domingo, 4 de dezembro de 2011

Uma calçada, um violão

Por Milena - GHQ

O quadrinista Laudo Ferreira venera o Clube da Esquina. Desde os 12 anos de idade, acompanha as músicas e as histórias de seus membros, especialmente do Milton Nascimento. Logo, a melhor forma de retribuir os arranjos e letras marcantes desses músicos mineiros seria através do que ele sabe fazer bem: história em quadrinhos.
Então, em 2007, Laudo começou a escrever e desenhar 15 páginas de quadrinhos para o Museu Clube da Esquina, utilizando como base o livro Os sonhos não envelhecem, do Márcio Borges. Tudo pronto, chamou o amigo Omar Viñole para arte-finalizar e colorir a HQ. Essas páginas puderam ser vistas na exposição Histórias do Clube da Esquina, durante a sexta edição do FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, em 2009.
Mas Laudo percebeu que aquelas 15 páginas poderiam render um álbum. Reescreveu o roteiro e inscreveu-o no ProAc, o Programa de Ação Cultural do estado de São Paulo, que anualmente seleciona 10 projetos de histórias em quadrinhos, no valor de R$ 25.000, cada. Assim nascia Histórias do Clube da Esquina (48 páginas, colorido, R$ 19,50), editado e distribuído nacionalmente pela Devir, em setembro do presente ano.
Em Histórias do Clube da Esquina, Laudo utilizou o recurso da narrativa documental, apresentando depoimentos de Márcio Borges, Lô Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Beto Guedes, para contar como uma reunião de rapazotes na calçada, esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em BH, resultou num dos grupos mais charmosos da MPB.
Embarcamos gostosamente nas histórias bastante curiosas que o Laudo foi buscar, como o “coro de sapos” que cantou junto a Milton Nascimento, em Sentinela, local próximo à cidade mineira de Diamantina, cidade essa que proporcionou o encontro de alguns membros do Clube da Esquina com o ex-presidente Juscelino Kubitschek. Fotografados pelas revistas Manchete e O Cruzeiro, esse inesperado encontro com Kubitschek rendeu aos músicos o apelido de “Os Beatles Brasileiros”. Legal saber a verdadeira história do jipe de Fernando Brant, Manuel, o audaz!, e que a D. Maricota, mãe de Márcio e Lô, encarava a polícia sempre que algum vizinho fazia queixa do barulho na calçada; rir da saia justa de Beto Guedes, esposa e cunhado sendo confundidos com criminosos perigosos, e ficar tocada com a visita de Milton Nascimento à tribo indígena dos Ashaninka, em 1989, na qual descobriu o termo “txai”.
Mais do que uma homenagem ao Clube da Esquina, o álbum do Laudo e do Omar é uma celebração à amizade. Recomendado tanto aos fãs quanto a quem nunca ouviu Lô Borges entoar “Cavaleiro marginal, lavado em ribeirão. Cavaleiro negro que viveu mistérios, cavaleiro e senhor de casa e árvores, sem querer descanso nem dominical”.

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