Cláudio de Oliveira faz jus à escola de Angelo Agostini que, ainda no século XIX, entendia ter o artista uma função social, antes mesmo da estética.
A convite da Fundação José Augusto, o chargista potiguar retornou a Natal para falar sobre a sua trajetória vitoriosa a um público de amigos, admiradores de seu trabalho e alunos do curso de jornalismo da UnP, na última segunda, dia 19 de setembro, no Teatro de Cultura Popular.
Cláudio contou sua história em capítulos, todos eles ilustrados de próprio punho e repletos de fotos. Com bastante orgulho, disse ser filho das Rocas, apresentando sua primeira escola, a Escola São José, situada no Canto do Mangue. Depois sua família foi morar no bairro do Alecrim, e lá Cláudio descobriu um camelô que vendia muitas revistas em quadrinhos, em frente à loja de sapatos de seu pai, na Av. Presidente Bandeira. Cláudio presta homenagem a esse camelô “quase desconhecido”, de quem ele não só comprava revistas, mas às vezes “pirangava” (lia sem pagar) algumas.
Totalmente influenciado pela nona arte, começou a escrever e desenhar HQs, criando o personagem Juca, o Vagalume e, com 12 anos, foi destaque de uma matéria no jornal O Poti, intitulada “Menino de 12 anos faz quadrinhos como gente grande”, de autoria do jornalista Jorge Batista, ganhando a oportunidade de publicá-la no mesmo jornal.
Por recomendação de Jorge Batista, Cláudio chegou até o GRUPEHQ, encontrando grandes mestres em Edmar Viana, Emanoel Amaral e Alcides Sales, publicando suas histórias na revista Maturi, em 1976.
Nesse mesmo ano, teve a iniciativa de ir até a redação do jornal Tribuna do Norte, pois observou que o periódico não trazia nenhuma charge. Apresentou seus desenhos e logo começou a fazer charge de futebol para a TN, mesmo não dominando o assunto (contava com a ajuda de seu irmão mais velho, mas precisava comprar revistas do Zé Carioca pra ele). Em abril de 1977, passou a ser o responsável pela charge política do mesmo jornal, com apenas 14 anos de idade. Também nesse ano, foi aceito como colaborador de O Pasquim, apresentado a ele por Woden Madruga, enviando charges e fazendo algumas capas até 1989.
Em 1979, já cursando jornalismo na UFRN, Cláudio ganha o prêmio de charges da Revista Nacional, inaugurando a galeria de premiações que viria a receber nos anos seguintes.
Sempre atento às oportunidades, aprendeu muito com Henfil, no período em que o desenhista veio morar “na Cidade do Sol”. Foi Henfil quem lhe disse que o artista não poderia se acomodar, era preciso haver indignação. Através da recomendação dele, Cláudio chegou até a Folha de S. Paulo, sendo recebido por um dos mestres dos quadrinhos underground brasileiro, Glauco. Assim, teve a honra de cobrir as férias do Angeli, na Folha.
Com Emanoel Barreto e Henfil, Cláudio descobriu que precisava ampliar seu repertório cultural, lendo muitos autores clássicos e os nacionais contemporâneos, entre eles Millôr Fernandes, tomando consciência de que, como jornalista e artista, era necessário ter um posicionamento crítico e engajado frente à realidade sócio-política vigente. Assim, foi presidente do Centro Acadêmico de Humanas e também do DCE, aliando-se aos ideais do PCB. E foi através do PCB que ele ganhou uma bolsa de estudos para estudar Belas Artes, em Praga. Enfrentou bravamente a diferença de clima, língua e cultura, e concluiu o curso (aproveitou para contar um episódio salutar quando de sua estada na antiga Tchecoeslováquia, referente à prática que eles tinham de separar a descendência e a nacionalidade das pessoas. Por isso, em sua carteira da Universidade constava que ele tinha descendência portuguesa e nacionalidade brasileira). Voltou ao Brasil e foi morar em São Paulo, em 1993.
Agradeceu a todos os seus professores e jornalistas que o ajudaram em sua formação, mencionando ainda a importância que o Cineclube Tirol e a Sessão de Arte do Sindicato dos Bancários tiveram pra ele, afirmando: “Natal tem seus limites, mas nós não podemos nos vitimar”, e acrescentou, “na Tchecoeslováquia eu aprendi questões técnicas, mas minha base foi Natal”.
Quando foi aberto o espaço para as perguntas, quem mais se pronunciou foram os alunos de jornalismo da UnP, questionando, entre outras coisas, o posicionamento dele sobre a “polêmica” do diploma de jornalista. Cláudio defendeu a importância do diploma por toda a formação técnica e humanística que a Universidade dá, e foi além, sugerindo que os Cursos de Comunicação Social deveriam criar a figura do Ombudsman para criticar diariamente o que sai na mídia.
Com traço e humor precisos, além de humildade e simpatia, Cláudio encantou a todos, principalmente à Professora Isaura Rosado, que quis aprender com ele a receita da juventude.
Confira a seguir a GALERIA de fotos:
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