Por Milena - GHQ
Desde que eu tinha dez anos de idade, meu fascínio não era especificamente por um super-herói, mas sim pelo personagem central dos livros de Sir Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes. Eu ficava encantada com as histórias do detetive londrino e queria ser igual a ele. Mas, eis que surge na minha vida um outro herói, um herói que vim conhecer primeiro no desenho animado dos Superamigos e depois nos quadrinhos. Era o Batman. Foi amor à primeira vista porque ele era um herói mascarado que resolvia os crimes através da lógica, usando a força quando realmente se fazia necessário.
Quando o SBT passou a transmitir a famosa série cômica dos anos de 1960, na década de 1980, eu fiquei mais encantada ainda. Nessa série, por mais camp e pop que o Batman estivesse, ele tinha um mega laboratório dentro da Batcaverna (além de um batcomputador incrível) e, junto com o Robin, elucidava os casos mais bizarros possíveis, tendo contato direto com o Departamento de Polícia de Gotham City, através do Comissário Gordon e do Chefe O´Hara, o que remeteu mais uma vez a Sherlock Holmes, o qual tinha excelentes conhecimentos sobre química e matinha relações meio que à revelia com a Scotland Yard, através do Inspetor Lestrade.
Para provar que eu não estava imaginando coisas, em Batman # 13, formatinho publicado pela Abril em 1988, aconteceu o primeiro encontro entre Batman e Sherlock Holmes, na história O Livro do Juízo Final, escrita por Mike W. Barr, com arte de Alan Davis.
Definitivamente Batman se consolidava como o meu herói, meu espelho de conduta e caráter. Ele era “na dele”, não gostava de falar muito, era honrado, tinha palavra, era perfeccionista e não estava nem aí para a alta sociedade, aturando-a apenas como Bruce Wayne, pois sabia que ela era a “banda podre” que turvava e corrompia a vida de Gotham.
A dor do Batman doía em mim. Toda a necessidade de ir à luta e fazer justiça com as próprias mãos, visando amenizar um passado traumático, era verossímil. A dor que ele sentiu ao ver os pais de Dick Grayson assassinados no circo, e a impotência de não ter podido ajudar a mudar o destino do menino acrobata, tinha peso. O mínimo que ele podia fazer para aliviar a sua culpa e canalizar a raiva do novo órfão era levá-lo com ele, ensiná-lo, treiná-lo. Tudo fazia sentido. As histórias do Batman não eram escapistas, pelo contrário, elas nos lembravam a todo o instante de que a realidade era cruel, de que havia bandidos que simplesmente matavam por matar, possivelmente drogados demais para se importarem com a vida humana; lembravam que a corrupção na política e na polícia era mais real do que aparentava e que todos usavam máscaras para camuflar o pior de si, enquanto que a máscara do Batman libertava-o; ela não escondia, ela desvelava quem ele era de verdade.
O Batman não era um “super-herói”, não tinha superpoderes e nem tinha vindo de outro planeta ou de uma realidade alternativa. Ele era um homem, uma criança que havia amadurecido rápido demais e que trazia o peito cheio de feridas que não cicatrizavam. Era um doente terminal e lúcido que procurava a sanidade num mundo pirado. Eu o entendia. A cada revista que eu lia, principalmente a reformulação do personagem feita por Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas e a sua origem recontada em Ano Um, mais certeza tinha de que Batman era o herói que eu queria ver pelas ruas, talvez até esbarrar um dia, apertar a mão e dizer: obrigada! Isso bastaria
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