Por GHQ - 27.07.11
O cinema fantástico tem um público cativo e fiel, no Brasil, bem desproporcional ao número de festivais que o país realiza. Por isso, a volta do RioFan, esse ano, foi bastante festejada e recebeu um público deveras eclético nas duas salas de cinema da bela Caixa Cultural, no centro do Rio de Janeiro, entre 18 e 24 de julho.
O RioFan, Festival de Cinema Fantástico do Rio, teve sua primeira edição em 2008, idealizada por Fernando Toste, da produtora Contracampo. Embora bastante comentado, pois exibiu o polêmico Otto, do Bruce LaBruce, e a sensação chilena daquele ano, Mirage Man, além de vários curtas nacionais do gênero, Fernando não encontrou apoio e nem pessoas dispostas a ajudá-lo a produzir o festival em 2009, abandonando-o temporariamente. Então, ano passado, veio a oportunidade de estruturar a segunda edição do RioFan através da parceria entre as produtoras Time Machine (do Fernando Toste) e Franco Produções (do Ailton Franco Jr., que já produz há mais de vinte anos o Curta Cinema) – na verdade, quem botou pilha para o Ailton Jr. procurar o Fernando Toste foi o produtor Paulo Roberto Jr., mais conhecido como Paulo Meister, que trabalha na Franco Produções e foi um dos curadores do RioFan 2011 –, inserindo o evento dentro do calendário da Caixa Cultural para 2011.
Com o evento assegurado, os organizadores abriram o processo de seleção para quem estivesse interessado em ter sua produção na grade de programação, e paralelamente foram selecionando alguns curtas e longas-metragens internacionais, após um grande processo de pesquisa. Segundo o Paulo Meister, eles receberam cerca de 200 filmes, entre curtas e longas-metragens, e fazer a seleção desse material todo foi uma espécie de “trabalho sujo”, pois foi necessário ter que dizer não para alguns e isso era um tanto quanto doloroso.
Uma das propostas dos festivais de cinema é colocar o público junto aos realizadores dos filmes. No RioFan desse ano, tivemos a presença de alguns diretores dos curtas nacionais e também do Rodrigo Aragão, figura carimbada do cinema fantástico brasileiro, diretor do longa A noite dos chupacabras, que também ministrou uma oficina sobre como fazer efeitos especiais na maquiagem de filmes. Embora esses realizadores tenham vindo por conta própria, Paulo Meister afirmou que a produção do RioFan está batalhando para que nas próximas edições eles consigam convidar mais diretores, inclusive estrangeiros, pois o “burburinho” que eles causam ecoa na mídia de forma bastante acentuada, engrandecendo o evento.
E por falar em mídia, o RioFan foi destaque em jornais como O Globo e Folha de S. Paulo, e o veto à exibição do longa sérvio A Serbian Film – terror sem limites repercutiu amplamente na internet, gerando um boca-a-boca tão grande, atraindo mulheres e senhores de cabelos brancos ao festival. Isso surpreendeu à própria produção do RioFan, que esperava o público mais tradicional, ou seja, universitários do sexo masculino. E esse público era também convidado a ser jurado, uma vez que não houve júri oficial, dando notas de 0 a 5 para cada filme. A produção constatou que a receptividade das pessoas foi grande, pois houve pouquíssimas notas entre 0 e 2.
Os filmes mais comentados entre o público foram A mulher, Comandante Treholt e sua tropa de ninjas, A balada do amor e do ódio, Satanás te odeia e A noite dos chupacabras, entre os longas; e, nos curtas, A lenda de Beaver Dam e O Ato Qih (esse um documentário holandês trekkie mostrando a primeira apresentação da ópera “u”, dos Klingons).
A programação dessa segunda edição do RioFan foi bem variada, mesclando gore, humor negro, exploitation, thrillers de FC e horror e ainda pequenas pérolas trash, dividida entre as mostras Panorama, RioFan Shorts e Underground Brasil, com ingresso a R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (estudante), e a cada dois ingressos comprados, ganhava-se o catálogo com os filmes em exibição. A produção ainda sorteou o poster do RioFan 2011 em algumas sessões (eu, que só havia ganhado um sorteio em toda a minha vida, fui contemplada com um – bendito número 16).
Não pude acompanhar tudo, mas do que assisti, destaco o alemão Satanás te odeia (2009) – uma descompromissada (e muito bem realizada) brincadeira entre as manipulações de dois agentes do Belzebu, que adoram infernizar a vida de Marc (um homossexual enrustido e homicida) e Wendy (uma adolescente junkie e devassa), impedindo a todo custo que eles sejam atraídos para o lado de Deus – e o britânico Pequenas Mortes (2011) – composto por três curtas bastante criativos de horror psicológico, envolvendo sexo e tortura. Entre os curtas, adorei O Ogro, animação brasileira baseada numa HQ desenhada por Júlio Shimamoto, mostrando o diálogo entre os cavaleiros rubro e negro sobre o encontro desse último com a dita criatura.
A premiação foi anunciada nessa terça-feira, e ficou assim: Panorama: 1° lugar: A Mulher (Estados Unidos), 2° lugar: A noite dos chupacabras (Brasil) e 3° lugar: Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado – Parte II (Brasil); Underground Brasil teve como vencedor o curta Salomé; e no RioFan Shorts o curta vencedor estrangeiro foi A lenda de Beaver Dam, e o nacional, Borboletas Indômitas.
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