segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Cinema e Histórias em Quadrinhos




Quadrinhos e cinema. Entretenimento de milhões de pessoas. Mas quantos dos que lêem quadrinhos vão ao cinema freqüentemente? E quantos dos adoradores de cinema guardam uma parte de seu tempo para apreciar uma revista em quadrinhos? Provavelmente são poucos os que têm conhecimento da relação destas duas linguagens e poucos os que acreditariam nas semelhanças existentes entre ambas. Mas entre a grande diferença de uma tela de cinema e uma revista em quadrinhos as semelhanças são muitas.
As histórias em quadrinhos e o cinema são linguagens que surgiram praticamente juntas, no final do século XIX. Tal data nos remete à Revolução Industrial, que propiciou os avanços necessários para esse surgimento.
Com o avanço tecnológico, surge o cinema como finalidade científica, segundo as perspectivas da época. Com o avanço cultural, os quadrinhos tomam seu lugar nos jornais, representando uma evolução que vem do desenho jornalístico, passando pela caricatura, pelo cartoon (desenho acompanhado de texto, geralmente piada), chegando na tira em quadrinhos.
O sucesso das duas linguagens deve-se muito à tal época, pois é nela que observamos o surgimento da cultura de massa. Isso é melhor explicado por Laonte Klawa e Haron Cohen em seu texto Os Quadrinhos e a Comunicação de Massa:

"Principalmente é necessário que a história em quadrinhos seja entendida como um produto típico da cultura de massas, ou especificamente da cultura jornalística. A necessidade de participação e envolvimento catártico motivada pela alienação do indivíduo, a metamorfose da informação em mercadoria, o avanço da ciência, a nova consciência da realidade, enfim, as coordenadas características do estabelecimento da sociedade de consumo criaram as condições para o aparecimento e sucesso do jornal, cinema e quadrinhos."


e também por Moacy Cirne:


"...os quadrinhos e o cinema, surgindo no final do século XIX sob o impacto criador de uma tecnologia em desenvolvimento e de uma problemática sócio-cultural marcada por uma nascente sociedade de massas, apresentam muitos pontos estruturados pelo mesmo denominador comum. Os primeiros, no interior dos jornais; o segundo, fundando seu próprio veículo."


Devido a esse surgimento contemporâneo dos quadrinhos e do cinema, as características de cada um se entrelaçam. Entre elas, podemos citar: iluminação, plônges e contraplônges, enquadramento, profundidade de campo, elipses, entre outras. Existem muitas dúvidas sobre o que teria surgido primeiro em qual das linguagens. Mas é fato que todas existem nas duas narrativas.

Francis Lacassin diz que procedimentos "cinematográficos" como plongê e profundidade de campo já existiam em quadrinhos de 1889, portanto anterior ao cinema. Já Umberto Eco afirma que "no plano do enquadramento os comics sempre estiveram na dependência da linguagem cinematográfica." De qualquer forma, o cinema determinou ideologicamente o emprego dos recursos expressionais nos quadrinhos. Mas o que pode se observar é que as duas linguagens se influenciaram reciprocamente, graças à contemporaneidade de suas criações.
Um importante paralelo sobre os recursos de expressão nos quadrinhos e no cinema é feito por Álvaro de Moya entre O Espírito de Will Eisner e Cidadão Kane de Orson Welles:

"Desenvolvida em 1940, sua obra era, curiosamente, similar ao Citizen Kane de Orson Welles em técnica expressionista da luz, enquadramentos e do som.(...)O travelling, o contracampo cinematográfico, os cortes, os close ups, a ligação das seqüências quase em fusão ou sobreposição, cortes sonoros e efeitos, como um ruidinho sutil no meio de um quarto na escuridão, tudo era motivo de rendimento cinematográfico..."


