Os quadrinhos hoje como todos sabem é muito requisitado em todas as mídias. Quando falo em todas as mídias é sem exagero. Prova disso é que até mesmo um grande quadrinista como Mike Deodato Jr. emprestou seu traço para a capa de um CD do Rappa, provando que os quadrinhos estão hoje passeando por todos os gêneros culturais sem exceção.
Para aqueles que leem poucas Histórias em Quadrinhos acabam sempre as relacionando com o cinema e não fazem isso por ignorância e sim por realmente estar esta arte arraigada completamente com sua contrapartida gráfica. Mas para aqueles que observam a História em Quadrinhos como uma mídia pontual não imagina que por muito tempo ela vem contando uma história que a populariza dia após dia.
Muitos escritores tornaram-se pesquisadores na área e publicaram obras teorizando o que hoje chamamos de Nona Arte. Muitos livros se tornaram importantes, outros nem tanto, outros ainda acabaram por mimetizar a história da História em Quadrinhos transformando-a numa paródia educacional. Longe de criticar a qualidade de tais obras, o que vem como segmento importante é que elas teorizaram a arte gráfica criando uma espécie de escola onde o americano e criador de Spirit, Will Eisner, é hoje um doutor entre outros tantos pesquisadores.
O método Will Eisner de entender o quadrinista
Will Eisner foi um dos grandes professores nesta área de teorizar os quadrinhos, criando até mesmo um termo bonito, arte sequencial, no qual acabou sendo usado por muitos estudiosos e professores. Não só criador de termos essenciais para o “fazer” Histórias em Quadrinhos, Eisner quis entender este artista e tentar compreender seu ofício como uma profissão importante e requisitada. Em seu famoso livro Quadrinhos e Arte Sequencial, o mestre mostra técnicas importantes valorizando definitivamente o trabalho artístico do quadrinista, chamado anteriormente também de cartunista e uma criatura oriunda de tabloides sensacionalistas. Uma obra emblemática dividida em oito capítulos onde são mostrados desde a leitura de uma história em quadrinhos, seus elementos constitutivos, como as imagens, timing, o quadro, os balões, até o aprendizado dos quadrinhos. O livro foi lançado originalmente em 1985 chegando ao Brasil em 1987 pela Martins Fontes tendo sido publicado várias edições.
Há muito tempo atrás
Não é de hoje que livros teóricos sobre Histórias em Quadrinhos são artigos de estudo. Muitos se preocupavam com a questão acadêmica e certos assuntos tomavam rumos que hoje são discutíveis, como por exemplo, antecipar a história das artes gráficas para os tempos dos faraós ou fazer acreditar que alguns desenhos rupestres já mostravam certos conceitos sequenciais. Podemos começar a crer que a partir do século XIX a arte sequencial começou a tomar forma e livros que trazem esse conceito são os mais aceitáveis. Muitos livros ainda divergem sobre este histórico das Histórias em Quadrinhos terem começado na Alemanha dos anos 1800 com o pedagogo, psicólogo e artista Rudolph Töfler ou com o personagem chinês amarelo americano de Yellow Kid, até mesmo se foi no Brasil com o cartum político de Angelo Agostini. Bons livros teóricos que valem a pena serem lidos são aqueles do início dos anos 1970 quando a arte sequencial estava madura e pronta para retomar o valor de sua notável história. Em 1971 alguns autores que já trabalhavam com quadrinhos profissionalmente, entre eles Ziraldo e Moaci Cirne, foram convidados para colocar suas experiências em um livro teórico sobre Histórias em Quadrinhos, surgiu o livro O Mundo dos Super-heróis, com o Capitão América na capa, pela Editora Vozes, que além de um importante documento sobre a arte sequencial tinha um dicionário com termos técnicos e um prévio conhecimento sobre diversos personagens da época. Também entre eles podemos destacar Literatura da Imagem, de Román Gubern, pela Salvat Editora, no qual o autor traça um parâmetro das personagens dos quadrinhos junto a sua equivalência iconográfica e semiótica. LeilaRentroia Iannone e seu marido Roberto Antônio publicaram pela Editora Moderna talvez uma das primeiras experiências dos quadrinhos como forma de se trabalhar na Educação, O Mundo das Histórias em Quadrinhos traz conceitos técnicos de uma forma bem básica onde usa a história como ponto fundamental para se entender as artes gráficas.
