar uma grande concorrente, a Marvel Comics, através do Homem-Aranha.
    Mas antes do seu reinado ser ameaçado (e roubado) por Stan Lee & Cia, a National continuou sendo a editora que mais revista vendia nas décadas de 60. O Superman desfrutou uma renovação com a liderança do editor Mort Weisinger. Batman e Mulher-maravilha ganharam séries de TV que aqueceram as vendas de suas revistas. E antigos heróis como Aquaman e Arqueiro Verde voltaram, com abordagens mais humanizadas.
    Mas não foi só eles que tiveram sua chance de retornar. Numa das edições da revista Flash, o personagem da era de ouro, Jay Garrick, encontra sua contraparte da Era de Prata, Barry Allen. Como na Showcase havia sido estabelecido que o Flash original era um gibi de ficção no mundo de Barry Allen, a solução foi dizer que Jay vivia num mundo paralelo.
    E assim todos aqueles personagens da Era de Ouro podiam viver nessa “Terra 2”. Não tardou para que no gibi da Liga da Justiça a antiga Sociedade da Justiça ressurgisse. Com efeito, os encontros entre Liga e Sociedade se tornaram uma atração especial, publicadas durante todo o verão americano.


    A ERA DE BRONZE E O SURGIMENTO DA DC COMICS

    Durante os anos 60, uma pequena editora que publicava gibis de fantasia e ficção cientifica, a Atlas Comics, também começou a publicar super-heróis, animada com o sucesso de vendas da Liga da Justiça e da linha Superman. O principal trunfo era o editor e escritor Stan Lee, que em parceria com os desenhistas Jack Kirby, Steve Ditko, Dick Ayers e Don Heck, apresentaria ao mundo novos super-heróis: Quarteto Fantástico, Hulk, Thor, Homem-Formiga, Homem-Aranha, Homem-De-Ferro, X-Men e Doutor Estranho. Até uma equipe de super-heróis nos moldes da Liga foi criada, os Vingadores.
    Esses gibis vendiam bem, mas apenas nos anos 70 a Marvel se tornou de fato a maior editora dos Estados Unidos. Isso porque a National Periodcs tinha mais publicações. E mesmo nos anos 70 podemos dizer que houve um “equilíbrio” entre as duas editoras, onde a primazia foi disputada pau-a-pau.
    A chamada “Era de bronze” foi conhecida como “o período onde os super-heróis começaram a perder a inocência”. Como sinal dos tempos, o ponta-pé inicial não era mais um gibi da DC, mas sim um da Marvel, a morte de Gwen Stacy na revista do Homem-Aranha. Aquilo era uma espécie de manifesto: ninguém estava a salvo. Até a namorada do herói poderia morrer de forma trágica.
    Sentindo o terreno ceder, o editor Julius Schwartz começou novamente a renovar a editora, contratando novos artistas e pedindo para eles “modernizar” mais uma vez os heróis, principalmente no aspecto humano, o grande truque da concorrência para cativar os leitores.
    Entre os novos talentos estavam dois jovens liberais, Dennis O’Neil e Neal Adams, que começaram a chamar a atenção separadamente, até formarem uma dupla. Juntos eles devolveram ao Batman o tom sinistro e sombrio das suas histórias, e também inseriram a discussão de problemas sociais nas HQs de super-heróis na revista Lanterna Verde/Arqueiro Verde.
    Foi justamente nessa época que a National mudou de nome mais uma vez, e para aquele que é mais conhecido, a DC Comics.
    A mudança aconteceu quando a editora foi comprada pela multinacional de entretenimento, o grupo Time-Life-Warner (eles ainda não se chamava Aol Time Warner, como nos dias de hoje). A fusão garantiu uma bela bolada para Harry Donenfeld, cujo um acidente o afastou definitivamente dos negócios. Já Jack Liebotwitz ganhou um assento na poderosa multinacional, e trabalhou praticamente até os últimos momentos da sua longa vida, aos 100 anos.
    A National assim se tornava a divisão de quadrinhos oficial da Warner, e passaria a publicar gibis dos seus personagens, como a linha Looney Toones por exemplo (a turma do Perna-longa) e Hanna-Barbera (Scooby-Doo, Flinstones, etc). Como a empresa National havia deixado de existir, resolveu se batizar a nova divisão de quadrinhos como DC COMICS, em homenagem ao nome original Detective Comics Inc, já que as revistas da National traziam na capa desde sempre um selo com os dizerem “uma publicação DC”, para que os leitores mais desavisados nos anos 40 que dessem falta pela Detective Comics Inc, vissem que a editora havia apenas mudado de nome.
    O principal impulso que a nova era da “DC Comics” teve foi num maior envolvimento dos seus personagens em outras mídias, como o cinema e a televisão. Um desenho animado chamado “Super-Amigos” reunia os mais populares super-heróis, assim como Batman ganhou nova animação dos estúdios Hanna-Barbera.
    Mas foi o filme SUPERMAN, de 1978, que fez o mais lucrativo personagem da editora (até então) brilhar como nunca.

