Por FIQ 2011
Quando pensamos em internet, não podemos esquecer uma de suas maiores vantagens: a democratização da informação. Você encontra de tudo, ou quase tudo, na internet e o melhor: pode criar seu próprio espaço dentro dela, sem restrições.
Com as HQs não acontece diferente. O acesso aos quadrinhos na rede, conhecidos como “webcomics”, cresce cada vez mais. A principal diferença entre esses conceitos está no seu formato e plataforma de produção. A formatação do quadrinho impresso impõe um certo limite à criatividade e à narrativa do autor, enquanto a web possibilita que a história se desenrole com mais naturalidade (o autor pode experimentar trabalhar em várias dimensões, usar mais cores e muitas outras ferramentas).
Além disso, publicar um quadrinho impresso é caro e depende de uma série de etapas. Na maioria das vezes, é preciso, por exemplo, de um agente, de revisão e de uma editora que o aceite com determinados termos e burocracia.
Assim, é notável que os quadrinistas, que não tinham vez nas editoras, começaram a achar nos blogs uma alternativa mais prática para mostrar seu trabalho. Cátia Ana, indicada ao Troféu HQ Mix (uma das maiores premiações de quadrinhos do Brasil) para o prêmio de melhor “webcomic”, com a tira Diário de Virgínia, diz que “sem a internet provavelmente não publicaria nada e não teria alcançado as melhorias que tanto desejava para o meu trabalho”. Cátia foi elogiada por Scott McCloud, quadrinista e um dos maiores pesquisadores dessa área. É de sua autoria o livro “Reinventando os quadrinhos” onde diz que “os quadrinhos online ainda estão em sua fase de fronteira. Praticamente escreve suas próprias regras.”
Mas antes mesmo de descobrir o que são realmente as webcomics, nada melhor que experimentá-las. É fácil encontrar um número bem maior de quadrinistas online do que off-line. Alguns deles são: Cibele Santos, do blog Mulher de 30; as tiras Menina não pode, feitas por Lívia Carvalho, os Quadrinhos A2, dos quadrinistas Cristina Eiko e Paulo Crumbim; as tiras daChiquinha (que começou no impresso e migrou para a internet); Clara Gomes, da tira Bichinhos de Jardim. Estará presente no FIQ toda a equipe do Pandemônio, formada também por vários autores de webcomics: Vitor Cafaggi (Puny Parker), Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho (Quadrinhos Rasos), Lu Cafaggi (Los Pantozelos), Ricardo Tokumoto (Ryotiras), Daniel Lima (Oswaldo Augusto) e Daniel Werneck, curador do FIQ.
Vitor Cafaggi, autor das Incríveis Aventuras do Pequeno Parker, acredita que criar um blog para publicar seus quadrinhos “é uma alternativa que aproxima o autor do leitor”. Segundo ele, é ótimo ter um retorno tão imediato do leitor, comentando, elogiando, criticando seu trabalho. “Muitas vezes, os leitores percebem detalhes nas tiras que nem mesmo eu percebo enquanto faço”. Foi a partir das tiras que publicou no blog, que ele recebeu convites para participar dos álbuns Pequenos Heróis e MSP 50 e para publicar as tiras do Valente no jornal O Globo.
Os mineiros do Quadrinhos Rasos começaram, no ano passado, a publicar seus quadrinhos online baseados em trechos de letras de músicas aleatórias e, através de uma plataforma de financiamento colaborativo na internet, têm conseguido ajuda para lançar no FIQ a HQ “Achados e Perdidos”, que vem acompanhada de um CD com trilha sonora exclusiva para o a história do álbum. Eduardo Damasceno conta que já lia muitas HQs online, e, junto com o amigo Luís Felipe Garrocho, já tinha se aventurado um pouco nisso, “mas só conseguimos começar a entender a abrangência que a internet permite agora, depois de quase um ano de Quadrinhos Rasos. A ideia de divulgação boca-a-boca ganha um tremendo upgrade quando nos referimos à web e é isso que tem permitido que façamos nosso trabalho e, mais importante, que as pessoas cheguem até ele. ”
As webcomics também são sucesso em outros países. Na Coreia do Sul, país homenageado deste ano, os portais mais conhecidos são os Naver Comics eDaum Comics. Os coreanos usam muito a internet como forma de divulgação e publicação de quadrinhos. Alguns de seus webcomics possuem efeitos que dão uma experiência que vai além do campo visual do leitor, como sons aplicados em algumas tiras online.
Devemos lembrar que a publicação de quadrinhos na internet não será a solução para os problemas enfrentados pelos autores, e não aumentará significativamente as publicações na área, mas pode ser um bom suporte para dar visibilidade aos quadrinistas.
Cátia acrescenta que, para quem quer tentar a área, não é preciso ter um conhecimento aprofundado sobre internet, basta ter uma ideia e a vontade de produzir: “criar eu mesma meu website foi a maneira mais livre que encontrei. Não digo que me tornei uma webmaster ou algo do gênero. O pouco que sei é o bastante para testar as ideias que surgem”, conclui.
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