Andreas Platthaus: Hoje em dia, muito pouco, além de dois aspectos. Em primeiro lugar, ela pode ser contada num formato não pré-fixado, ou seja, que não se oriente pelos formatos clássicos de revista ou álbum. Assim, é o tamanho da página que também determina o que é um graphic novel. Em segundo lugar, sua extensão não é fixada, quer dizer, ele pode ter 20 ou 500 páginas. E assim se dão, de certo modo, os paralelos com o romance literário, que está contido no conceito de novel. Mas, como vê, é uma distinção puramente técnica. Com o graphic novel, nada mudou em termos de conteúdo.
Existe algo assim como o ano em que nasceu o graphic novel, ou foi um lento desenvolvimento em direção à maior riqueza de detalhes e temática mais elaborada?
Se partirmos do termo em si, há uma data de nascimento. Pode-se defini-la exatamente em 1977, quando Will Eisner desenhou a famosa história Um contrato com Deus (A contract with God and other tenement stories). Com ela, ele queria se destacar um pouco da história em quadrinhos normal, justamente para dizer: "Estou fazendo algo com aspiração literária, por favor, considerem esta obra assim".
Do ponto de vista temático, porém, ele não fez aí nada de incrivelmente novo. Era uma espécie de narrativa autobiográfica sobre a própria juventude de Eisner em Nova York. E isso já tinha sido feito antes. E também já houvera HQs que elaboravam ou narravam materiais francamente literários, ao longo de centenas de páginas. Mas elas ainda não dispunham desse termo específico – esse foi mesmo Eisner que cunhou.
E quando apareceram essas histórias em quadrinhos com características literárias? Há quanto tempo já existem?
Eu diria que desde que as HQs existem. Digamos, a partir do fim do século 19, início do século 20. Se olharmos séries como O Pequeno Nemo no País dos Sonhos (Little Nemo in Slumberland), por exemplo, ou Krazy Kat, ou Os Meninos Kin-der (The Kin-der Kids), de Lyonel Feininger, essas eram séries muito imaginativas. Tinham um jogo muito inteligente com as formas literárias. Só que, é claro, todas estavam comprometidas com um ritmo de publicação, pois apareciam sempre aos domingos nos jornais norte-americanos.
O desenhista tinha uma página à disposição. Mas uma página de jornal é muito espaço, que essas pessoas utilizavam de forma extremamente inteligente. E com isso criaram, de fato, algo que, a meu ver, jamais foi retomado na HQ. Uma combinação incrivelmente excitante entre palavra escrita e imagem desenhada. E dessa combinação sai algo que, a meu ver, é difícil de denominar "romance". E "romance desenhado" tampouco faz realmente jus à coisa, pois continua colocando o foco no aspecto literário. História em quadrinhos é algo bem próprio, entre literatura e filme e desenho.
O que aconteceu então com o graphic novel desde 1977? Nos últimos anos, esse mercado parece estar explodindo. Um sem-número de editoras está descobrindo esse gênero.
Nesse meio tempo, muita coisa também evoluiu. Por outro lado, o conceito se estabeleceu mesmo na Alemanha há quatro, cinco anos, através dos esforços conjuntos das editoras de HQ. E assim ficou consumado aquilo que, nos EUA, vinha acontecendo mais de forma dissimulada. Depois que Will Eisner cunhou esse termo nos anos 1970, ele nem foi usado com tanta frequência assim. Um importante passo intermediário é Maus, de Art Spiegelman, na década de 1980.
Com ele, pela primeira vez a história em quadrinhos conseguiu entrar na lista de best-sellers, coisa que nunca se vira antes. Até então, ela não era considerada no mesmo nível da literatura – coisa que ocorreu com Spiegelman. E aí veio de novo a discussão sobre esse conceito de graphic novel. Spiegelman o rechaçou com toda veemência, dizendo: "Meu livro não tem nada a ver com um romance. É uma narrativa de fatos".
Ele ainda dava grande valor à definição bem exata desse conceito. Mas, no fim das contas, isso também se perdeu um pouco nos Estados Unidos. Nos anos 1990, redescobriu-se, de certa forma, o termo graphic novel, e ele passou a ser empregado com mais frequência do que antes. E na Alemanha em algum momento as pessoas viram: "Aha, nos EUA acontece um verdadeiro boom de graphic novel. O conceito significa realmente algo para os leitores e compradores". E agora o introduzimos de forma totalmente nova na Alemanha.
Entrevista: Günther Birkenstock (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
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