    CRISE, REFORMULAÇÃO E OUSADIA NOS ANOS 80

    Mesmo o sucesso cinematográfico da franquia do Superman não foi suficiente para conter o cansaço dos seus personagens diante dos modernos e ousados super-heróis da concorrência.
    Na segunda metade dos anos 70, a Marvel conheceu um novo período de renovação, quando Chris Clarement e John Byrne pegaram um obscuro gibi chamado X-Men e o transformaram num sucesso de vendas. Em 1979 outro obscuro gibi, Daredevil (no Brasil, Demolidor) também começou a forçar os limites éticos dos super-heróis e ganhar simpatia dos leitores.
    A grande sacada dessa geração de autores, representada por Claremont, Byrne, Miller, Roger Stern, David Micheline e JM DeMatteis, foi perceber que os leitores de super-heróis estavam crescendo, mas não estavam abandonando os gibis. Se eles tornassem as histórias mais “maduras” poderiam manter essa audiência e ganhar essa respeitabilidade.
    Quem comandou a ascensão da Marvel nos anos 80 foi o editor Jim Shooter, tido por muitos como irascível e ditador, mas a verdade é que Shooter exigia o máximo dos seus criadores, e não tinha pudor de interferir numa história se achasse necessário. Foi dele a decisão de matar a Fênix e de mudar o uniforme do Homem-Aranha.
    Vendo as vendas despencarem, a direção da DC Comics viu que era hora de renovar os seus heróis e fazê-los “mais maduros” também. O ponto de partida seria um evento onde o “antigo universo” era destruído. A história seria uma maxi-série de doze edições, produzida pela dupla mais popular da editora, Marv Wolfman e George Pérez, que faziam o único gibi da DC que concorria em pé de igualdade com os X-Men da Marvel, os Novos Titãs, estrelada por ex-parceiros mirins dos super-heróis da casa.
    O nome da maxi-série foi “Crise nas Infinitas Terras” e ela foi lançada em 1985 de forma a comemorar também os 50 anos da editora. Sem muitos impedimentos editorias, o editor Len Wein e o escritor Marv Wolfman puderam fazer as barbaridades que quisessem na revista, promovendo um verdadeiro “genocídio” de personagens.
    As mortes de super-heróis e super-vilões chamaram a atenção dos leitores que corresponderam as vendas. Mas isso foi apenas o começo. No final da saga, todas as terras paralelas, surgidas naquele gibi do Flash em 1960, se fundiam numa única, de forma a facilitar a continuidade do universo nascente.
    Era um novo universo DC. As histórias do Superman e da Mulher-maravilha foram APAGADAS da cronologia, o que gerou bastante polêmica entre os fãs antigos, que acompanhavam aquelas aventuras há anos. Como as histórias do Batman vendiam melhor, decidiu-se que elas não seriam inteiramente apagadas, mas algumas valeriam pra continuidade, outras não – o que inicialmente também gerou confusão.
    Apesar disso, o relançamento desses heróis através de novas histórias de origem foi um sucesso comercial, e também representou um nascimento de vendas. Afinal a DC Comics resolveu contratar a turma da concorrência para recriar seus personagens.
    JOHN BYRNE, que havia brigado com o editor Jim Shooter, assumiu com alegria as histórias do Superman, onde ficou por três anos. FRANK MILLER já havia trabalhado para a DC Comics produzindo as mini-séries de sucesso RONIN e o Best-Seller O CAVALEIRO DAS TREVAS (onde descrevia um provável futuro do Batman), e era o nome mais lógico para produzir BATMAN: ANO UM. Por fim, GEORGE PÉREZ, já prata da casa, recriou a MULHER-MARAVILHA.
    O Flash foi renovado, mas agora como Wally West, o antigo Kid-Flash, discípulo de Barry Allen. O escritor era Myke Baron, que trabalhava também para a Marvel. E o gibi da Liga da Justiça foi relançado como uma publicação voltada como uma sátira humorística as histórias de super-grupos, sob o comando de Keith Giffen (que era prata da casa) e JM DeMatteis (também egresso da Marvel).
    Os anos 80 começaram a marcar o período em que a DC Comics não era mais a maior editora dos Estados Unidos, mas podia ser considerada a melhor. A presidente Janet Khan, e a editora Karen Berger iniciaram uma era de “liberdade editorial”. Com mais espaço para ousar, autores como ALAN MOORE produziram para a editora clássicos como Monstro do Pântano, V de Vingança e Watchmen para a editora.
    A DC Comics assim começava a ficar com a maioria dos prêmios de excelência dos quadrinhos, embora não abocanhasse as vendas.
    A EXPANSÃO ATRAVÉS DA VERTIGO E WILDSTORM



