segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma dupla porreta com sangue nos olhos, ôxe!

Por: Pedro de Luna

bando de dois - pagina do livro
As histórias de Lampião e seu bando de cangaceiros no sertão brasileiro continuam despertando paixões. E fazia tempo que eu não lia algo tão bom sobre o tema em quadrinhos desde o excelente “Sertão Vermelho” (saiu este ano o 2º volume, mas ainda não vi). Apesar de trabalhar com HQs desde 2007 apenas, o ilustrador paulista de 37 anos conseguiu fazer um bangue-bangue tupiniquim de alto nível, sobretudo pela fidelidade nos detalhes, a carga dramática na medida, o linguajar típico do nordeste, ritmo e enquadramento realmente cinematográfico. E por essas e outras, "Bando de Dois", de Danilo Beyruth (Editora Zarabatana) já é um dos melhores lançamentos de 2010.


Tudo começou com a pesquisa, como explica o autor: “assisti alguns filmes (Deus e o diabo a terra do sol, O cangaceiro, Lampião o rei do Cangaço e um filme italiano chamado Il Cangaceiro), alguns documentários para TV no YouTube, consultei sites e livros, destacando o Cangaceiros, Coiteros e Volantes de José Anderson Nascimento”. Porém, tentou manter distância de obras sobre o cangaço no formato de histórias em quadrinhos para não ser influenciado.



bando de dois CAPAFascinado pelo tema, Beyruth se empolga ao falar sobre a inspiração. “Os cangaceiros eram uma mistura de pistoleiros, samurais e piratas. A caatinga e a região onde eles atuavam é enorme e tem todo tipo de cenário. O tema é fenomenalmente rico, muito mais do que o velho oeste americano! Mas muita gente acha que Lampião é sinônimo de cangaço quando na verdade ele foi um dos últimos cangaceiros, sendo que o cangaço foi um fenômeno social que se estendeu por mais de 30 anos, tendo suas origens na revolta de canudos”.


No entanto o ilustrador publicitário não se empolga em fazer uma HQ sobre Lampião. “Acho muito legal, mas não faria uma história sobre ele. Acho mais legal poder inventar as histórias e usar o cenário”.


Danilo Beyruth - o ilustrador autor de Bando de Dois


Aprovada no edital do ProAC de 2009, Bando de Dois foi lançada apenas em setembro deste ano, e levou um ano e alguns meses para ficar pronta. Em parte pelo fato de Danilo ser um dos sócios do estúdio de ilustração Macacolândia, com outros três amigos, e não poder trabalhar exclusivamente no álbum.


O autor, que também está por trás do personagem Necronauta, explica que “os originais são a traço, finalizados em nanquim com pincel. Se surgir uma proposta de lançar colorido seria legal, mas dificilmente eu coloriria tudo sozinho já que demora muito tempo e já estou envolvido em outros projetos. Existem coloristas pra isso”.


Sobre a editora, “não fui eu que escolhi a Zarabatana, foi ela que me escolheu. O Cláudio (editor), me chamou pra produzir um álbum, eu apresentei algumas idéias e a que ele mais gostou foi o Bando de Dois”. Desde então, o livro foi lançado em São Paulo, na RioComicon e na Comic House, de João Pessoa. “Ano que vem, talvez role BH e Curitiba”, adianta o artista.


E apesar de todo talento e projeção do seu novo livro, ele não pensa em desenhar pra fora. “Acho que o mercado brasileiro está em um dos seus melhores momentos!
Ainda estou longe de poder me dedicar integralmente às HQs, mas a todo tempo me surpreendo com a boa repercussão que meu trabalho tem tido. Acho que pra viabilizar uma carreira de autor de quadrinhos tem que ter muita produção, muita coisa lançada, trabalhar com editoras boas e manter a qualidade. É o que eu tenho tentado fazer. Vamos ver o que acontece daqui alguns anos!”, finaliza.

bando de dois visao do comandante
PUBLICADO EM 30.12.10

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