Por Zine Brasil
Não é nada complicado esquecer do mundo, visitando o Rio de Janeiro. Do alto, é provavelmente a cidade mais bonita do mundo. Muita gente desencana de todos os problemas que lá existem — as vezes, até mesmo os cariocas, que não muito raramente pensam que vivem em um paraíso.
Costumo dizer que o Rio é São Paulo com praia. Porque, longe delas, não vejo muita diferença. A cidade é mal cuidada, a galera que faz a cidade funcionar, de fato, é meio esquecida. Feio.
Os grafiteiros tentam, direto, deixar tudo mais bonito. Ou, se não mais bonito, pelo menos colocar um pouco de cor, quebrar essa coisa cinza horrível das cidades. Mas Alberto Serrano, novayorkino nascido e criado no Bronx, veio pra cá com uma ideia um pouco mais interessante, que ele chamou de “Street Comics”.
Traduzindo, é exatamente isso: quadrinhos na rua.
Tito, como é chamado, se define como “quadrinista também conhecido por seu trabalho de street art”. E não sabe, as vezes, diferenciar o que faz. Se é história em quadrinhos, ou se é grafite. Na dúvida, assume os dois — e chegou a vender como água o livro com fotos das primeiras tiras d’As Aventuras de Zé Ninguém e o Cão Viralata.
Sim, são fotos, porque Tito coloca um quadrinho em um muro do Rio de Janeiro. E não se trata de algum caminho que alguém tenha de fazer e acaba lendo. Cada quadro está em um ponto da cidade, de maneira aleatória — ele olha, acha que cabe, e desenha.
Na história, Zé Ninguém é um nordestino que vai até o Rio atrás de sua amada Ana, que acaba se perdendo e ficando apenas com a roupa do corpo e nenhum dinheiro.
Mas, com um desenho “simples”, a dureza da história acaba sendo aliviada, acaba cativando ainda mais a todos que a acompanham pelo Rio de Janeiro — muito embora Tito não seja um desses. Pra ele, o que importa, é o momento em que ele terminou de pintar — ele tira uma foto e esquece.
No início desse ano entrevistei o cara para o Notícias de Verão, da MTV (infelizmente não encontrei a matéria no site, para mostrar aqui), e foi sensacional conversar com ele que ainda mistura o inglês com o português, que ele fala muito bem — vive aqui há vários anos e é casado com uma Brasileira, com quem tem um filho. Fazia um calor absurdo, eu lembro que suava, sentia meu pé queimar (porque, né, eu tava de chinelo, LIKE A BOSS), mas o papo fluia tanto que, em alguns momentos, fugimos da pauta inicial e ninguém da produção tentou cortar.
No meio disso tudo, ele ia mostrando alguns dos quadros feitos e achava interessante o que tinha acontecido com eles — era a primeira vez que os visitava, depois de tê-los pintado.
Alguns foram pintados por cima, outros estavam simplesmente gastos. Havia também alguns daqueles “lambe-lambe” anunciando shows de funk por cima. Tito estava maravilhado. Pra ele, arte de rua é assim. A rua faz a própria arte e nada pertence a ele, ou a ninguém.
Ele inclusive contou uma história de um dos quadros mais “desenvolvidos” que fez (e está no livro), num muro inteiro em Copacabana, onde mora com a esposa Brasileira, que ele conheceu nos EUA e o filho. Um muro que ele descobriu que seria demolido e resolveu pintar nele antes, fotografando cada uma das “porradas” que muro veio a tomar, depois. Pro cara, o que importa é contar a história.
Gotta respect that.
Já são mais de 50 quadrinhos espalhados pelo Rio, e ele espera chegar a 100. Mas não é difícil encontrar “Tito na Rua” em assinaturas nos muros da cidade. Há várias das suas artes no seu site, o titonarua.com.
Enquanto isso, a gente aguarda o lançamento de “Burnside”, sua história em quadrinhos, e um futuro trabalho na Marvel — que ele é fã e já até fez alguns trabalhos. Mas a gente espera mais.
Porque esse cara é merece.
Por Thiago Borbolla – Site Red Bull
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