Por Meu Herói
Com o filme do Capitão América nos cinemas – produção muito boa, por sinal, que respeita o personagem e trata com respeito sua mitologia, bem diferente das produções anteriores, feitas em 1979 e 1991 – algumas questões a respeito do personagem ficaram no ar e tem deixado muitas dúvidas na cabeça de quem não acompanha as histórias em quadrinhos.
Uma dessas perguntas é a respeito do Capitão América aparecer no filme empunhando armas de fogo – inclusive há um coldre no seu cinto – e, em determinadas cenas, ele atira, explode as motos do inimigo... um dos principais valores dos super-heróis não é o “não matar”?
Para entender essa questão, é necessário, em primeiro lugar, situar o herói no contexto em que ele foi criado: o Capitão América surgiu em 1941, poucos meses antes dos Estados Unidos entrarem na Segunda Guerra Mundial, após o ataque japonês a Pearl Harbor em 7 de dezembro daquele mesmo ano. Apesar de ainda não ter entrado na guerra, os Estados Unidos já mostravam claramente de que lado estavam, pois a primeira edição da revista mostrava o Capitão dando um soco na cara de ninguém menos que o próprio Hitler.
O personagem, criação de Joe Simon e Jack Kirby, tinha o objetivo de motivar os jovens ao alistamento militar, principalmente naquele período de crise. A revista Captain America Comics 1 foi lançada em dezembro de 1940, mas com data de março do ano seguinte (por isso, a data oficial da criação do herói é considerada como 1941). O herói era a identidade secreta do jovem Steve Rogers, um rapaz frágil e debilitado, mas com um grande desejo de lutar pelo seu país na guerra.
Essa determinação chamou a atenção do Dr. Erskine, cientista que havia desenvolvido um soro experimental que ampliava as habilidades humanas, visando criar um exército de supersoldados para lutar contra o nazismo. Erskine viu em Rogers o candidato ideal e, após este se submeter ao tratamento, adquiriu força e velocidade acima da média, além de um invejável corpo atlético. Tudo isso é mostrado com perfeição no filme.
Uma das perguntas que o Dr. Erskine (Stanley Tucci) faz a Rogers (Chris Evans) é se ele desejaria “matar alguns nazistas”, ao que o jovem responde que não deseja matar ninguém, apenas acabar com a exploração e a injustiça que os nazistas tentavam impor ao mundo. Frase que já demonstrava o espírito heroico e humano do rapaz.
De repente, ele aparece armado até os dentes e detonando os inimigos... teria o soro do supersoldado afetado os sentimentos humanitários de justiça e igualdade do herói americano? Certamente, não. Não podemos esquecer que o Capitão América era, acima de tudo, um soldado: recebeu treinamento militar e, embora sua principal arma seja para defesa (o escudo), o mundo estava em guerra e ele, como símbolo americano, não podia se portar como se estivesse numa batalha de bolas de neve.
O Capitão América sempre fez questão de provar que a melhor de todas as armas é o corpo humano e a inteligência ao lidar com as situações, sempre defendendo os oprimidos e fazendo valer a liberdade. Mas não significa que, em determinadas situações, seja descartada a alternativa de usar armas de fogo. Mesmo nos quadrinhos, ele já tomou atitudes extremas. Em Captain America 254, durante uma batalha com o Barão Sangue, o vampiro nazista, o herói usou o escudo para decepar a cabeça do vilão, já que essa era a única forma de por um fim à ameaça dos mortos-vivos.
Em outra ocasião, na edição 321 da mesma revista, separado de seu escudo, o Capitão é obrigado a usar uma metralhadora e matar um terrorista que tinha atirado nos reféns de um avião seqüestrado. Esse ato teve duras consequências para o herói, que passou muito tempo com crise de consciência, repensando seus valores.
Os tempos modernos também modificaram o espírito do herói. Em 2002, após a tragédia de 11 de Setembro, a Marvel decidiu tornar novamente o Capitão América como um símbolo americano e, nos arcos Guerra ao Terror e Os Extremistas, ele adota uma postura mais agressiva e menos tolerante contra o terrorismo.
A saga Guerra Civil (2007) concluiu de forma trágica, com a morte do Capitão América e, para manter viva aquilo que ele simbolizava, seu parceiro nos tempos da guerra, Bucky, assume a identidade do herói, como novo uniforme e arma de fogo como acessório. Diferente de seu parceiro, Bucky já tinha agido como espião para os russos e não tem qualquer problema em matar o inimigo, se necessário.
Como se vê, embora seja um “tiozão” dos quadrinhos, o Capitão América é um personagem que se adapta às mudanças do tempo. Apesar disso, como todo bom soldado, o Capitão faz questão de resolver os problemas de forma pacífica, pregando valores de paz, justiça e liberdade ao invés de armas e guerras.
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