segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fierro e a invasão dos quadrinhos argentinos

Noturno_Fierro

IRMÃOS INVISÍVEIS
Seguindo cami­nhos dis­tin­tos, mer­cado de qua­dri­nhos da Argentina e Brasil vol­tam a dia­lo­gar com che­gada da clás­sica Fierro
Por Paulo Floro - Revista O Grito! - post 27.05.11
O fato de serem vizi­nhos não impe­diu que os qua­dri­nhos da Argentina e do Brasil ficas­sem pra­ti­ca­mente invi­sí­veis para ambos por déca­das. Ambos segui­ram cami­nhos dis­tin­tos e ainda hoje os mer­ca­dos seguem com pou­cos inter­câm­bios. Nos últi­mos anos, alguns títu­los her­ma­nos che­ga­ram por aqui, mas o ápice desse movi­mento acon­tece neste pri­meiro semes­tre de 2011, com a che­cada da mais impor­tante publi­ca­ção de HQs da Argentina e uma das mais influ­en­tes do mundo, a Fierro. Lançada em for­mato livro, a edi­ção naci­o­nal conta com auto­res bra­si­lei­ros e his­tó­rias argen­ti­nas já publi­ca­das no título.
Com edi­ção da Zarabatana Books, a Fierro Brasil tem 160 pági­nas e um for­mato maior do que as edi­ções argen­ti­nas. Além do dife­ren­cial de tra­zer his­tó­rias iné­di­tas de auto­res estran­gei­ros, tem mate­rial naci­o­nal de auto­res pro­mis­so­res das HQs naci­o­nais. São seis bra­si­lei­ros: Danilo Beyruth, Gustavo Duarte, Santiago, Fábio Zimbres, Eloar Guazzelli e Adão Iturrusgarai. Este último é o mais conhe­cido, com tiras publi­ca­das na Folha de S. Paulo e anto­lo­gias publi­ca­das pela Devir e pela L&PM.
Beyruth, um dos qua­dri­nhis­tas pre­sen­tes na Fierro, esteve na Argentina recen­te­mente. “Achei curi­oso eles terem um mer­cado de qua­dri­nhos tão rico e tão des­co­nhe­cido da gente. Um é com­ple­ta­mente invi­sí­vel do outro”. O oposto tam­bém acon­tece. “Eles não conhe­cem Laerte, Henfil, do mesmo modo que não conhe­ce­mos os auto­res deles”. Seguindo tri­lhas dis­tin­tas, cada mer­cado adqui­riu carac­te­rís­ti­cas pró­prias. “O que pude per­ce­ber é que o qua­dri­nhos argen­tino tem uma tra­di­ção de roteiro e aqui é algo mais ligado ao humor e ter­ror”, acredita.
Na Fierro, esses dois lados con­se­gui­ram casar de forma inte­res­sante, o que tal­vez possa sig­ni­fi­car que os dois paí­ses tenham mais em comum do que mui­tos acre­di­tam. Nas pági­nas do pri­meiro volume é pos­sí­vel encon­trar o humor do absurdo de Adão e algo mais sub­je­tivo e expe­ri­men­tal de Carlos Nine. Até mesmo a best-seller Maitena, famosa na lista dos mais ven­di­dos do Brasil ganhou seu espaço na revista. A edi­ção ori­gi­nal da publi­ca­ção sai encar­tada no jor­nal Página/12, outro traço da per­so­na­li­dade do mer­cado her­mano. Aqui, em for­mato livro, se adapta a algo con­quis­tado nos últi­mos anos no Brasil que é ven­der HQs em livrarias.
No ras­tro da Fierro, a Zarabatana ainda publica o pri­meiro volume da Coleção Fierro, que irá lan­çar his­tó­rias que foram publi­ca­das de forma seri­a­li­zada. O pri­meiro número já lan­çado é Noturno, de Salvador Sanz. Com forte influên­cia do rea­lismo fan­tás­tico tão ligado à lite­ra­tura latino-americana, a his­tó­ria fala de amo­res obce­ca­dos, mili­ta­rismo e outras dimen­sões. Dois jovens, Lúcio e Lúcia são canais para que pás­sa­ros enor­mes — os notur­nos aden­trem a Terra. O tra­ba­lho foi com­pi­lado em 2009 e já foi lan­çado na Espanha e na Itália.
Segundo Claudio Martini, edi­tor da Zarabatana, o pró­ximo livro da cole­ção seráDora, de Ignácio Minaverry. A his­tó­ria fala sobre uma garota de 16 anos e suas andan­ças pelo mundo. A outra novi­dade dos argen­ti­nos por aqui ainda é uma pro­messa. O maior clás­sico dos qua­dri­nhos argen­ti­nos, O Eternauta, escrito por Hector German Oesterheld e dese­nhado por Solano Lopez vai ganhar edi­ção naci­o­nal pela Martins Fontes. O livro é um dos mais famo­sos qua­dri­nhos da Argentina, com diver­sas ree­di­ções desde que foi lan­çado em 1957. A his­tó­ria fala de uma inva­são ali­e­ní­gena à Buenos Aires con­tada atra­vés de um sobre­vi­vente. O roteiro traz forte con­teúdo polí­tico e tornou-se espé­cie de sím­bolo por­te­nho por ter sido lan­çado nas déca­das de maior opres­são do regime mili­tar argen­tino. Oesterheld e seus filhos foram víti­mas da dita­dura. A HQ está pro­me­tida para este pri­meiro semestre.

Contracapa da Fierro Brasil, com arte de Lucas Varela 

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