Perseguida por uma campanha moralista, a editora que mudou o mercado de quadrinhos dos Estados Unidos viu seu trabalho definhar após experimentar um sucesso estrondoso, lembrado pelos fãs até hoje
Por Alessandro Abrahão - UHQQuando Bill Gaines passou a ter nas mãos a editora de seu falecido pai (saiba mais lendo a primeira parte desta matéria), se viu frente à questão: o que fazer para criar algo realmente diferente?
A ideia era simples: Gaines escreveria os roteiros e Al Feldstein desenharia. Quando Bill apresentou a primeira história, o artista achou o texto muito ruim (embora o argumento fosse bom) e disse que poderia fazer melhor.
O grau de amizade e liberdade entre ambos era tanto, que Bill não se sentiu ofendido, deixando Al reescrever a trama. Algum tempo depois, Feldstein apareceu com um roteiro extremamente bem escrito, mostrando que, além de um talentosíssimo desenhista, era um exímio escritor. Ali nascia a parceria que traçou a identidade da editora.
Assim, ficou acertado que Bill teria as ideias e Al os traduziria para o papel, escrevendo e, muitas vezes, desenhando.
É fato que Bill Gaines tinha propensão a comer em grande quantidade. Quase todos os dias, almoçava em um restaurante italiano. Seu lema era nunca trabalhar de estômago vazio. O próprio Al Feldstein afirmou mais tarde, em uma entrevista, que tinha ganhado mais peso depois que passou a trabalhar com Bill.
Por conta disso, Gaines estava sempre envolvido em dietas. Um médico havia lhe receitado uma droga chamada Dexedrina, que deveria lhe tirar o apetite. No entanto, o efeito colateral mais comum é o de causar insônia. E com Bill não seria diferente. Ele passava as noites acordado e, durante esse período, consumia vorazmente todo tipo de literatura em que punha seus olhos. E era justamente dessa miscelânea de histórias "devoradas" durante as madrugadas que vinham suas ideias mirabolantes.
Bill chegava à editora pela manhã com pedaços de papel que continham as ideias e logo os mostrava para Feldstein. Este, após rejeitar várias delas, escolhia uma e escrevia a história. Gaines esperava ansioso para ler o que Al tinha feito e se divertia muito com isso.
O interessante é que uma ideia podia ter apenas uma linha. Podia ser algo como "uma trama que termine com um homem descobrindo que o assassino que estava procurando era ele mesmo". Al pegava aquilo e criava todo um contexto para fazer aquilo funcionar. Podia ser algo extremamente absurdo; se ele gostasse, conseguia criar uma história.
Por isso, é correto afirmar que a EC jamais teria sido tudo que foi, se não fosse por Al Feldstein. Esse genial artista chegou ao pico de sua produção escrevendo quatro histórias por semana e editando sete revistas por mês.
Gaines e Feldstein criaram histórias que passearam pelos mais diversos gêneros, como terror, suspense, policial, ficção científica e até conscientização social, com temas polêmicos como racismo, antissemitismo e vício em drogas. Essas últimas eram tramas excelentes e chocantes, o que causou uma controvérsia incomum na época, principalmente por partir de uma revista em quadrinhos.
Além disso, os dois também fizeram ótimas adaptações de contos do famoso escritor de ficção Ray Bradbury.
Os artistas
A EC Comics rapidamente se tornou uma lenda entre os desenhistas da época. O boato que corria era de que ela oferecia o clima mais agradável e propício ao trabalho de profissionais da área. Sendo assim, os melhores artistas acabaram atraídos para Bill Gaines e sua editora.
Gaines, por sua vez, fazia questão de proporcionar, mesmo, um clima de descontração e amizade no dia a dia. Isso, talvez, porque havia sido um garoto bastante criticado pelo pai e ter tomado a direção oposta com aqueles seus "filhos". Bill amava o trabalho de seus funcionários e era o fã número um de seus desenhos.
Com isso, os artistas tornaram-se fãs uns dos outros e havia uma espécie de competição amigável entre eles. Era comum eles se amontoarem sobre a prancheta de alguém que estava desenhando, soltando murmúrios de admiração.
Naquela época, as revistas eram impressas num papel muito barato e com métodos que prejudicavam o resultado final. Vários detalhes dos desenhos originais desapareciam. Mesmo assim, os artistas se esmeravam, enchendo as páginas de minúcias que, eles sabiam, não seriam mostrados.
A razão disso, sem dúvida, era que todos desenhavam para si mesmos e, num segundo pensamento, para impressionar Bill, que mesmo como um bom "pai", que avaliava e elogiava eufórico o desempenho de seus "rebentos".