O levante de Álvaro de Moya
Considerado uma pessoa ímpar quando se fala em especialista no assunto História em Quadrinhos, Álvaro de Moya é jornalista, escritor, produtor, ilustrador e diretor de cinema e televisão, mas um dos seus méritos mais notáveis é organizar junto com Jaime Cortez (outro grande quadrinista e pesquisador) a Primeira Exposição Internacional de História em Quadrinhos, em São Paulo, isso em 1951 dando um impulso substancial para a importância da arte sequencial dentro do nosso país e mostrando esta inédita modalidade ao mundo. Em 1970 lançou seu primeiro livro como resultado de uma longa pesquisa na área dos quadrinhos. Shazam! ainda é considerado hoje uma fonte de informação para quem quer conhecer sobre Histórias em Quadrinhos, não só pela sua leitura dinâmica e substancial sobre a arte sequencial, mas por trazer depoimentos de grandes mestres acerca do papel da chamada nona arte para a cultura pop em geral. Entre seus trabalhos mais significativos também estão O Mundo de Walt Disney (1996) e Vapt Vupt (2002).
Os gibis em guerra
Sem dúvida a entrada da cultura dos quadrinhos no Brasil deve-se a Adolfo Aizen, o poderoso proprietário da Editora Brasil-América (EBAL) que ainda como um jovem jornalista do O Globo teve a brilhante ideia de trazer quadrinhos americanos para serem popularizados em nosso país. Essa história é contada com por menores no livro A Guerra dos Gibis, do jornalista e fanzineiro Gonçalo Júnior. O interessante neste livro é justamente o tema que dá título à publicação, pois sabemos que não foi fácil esta chegada dos gibis no mercado brasileiro. Tachados como incultos, imorais e monstruosos, histórias em quadrinhos chegaram ao Brasil como um alarme de incêndio onde defensores da moral e dos bons costumes literários lutaram favoravelmente a queda deste “tipo analfabeto de leitura”. O que também enriquece a publicação de Gonçalo são as inúmeras gravuras e documentos estampados na maioria das páginas, criando um documento essencial para estudiosos.
Rendendo-se a Scott McCloud
O americano McClound é sem dúvida um fenômeno em vendas quando se fala de um livro que teoriza a História em Quadrinhos. Seu método de explicar os conceitos é inovador por mostrar desenhando, já que o autor também é um artista gráfico. Defensor dos quadrinhos como arte literária, McClound já publicouDesvendando os Quadrinhos, de 1993; Reinventando os Quadrinhos, de 2000; Desenhando Quadrinhos de 2006, publicações essas que já o premiaram e que o tornaram um bem requisitado palestrante sobre teorias na arte gráfica no âmbito artístico, conceitual, técnico e comercial.
Os dias atuais
Uma das preocupações mais constantes para os que estudam a História em Quadrinhos é tentar levar o seu conceito para um âmbito mais pedagógico e assim coloca-los como método de estudos em sala de aula. Muitos livros chegam ao Mercado com essa pesquisa tentando trabalhar Histórias em Quadrinhos nas escolas colocando o gênero para a maioria das Matérias. Mas poucos livros nesta área são realmente relevantes ainda precisando de muitos estudos e pesquisas para revelar um verdadeiro método que traga com mais dinamismo as Histórias em Quadrinhos para dentro das classes escolares e que não fique restrito apenas a Matéria de Português e Artes.
Expediente:
Alguns bons livros para se teorizar histórias em quadrinhos ou mesmo compreender um pouco da sua história:
O Mundo dos Quadrinhos - (Ionaldo A. Cavalcanti – Editora Símbolo) 1977.
Literatura da Imagem (Román Gubern – Salvat Editores) 1979.
Shazam! (Alvaro de Moya – Editora Perspectiva) 1977.
O Mundo das Histórias em Quadrinhos (Leila Rentroia Iannone e Roberto Antonio Iannone – Editora Moderna).
Enciclopédia dos Quadrinhos (Goida - L & PM) 1990.
Quadrinhos em Ação (Mário Feijó - Moderna) 1997.
Quadrinhos Dourados (Diamantino da Silva - Opera Graphica) 2003
Desvendando os Quadrinhos (Scott McCloud - M. Books do Brasil) 2005.
Via UCM Comics
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