Esse paralelo é explicado principalmente por seus dois criadores serem influenciados pelo cinema expressionista alemão, que tinha como uma das principais características a iluminação marcada pelo forte contraste em preto e branco. Sobre as diferenças entre o cinema e os quadrinhos, podemos enumerar algumas principais: enquanto o cinema é a rápida sucessão de fotos, que dão a idéia de movimento, os quadrinhos, que são formados por imagens desenhadas fixas, atingem essa noção de movimento através de técnicas ilustrativas.
A continuidade entre os quadros que formam a página de uma revista em quadrinhos também se apresenta diferente do cinema. Nestes, os planos obedecem uma continuidade geralmente rigorosa, onde os parâmetros de ordem temporal e espacial definem mudanças de plano. Nos quadrinhos não existe continuidade rigorosa; essa continuidade funda-se sobre a descontinuidade gráfico-espacial. Os quadros da história em quadrinhos, portanto, são os responsáveis por sua "continuidade".
Tais quadros também são responsáveis pela definição de dimensão que a história receberá. Eles devem obedecer as páginas, mas possuem liberdade dimensional, podendo mudar de tamanho naturalmente, respeitando as preferências e atendendo ao objetivo que o autor está tentando atingir. Um plano que necessite de profundidade de campo, por exemplo, será reconhecido mais facilmente pelo leitor se o autor o desenhar em um quadro que lhe ofereça um maior espaço ou utilizar até uma página inteira. Já para representar um plano detalhe, o tamanho do quadro pode ser menor. No cinema, estas diferenças são conseguidas através do enquadramento da câmera, já que as dimensões são obrigadas a obedecer a tela.
Outra diferença marcante é em relação à elipse espaço-temporal que ocorre nos filmes e nas histórias em quadrinhos. Nos filmes as formas de se representar uma elipse são inúmeras, mas através da narrativa o espectador a compreende. Nos quadrinhos as elipses ocorrem de uma forma muito mais explícita. Uma elipse temporal ocorrida em um filme representando a passagem do dia para a noite pode ser percebida facilmente pela mudança da iluminação na cena, enquanto que nos quadrinhos essa elipse será melhor percebida com a mensagem "à noite...", geralmente no canto superior esquerdo do quadro. Vale lembrar que, nos dois casos, a percepção da elipse é auxiliada pelo contexto da história.
Além desse tipo de elipse(grande elipse nos quadrinhos), as histórias em quadrinhos possuem a pequena elipse que existe devido à necessidade gráfica do corte, isto é, a mudança de quadro na página da revista. Percebe-se que a ligação entre histórias em quadrinhos e cinema é muito forte e vem de longa data. O surgimento quase simultâneo das duas linguagens auxiliou muito em sua formação, uma influenciando a outra e evoluindo juntas. Mas, para muitos, essa ligação não é tão visível assim. Apesar das duas terem nascido da vontade de suprir a necessidade de diversão e entretenimento da sociedade de massas, grande parte do grande público do cinema não conhece esse envolvimento entre elas. E provavelmente muitos leitores de quadrinhos também não.
A partir do final dos anos 80 e começo dos anos 90 a ligação histórias em quadrinhos/cinema começou a ser melhor percebida pelo grande público, mas por aspectos totalmente diferentes de todos os que foram descritos até agora. Nessa época começaram a surgir grandes produções hollywoodianas baseadas em adaptações de conhecidos personagens de quadrinhos e suas histórias para o cinema.