Gaines tinha muita sensibilidade e conhecia profundamente o estilo de cada um deles. Sendo assim, sabia exatamente em que tipo de história determinado desenhista deveria trabalhar.
Al Feldstein escrevia as histórias a lápis diretamente na folha em que o artista ia trabalhar, já com o número certo de quadros. O letrista então usava o sistema Leroy, que era mecânico e muito difícil de se dominar, mas que deixava as letras com um aspecto uniforme e agradável. Por fim, os desenhistas recebiam essas folhas com os quadros e as letras.
A partir daí, havia muita liberdade. Tanto Feldstein quanto Gaines gostavam que fosse assim. Se algum quadro "pedia" que se mostrasse um carro batendo numa árvore, o desenhista podia mostrar isso do ângulo que quisesse, como achasse melhor.
Até os balões eram responsabilidade do desenhista. Muitos gostavam de fazê-los redondos; outros, quadrados ou bastante estilizados. Era isso que dava à história a "cara" do artista que havia trabalhado nela.
Bill Gaines também fazia questão de promover seus artistas diante dos leitores. Ele queria que os compradores das revistas soubessem exatamente quem tinha desenhado as histórias, fazendo com que cada um tivesse seus próprios fãs.
Vale ressaltar que todo o time da EC era composto de homens, com exceção da colorista Marie Severin, um nome conhecido de leitores antigos, pois, após o fim da editora, ela trabalhou para a Marvel, principalmente no personagem Hulk.
Seu trabalho com as cores era definido, por ela mesma, como um estilo que valorizava a arte do desenhista. Marie Severin procurava evitar tons que atrapalhassem a visualização dos traços a nanquim.
Não é à toa que se afirma que artistas como Harvey Kurtzman, Frank Frazetta, Bernard Krigstein, Johnny Craig, Reed Crandall, Joe Orlando, John Severin, Jack Davis, Will Elder, George Evans, Al Williamson, Wally Wood e outros, tiveram o melhor momento de suas carreiras trabalhando para a EC. E isso, certamente, não é nenhum exagero.
Desconhecimento e intolerância
Obviamente, o sucesso das revistas da EC gerou muitos imitadores. Revistas como The Hand of Fate, Haunted Thrills, Mystery Tales, Spellbound e muitas outras tentavam, a todo custo, seguir o rastro da editora de Gaines. Mas nenhuma conseguia se equiparar. Assim, a "original" continuava na liderança das vendas.
No entanto, isso gerou um efeito. Mesmo que, já nessa época, não fosse Al Feldstein quem escrevesse todas as histórias, o ritmo alucinante de produção e o estresse de ter que se manter no topo tiveram consequências nas mentes pensantes da editora.
O resultado mais visível disso foi que as histórias se tornaram bem mais sangrentas. No início, o horror era mais subentendido. Agora, se alguém morria terrivelmente mutilado no final de uma HQ, isso era explicitamente exibido.
O efeito EC na vida dos jovens leitores da época foi muito forte. Várias crianças tinham um ritual de ler as histórias sempre antes de dormir, na escuridão do quarto com uma lanterna acesa sob o lençol. Outros faziam reuniões em locais obscuros, onde as aventuras eram lidas em voz alta e ouvidas com os presentes de olhos arregalados. Era óbvio que nada disso ia passar despercebido pelos pais.
Até porque, havia alguns "moralistas" da imprensa que, desde a época em que a maior parte das revistas eram de super-heróis, já tachavam as histórias como "assassinos culturais" de jovens e crianças.
Esse movimento da imprensa diminuiu com a Segunda Guerra Mundial, pois não era politicamente correto falar contra heróis que combatiam as forças nazistas em suas aventuras. Mas, com o fim do conflito, os moralistas voltaram com força total.
E, para agravar ainda mais a situação, alguns crimes cometidos por jovens delinquentes da época se assemelhavam aos mostrados nos quadrinhos. Tudo isso somado era um prato cheio para os moralistas. Assim, o suposto efeito que as revistas causavam nas crianças passou a ser motivo de preocupação para os pais.
O nome mais famoso nessa guerra contra os quadrinhos foi o do psiquiatra chamado Fredric Wertham. Ele percebeu que seus piores pacientes eram leitores de quadrinhos e achou que as histórias eram a causa da doença psicológica deles.
Mesmo sem ter nenhuma prova científica de sua "descoberta", Wertham fez de tudo para avisar o público, escrevendo vários artigos para jornais e revistas famosas e até participando de programas de TV.
Para ele, todas as histórias continham crime e violência suficientes para levar as pobres crianças norte-americanas à delinquência. Fredric Wertham afirmava que o mal estava presente em qualquer gênero, fosse western, terror, ficção científica ou policial. Nem as HQs cômicas de personagens cartunescos escapavam: pois até o Papa-Léguas explodia a cara do Coiote e saía rindo.
