quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

NANQUIM DESCARTÁVEL: Botando os pingos nos “is”

Por Milena - GHQ

Desde que Daniel Esteves publicou as aventuras das amigas quadrinistas Ju (roteirista) e Sandra (desenhista), na Nanquim Descartável #1, em 2007, ele ouviu elogios de boa parte dos leitores, concorreu e ganhou o Troféu HQMix de melhor roteirista revelação (2007) e de melhor publicação independente de autor (2009 e 2010), mas a comparação com Estranhos no Paraíso, de Terry Moore, que começou como uma brincadeira dentro da revista, ainda lhe causava um certo mal estar.
Tudo resolvido nessa quarta edição da Nanquim Descartável (96 páginas, P&B, R$ 15,00), que “inchou” e ganhou um belo formato álbum, com capa feita pelo Luke Ross e pelo Al Stefano. A história é mais uma vez contada em capítulos, cada um sob responsabilidade de um desenhista (voltamos a ver os traços de Mário Cau, Wanderson de Souza, Carlos Eduardo, Júlio Brilha, Wagner de Souza e Mário César, com a novidade do lápis mangá de Fred Hildebrand), tendo como destaque o trabalho de Mário Cau, que desenhou e pintou (com técnicas diversas) 28 páginas da HQ, inserindo, entre os coadjuvantes, referências pop (música, TV e HQs) bastante explícitas.
Esteves separou espacialmente Ju e Sandra (essa vai fazer uma visita a sua avó doente, em Bastos, interior de São Paulo) para falar dos ex-namorados das duas, Pedro e Junior, respectivamente. Dois amores mal resolvidos do passado que não saem do pensamento das amigas. E Tuba é o contraponto cômico da trama, tentando entrar em contato com algumas ex-namoradas do tempo de colégio, mas sem tirar o foco de Sandra (ninguém pode dizer que ele não tentou, mesmo só jogando verde). Essa edição traz também dois rostos novos, além da aparição do próprio Esteves, dialogando com a Ju, num bar.
O que podia descambar para algo chatérrimo, sim, pois temos duas DRs, torna-se algo terno graças aos diálogos e às situações bem construídos pelo Esteves, que não tem vergonha de explorar os âmagos das suas personagens. O texto é sensível e sincero (nessa edição o Esteves é praticamente um Chico Buarque), narrando experiências cotidianas vivenciadas por todos nós. E é esse “pé no chão” mezzo poético mezzo filosofia de boteco que dá charme à série.
A edição de número quatro pode ser lida por quem não conhece os personagens, mas o ideal é acompanhar a trajetória de Ju, Sandra, Tuba e Cia. desde o início, por isso foi acertada a ideia do Esteves de, logo no prefácio, inserir os links das três primeiras edições, em pdf., para os neófitos.
A Nanquim Descartável é um bom exemplo da renovação pela qual o quadrinho independente brazuca vem passando, estabelecendo a relevância do roteiro (e não apenas o aspecto estético) para a aceitação e formação do público leitor. Que venham as próximas, então.

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