Apesar de já existirem muitas adaptações anteriores a esses anos, como Superman de 1978 e Flash Gordon de 1936 e 1980, foi depois de Batman(Tim Burton) de 1989 que Hollywood abriu os olhos para o universo dos quadrinhos.
Isso aconteceu devido ao grande sucesso que o filme atingiu. Batman era um personagem que já havia recebido algumas adaptações, tanto em longa metragem como em seriado para a televisão nos anos 60. Mas o filme de Tim Burton conseguiu alcançar patamares gigantescos.
No elenco contava com Michael Keaton como Batman/Bruce Wayne, Jack Nicholson como Coringa e Kim Bassinger como Vick Vale, uma fotógrafa/jornalista. No filme, Batman já existe e já está em ação em Gotham City, causando polêmica nos jornias da cidade sobre a conseqüência de seus atos(fato que o acompanha em toda sua existência como personagem e que também atormenta vários outros heróis). Nos é apresentado também seu trauma de infância que o levou a criar o vigilante noturno que luta para manter a ordem, em flashback, onde ele, ainda criança, assiste à morte do pais em um assalto no centro da cidade. Outro fato que nos é apresentado é o surgimento de seu principal vilão, o Coringa, um criminoso que é atingido por um tiro no rosto e cai em um tanque com produtos químicos em uma indústria química de Gotham. Na interpretação de Jack Nicholson, o personagem roubou a cena, recebendo muitos elogios e deixando o próprio protagonista da história à mercê de reclamações.
O filme apresentou tais personagens às novas gerações. Um dos personagens de quadrinhos mais lidos em todo o mundo, ganhou novos adeptos e sofreu algumas alterações: no filme, seu uniforme, azul nos quadrinhos, torna-se negro, fato acompanhado na série de desenho animado lançado pela Warner depois do sucesso do filme.
Tim Burton continuaria com o personagem em uma continuação de 1992: Batman O Retorno. É visível a evolução de produção entre o primeiro e sua continuação. Logo na seqüência que acompanha os créditos iniciais do filme conseguimos perceber a atmosfera sombria dos filmes de Tim Burton(Edward Mão de Tesoura, O Estranho Mundo de Jack, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça). Esta seqüência mostra os pais do personagem Pingüim(Danny De Vito) querendo se livrar do filho por este ter nascido deficiente, sendo considerado uma aberração. Eles estão "passeando" com o filho em uma carrinho por Gotham City. Já na veste dos dois e no carrinho percebemos a natureza sombria: tudo negro, no meio do parque branco devido à neve. Isso é notado ainda mais no momento que eles cruzam com outro casal também com filho, mas com roupas e carrinho normais. Chegando em uma ponte, arremessam o carrinho junto com o filho no rio, livrando-se da aberração para sempre. Então, o carrinho vai navegando pelo rio, entrando nos esgotos escuros da cidade. Começa a seqüência que apresenta os créditos iniciais do filme. Durante toda essa seqüência, observamos o carrinho navegando por lugares totalmente escuros. O filme fica quase preto e branco. A atmosfera de Tim Burton acompanha a atmsofera dos quadrnihos sombrios de Batman.
No elenco deste continuamos com Michael Keaton como Batman, entra Michelle Pfieffer como Mulher Gato e o já citado Danny DeVito como Pingüim. O primeiro deixou a desejar como anteriormente, principalmente devido às ótimas performances dos outros dois. Michelle Pfeiffer, sem nos esquecermos de Selina, a secretária desastrada que se tornaria a Mulher Gato, nos apresentou esta com maestria, enlouquecendo Batman tanto amorosamente como agressivamente. DeVito como Pingüim também não fica atrás. Com uma maquiagem maravilhosa, o personagem chegou a ficar tão expressivo quanto o dos quadrinhos.