    Nos anos 90 a presidência passou para o comando de PAUL LEVITZ, um sujeito que começou a trabalhar na empresa nos anos 50, aos 16 anos de idade, escrevendo histórias da Legião dos Super-Heróis. Levitz era um “fanboy”. Um garoto que começou como fã da editora e foi trabalhar nela, característica de muitos autores até então. A importância do fato é que agora era justamente um verdadeiro fã dos personagens que assumia o comando editorial.
    A DC podia perder para a Marvel em vendas, mas jamais perderia em qualidade. Vários gibis já eram publicados sem o “Comics Code”, o código de ética dos quadrinhos, como Arqueiro verde, Homem-Animal, Patrulha do Destino, Questão, Hellblazer, Monstro do Pântano e Sandman. Esses três últimos seriam a base para o selo Vertigo, criado em 1993 para trazer não só material para “leitores adultos”, mas também possibilitar a publicação de material autoral.
    A diferença é que muitos autores que não quisessem criar para editora, poderiam mesmo assim publicar pela DC, através do selo Vertigo. É o caso de séries como Preacher, Transmetropolitan, Invisíveis, 110 Balas, Y O último homem, Fábulas, entre outras menos badaladas. Elas pertencem aos seus criadores, que podem levá-las para outras editoras ao fim do contrato.
    A DC assim entrou solidamente no mercado das “HQs de autor”, ganhando espaço nas livrarias. As HQs da Vertigo também trouxeram credibilidade para a editora, já que sempre foram bastante elogiadas na mídia, desabonando assim um pouco do caráter marginal que os quadrinhos têm nos Estados Unidos.
    Com uma linha de HQs voltadas “para adultos”, a DC procurou expandir em outras direções. A linha infantil foi remodelada, sendo criado o selo “Johnny DC”, que além da linha Looney Tones e Hanna Barbera, também apresenta versões infantis dos superheróis DC, e mais recentemente personagens do Cartoom Network.
    A chegada dos mangás nos EUA não passou desapercebida, e a DC criou o selo CMX, onde traduz e publica em inglês famosos quadrinhos japoneses na terra do Tio Sam. A DC também tentou criar um selo para material europeu, mas sem igual sucesso.
    Uma grande aquisição foi feita em 1999, quando o grupo Warner comprou os estúdios WildStorm, de Jim Lee. A pequena editora então virou um selo da DC Comics, voltados para “superheróis alternativos”, terror e ficção científica.
    Da mesma forma que a Vertigo foi o selo das melhores e maiores séries dos anos 90, pode-se dizer que a WildStorm o fez na primeira década do século XXI, com séries como Authority, Planetary, Desolation Jones, Sllepper , A Liga Extraordinária, Promethea e Ex-Machina. Atualmente vem sendo nesse selo que estão sendo adaptadas séries e filmes de sucesso da Warner, como Supernatural, A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13.
    De olho em novas audiências, a DC criou também nos anos 2000 o selo MINX, voltado para garotas adolescentes, publicando graphic novels com bastante influência do quadrinho independente americano e dos mangás.
    No mesmo espírito está a Zuda Comics, a linha de quadrinhos digitais, que é a ponta de lança da editora para tentar vender quadrinhos nos tempos da internet.
    Nas vésperas de completar 75 anos, a empresa sofreu mais uma mudança de nome em 2009: passou a se chamar DC Entertainment. A Warner decidiu que as operações da editora deveriam se expandir e eles próprios cuidarem das adaptações para a TV e o cinema, visando preservar a fidelidade das mesmas, já que os filmes da Marvel, mais fiéis na maioria ao conceito original, vinham fazendo mais sucesso. A conclusão é que isso acontecia porque o pessoal da Warner não entendia dos personagens da mesma forma que o pessoal da DC faria.
    No entanto, tal decisão foi aliada a contradição de nomearem uma nova presidente para a DC Entertainment, Diane Nelson, que consolidou a franquia Harry Potter no cinema, portanto pouco familiarizada com os quadrinhos. A justificativa é que a DC Entertainment não irá trabalhar tão somente com os quadrinhos, que estão sob o comando do vice-presidente da DC, DAN DIDIO.
    Ainda perdendo em vendas para a Marvel, a editora se destaca pela variedade do seu material, atingindo praticamente todo tipo de público e abordando qualquer gênero: western, guerra, terror, ficção científica, romance, aventura e super-heróis, é claro. Outro motivo de orgulho dos decenautas é a quantidade de prêmios Eisner, Harvey e Eagle que acumula, o que comprova que muitas vezes, vendas não significam qualidade.
    Apesar do centro das atenções ainda estarem nos super-heróis da editora, a DC é muito mais do que pessoas vestindo colantes coloridos. Já no mercado de graphic novels, onde são comercializados os mangás da DC por exemplo, a editora supera as demais, inclusive a Marvel. A medida que o mercado se desloca dos gibis para os livros, existem muitas chances da mais antiga editora de quadrinhos em atividade, passe talvez voltar a ser a maior em vendas.

Texto publicado originalmente no Farrazine #15 que você pode baixar aqui ou ler online aqui

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