Em Batman O Retorno, Batman tem um contato maior com os vilões. Enquanto no primeiro suas aparições são poucas e o confronto só chega com o confronto final, no segundo os confrontos são em maior número principalmente entre Batman e Mulher Gato.
Depois destes, Batman ainda teve duas grandes produções de grande sucesso, mas que não possuíam a mesma força dos dois primeiros. Isto porque foram produzidos com muito exagero. O diretor Joel Schumacher deixou de lado a escuridão de Tim Burton(normal do próprio personagem) e apostou na exagerada produção, com muito colorido. O primeiro foi Batman Eternamente(1995) que contava com Val Kilmer como Batman, Jim Carrey como Charada, Tommy Lee Jones como Duas Caras, além de Chris O'Donnel como Robin e Nicole Kidman como a Dra. Chase Meridian, uma psicóloga que trata pacientes com dupla personalidade. Já neste o colorido exagerado é notável, além de enormes estruturas no centro da cidade que antes não faziam parte de Gotham City. O uniforme de Batman sofre nova alteração. Batman e Robin(1997) é o segundo com Joel Schumacher e o exagero é mais uma vez notado. O colorido está de volta com muito, muito neon. Do elenco anterior, continuamos com Chris O'Donnel no papel de Robin. George Clooney assume o uniforme de Batman(novamente modificado, criando polêmica com os "mamilos") e vem junto com Uma Thurman como Era Venenosa, Arnold Schwazengger como Senhor Frio e a mais nova heroína Alicia Silverstone como Bat Girl. Outro personagem que nos quadrinhos teve importante papel mas no filme foi totalmente ridicularizado é Bane(Jeep Swenson).
Fica claro que estas duas produções foram totalmente ambiciosas, caras e muito fracas perto das duas primeiras. Fizeram sucesso, tiveram bilheteria, mas não chegaram no patamar das outras. Apresentação de novos heróis, de novos vilões, mas com histórias fracas e de pouco conteúdo são receitas usadas exaustivamente pela editoras de quadrinhos para conseguirem mais dinheiro. No cinema isso não foi diferente.
Acompanhando o sucesso de Batman(1989), em 1990 o ator/diretor Warren Beatty lança Dick Tracy. De acordo com Álvaro de Moya, surgindo como relfexo da "lei seca" norte-americana e do gangsterismo, o personagem tornou-se um clássico dos quadrinhos da era dourada dos comics - década de 30. Dick Tracy é um personagem que dá uma nova cara ao estereótipo dos detetives, que até aí se assemelhavam de alguma forma com Sherlock Holmes. Enquanto os detetives sherlocknianos têm como principal característica o raciocínio, Dick Tracy surge como o detetive marginal, particular, semipolicial, que parte mais para a ação. É a troca do cachimbo torto pelo cigarro no canto da boca. Os vilões também sofrem alterações: "Em vez do mordomo calculista ou do herdeiro manhoso, o vilão-gangster, violento e ativo."
Dick Tracy, o filme, levou todo esse universo para a tela do cinema. Warren Beatty , produziu, dirigiu e atuou como o protagonista da história. Além dele, Madonna como Breathless Mahoney, uma cantora de casa noturna, Al Pacino como Big Boy Caprice, um dos chefões dá máfia na cidade e Dustin Hoffman em uma atuação hilária como Mumbles, um dos capangas de Big Boy. Ainda contava com Tess Trueheart(Glenne Headly), a namorada de Tracy que sofre com a ausência deste devido à seus trabalhos; e Kid(Charlie Korsmo), uma criança abandonada que passa a seguir Tracy, querendo também se tornar um detetive.
A estética das histórias em quadrinhos é presença forte nesta produção. Notamos isso no colorido do filme, por exemplo. Apesar de Dick Tracy como quadrinhos ser inicialmetne preto e branco, o colorido encontrado no filme é semelhante a qualquer revista em quadrinhos clássicos da Marvel Comics. Vermelho, verde, azul e amarelo aparecem totalmente fortes, como cores puras, sem variações. Tracy com seu sobretudo e chapéu amarelo, os capangas de Big Boy com suas roupas e carros azuis e verdes ilustram as cenas como se fossem páginas de uma revista em quadrinhos.
A maquiagem também chama muita atenção nesse aspecto. No filme, os vilões são tão surreais quanto os dos quadrinhos. Para conseguir tão efeito, a maquiagem fez um trabalho notável. Logo no início do filme isso é notado. Kid, o garoto abandonado, está procurando comida em um lixo. Quando ele percebe a presença de um policial, se esconde dentro de um galpão onde estão vários gangsters jogando cartas. Todos eles possuem rostos estranhos(Little Face, por exemplo, possui uma cabeça exageradamente grande), parecendo um grupo de aberrações. Com o decorrer do filme percebe-se que essa é a característica de todos os vilões da história. O que era conseguido nos quadrinhos através de desenhos, a maquiagem fez para o cinema, recebendo o Oscar de Melhor Maquiagem pelo ótimo trabalho.
Outro fato que leva o filme Dick Tracy para o universo dos quadrinhos são os cenários de plano de fundo. Todos são desenhos/pinturas fáceis de serem percebidas. O objetivo não era tentar fazer um cenário parecer verdadeiro através da pintura, mas sim, através dela, aproximar ao máximo da revista em quadrinhos. Na primeira seqüência temos isso: o filme começa com Dick Tracy se preparando para sair a serviço, pegando seu relógio(de grande destaque no filme, pois, além de relógio, é um comunicador, como um rádio policial), seu distintivo, sua arma e seu chapéu. Quando está para sair pela porta, a câmera o enquadra pelo lado de fora do prédio, através da janela, que forma uma borda para o plano. Nesse momento a câmera se movimenta diagonalmente para a esquerda e para cima, o plano vai abrindo, pegando a cidade em plano geral. Nesse momento fica visível o cenário desenhado estático, como se fosse uma página de história em quadrinhos pronta para ser virada. Várias chaminés pela cidade soltam fumaça, mas a fumaça está totalmente estática, mostrando que é puro desenho, o que também é percebido pelo colorido irreal.
Além do Oscar de maquiagem, Dick Tracy ganhou também como Melhor Direção de Arte e Melhor Música, esta de Danny Elfman, o mesmo compositor de Batman e Batman O Retorno, fato que aproxima muito os três filme. A música no começo de Dick Tracy remete imediatamente aos filmes de Batman.
Essas três produções estão entre as consideradas boas adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema. Isto porque as adaptações são muitas e a grande maioria é medíocre. Tomamos como exemplo o filme O Fantasma, de 1996. Conhecido como um dos personagens de quadrinhos mais clássicos de todos os tempos, nas telas tornou-se uma paródia, revoltando os fãs mais puristas. Isso porque o personagem nos quadrinhos sempre foi muito sério e sisudo. Billy Zane, que fez o papel do protagonista esqueceu desse detalhe, e transformou Fantasma em um herói bem feliz. Isso além show de horríveis efeitos especiais.
Jô Soares, em Os Dilemas do Fantasma e do Capitão América, nos conta a história do personagem:

"Como se sabe perfeitamente, a saga dos Fantasmas começa há 400 anos, quando um jovem nobre inglês, Sr. Christofer, durante viagem marítima ao largo do Golfo de Bengala, teve seu navio atacado e viu seu pai degolado pelos piratas. Escapando a nado, chegou à costa africana, jurando então solenemente consagrar sua vida e a de seus descendentes à luta contra o crime e a pirataria. Juramento este que vem se transmitindo através dos séculos."


Essa história até que é bem representada como introdução do filme, mas os elogios param por aí.

Adaptações sempre enfrentam esse problemas. Primeiro, por causa dos fãs de quadrinhos, que nunca estão satisfeitos com os resultados, sempre querem que seja do jeito que pensam. Mas existem muitos fatores que as produções enfrentam. Por exemplo, restrições orçamentárias e técnicas. Muitos filmes produzidos em épocas que não se possuía tecnologia para transpor os efeitos dos quadrinhos para as telas ficaram devendo. Por esse fato só agora existem tentativas de produções mais ousadas. X-man, o filme, só pôde ser produzido atualmente, devido à produção que necessitaria. Os fãs tiveram que esperar por anos as promessas que sempre surgiam, até algum diretor - nesse caso, Bryan Singer - tomar coragem e enfrentar tal tarefa. E o filme foi bem aceito.
O mercado também é um obstáculo para que as adaptações sejam fiéis às revistas. Todas as grandes produções desse patamar têm como objetivo gastar muito dinheiro e recuperar mais ainda. Portanto tentam conquistar a maior fatia de público possível e atingir bilheterias exorbitantes. Por isso que o fato de ser fiel ou não ao original fica quase irrelevante. Rocketeer, por exemplo, filme de Joe Jonston, de 1990, teve uma produção primorosa, com a participação do criador do personagem Dave Stevens, é um dos filmes que mais respeita a questão da fidelidade, mas que foi um fracasso de bilheteria.
Nessa questão de fidelidade, Dick Tracy e as produções de Batman também não escapam. A primeira, apesar de muito elogiada, recebeu reclamações em seu personagem principal. Enquanto os vilões sofreram com maquiagens para seguirem os originais dos quadrinhos, Dick Tracy perdeu seus famosos e avantajados nariz e queixo. Falando de Batman, nenhum dos atores que vestiu o uniforme do Morcego agradou seus fãs. A relação entre Batman/Bruce Wayne e o comissário Gordon(Pat Hingle nos quatro filmes), muito explorada nos quadrinhos, nem sombra nas telas.
Claro que estas observações partem de olhares de fãs, que conhecem os personagens a fundo e sempre esperam algum diretor que entenda o que eles querem. Mas nem sempre as mudanças nos originais atrapalham. Em alguns casos, foram bem recebidas. Em Superman, por exemplo, deixar de lado personagens como Superboy e Supercão ajudaram no desenvolvimento da trama. Certos elementos ganharam roupagem mais séria: o planeta Krypton, no filme, é frio e estéril, diferente da alegre utopia apresentada nos quadrinhos até então.
Como já foi dito, são reclamações que os fãs mais puristas fazem, afim de ver seus personagens preferidos brilharem nas telas de cinema.
Para fechar, apresento outro grande paralelo feito entre o cinema e as histórias em quadrinhos que ganhou grande destaque nos anos 90. Falo de Kevin Smith, diretor/ator que ligou as duas linguagens como ninguém. Começando pelo filme Barrados no Shopping(Mallrats, 1995), onde o cartaz/capa do filme é claramente uma capa de revista em quadrinhos. Os créditos também são todos apresentados através de capas de revista em quadrinhos, fazendo cada personagem do filme se transformar em um herói. Além disso, o filme conta com participação especial de Stan Lee, chefão da Marvel Comics e responsável pela criação de personagens como Homem-Aranha.
Depois do sucesso, Kevin Smith foi convidado para roteirizar as próprias histórias em quadrinhos, ficando um tempo com o personagem Demolidor e depois com Arqueiro Verde. Um fato curioso é o diretor ter recusado o convite milionário para fazer o roteiro de Superman V.
Fica claro, com vários exemplos em vários aspectos, que o cinema e as histórias em quadrinhos sempre andaram juntos. São muitas referências que povoam essa relação e, sendo com fãs reclamando, sejam com fãs conquistados, seja os aspectos estruturais/técnicos de cada linguagem, são dois universos que tiveram e com certeza terão o privilégio de continuar se desenvolvendo juntos. Fazendo este trabalho, tomei noção de coisas que sempre estiveram na minha frente, mas não havia tido o prazer de tomar um conhecimento mais aprofundado dos assuntos. Escolhi tal assunto para o trabalho por tratar de coisas que gosto muito e gostaria de fazê-lo com prazer. Ao me deparar com partes mais técnicas do assunto, me preocupei um pouco, mas depois de compreendê-las, tudo ficou mais fácil. Assitir o filme Dick Tracy, por exemplo, depois de ter esse conhecimento, foi uma experiência muito mais proveitosa que q primeira vez que o havia assistido. Um filme maravilhoso que mescla muito bem os dois assuntos. Como se inserissem uma revista em quadrinhos dentro da tela do cinema.

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