Não bastasse toda a histeria que estava se formando, Fredric Wertham publicou o livro Seduction of the Innocent, que trazia um estudo detalhado das histórias em quadrinhos da época, apontando seus aspectos mais negativos. A publicação da obra foi a gota d'água que faltava para transbordar o copo da guerra contra as HQs.
E não há aqui qualquer intenção de ridicularizar o trabalho de Wertham. Muitos acham que ele estava sendo oportunista, mas uma releitura de suas ações, bem como do esforço e da seriedade com que seu livro foi escrito, sugerem que ele pudesse ser mesmo um profissional dedicado e que acreditava estar fazendo um bem à sociedade. Contudo, um homem bem intencionado nem sempre está certo.
A EC Comics na mira
Com a EC na sua fase mais sangrenta, era certo que Wertham viraria seus canhões para ela. Muitos exemplos que ele citava eram da editora e os desenhos da editora, se tomados fora de contexto, eram, de fato, ofensivos e violentos.
O desequilíbrio anterior agravado pelo livro de Wertham chamou tanta atenção, que o Senado dos Estados Unidos requisitou uma investigação oficial das revistas em quadrinhos.
A requisição foi prontamente respondida pelo Subcomitê de Investigação da Delinquência Juvenil do Senado, presidido pelo senador Estes Kefauver, este, sim, apontado por muitos como um oportunista em busca de promoção. Três anos antes, ele havia ganhado fama por presidir a audiência com o mafioso Frank Costelo, que na época foi transmitida pela televisão.
Espertamente, Kefauver marcou a audiência para a mesma corte na qual ocorreu o episódio com Frank Costelo, o que atraiu a mídia. Ele também intimou várias testemunhas a depor sobre o assunto, todas sabidamente contra os quadrinhos, inclusive o próprio Fredric Wertham.
Sabendo que suas revistas eram o alvo principal e antevendo o resultado daquilo tudo, Bill Gaines se ofereceu como voluntário para depor. Ele era o único que falaria a favor dos quadrinhos. Único mesmo, pois nenhum outro publicador de HQs o apoiou.
O depoimento de Bill Gaines
Segue uma tradução livre do depoimento que William (Bill) Gaines leu diante do Subcomitê de Investigação da Delinquência Juvenil do Senado:
Meu nome é William Gaines. Sou graduado pela School of Education of New York University. Tenho qualificação para dar aulas na escola secundária.
Então, o que estou fazendo diante desse comitê?
Eu publico histórias em quadrinhos. Meu grupo é conhecido como EC - Entertaining Comics. Vim voluntariamente como testemunha. Pedi e vocês me deram essa chance de ser ouvido.
Duas décadas atrás, meu falecido pai foi o instrumento que iniciou a indústria dos quadrinhos. Foi ele quem editou as edições iniciais da primeira revista em quadrinhos, a Famous Funnies.
Meu pai estava orgulhoso da indústria que ajudou a criar. Ele levou diversão a milhões de pessoas. A herança que deixou, a vasta indústria das histórias em quadrinhos, emprega milhares de escritores, artistas, estampadores e impressores. Ela levou milhares de crianças ao costume da leitura. Ela sacudiu a sua imaginação, criou uma válvula de escape para seus problemas e frustrações... Mas o mais importante: deu a elas horas e horas de diversão.
Meu pai, que comandava a editora antes de mim, estava orgulhoso daquilo que publicava. Ele via os quadrinhos como um instrumento potencial para a educação visual. Ele foi um pioneiro, algumas vezes à frente do seu tempo.
Ele publicou títulos como Picture Stories from Science, Picture Stories from World History e Picture Stories from American History. E também Picture Stories from the Bible.
Desde 1942 vendemos mais de cinco milhões de cópias da Picture Stories from the Bible. Essa revista é largamente usada em igrejas e escolas para tornar a religião mais interessante, vívida e real. Picture Stories from Bible está sendo agora publicada pelo mundo, em dezenas de línguas. E trata-se de, nada mais, nada menos, que uma revista em quadrinhos.
Além da Picture Stories from the Bible, eu publico muitas outras revistas.
Por exemplo, publico histórias de terror. Fui o primeiro nos Estados Unidos a publicá-las. Eu sou o responsável! Eu as iniciei!
Alguns podem não gostar delas. É uma questão de gosto pessoal. Mas é difícil explicar a inofensiva emoção que uma história de terror causa numa pessoa como o Dr. Wertham, assim como seria difícil explicar a sublimidade do amor a uma frígida solteirona.
Meu pai estava orgulhoso das revistas que publicava e eu estou orgulhoso das que publico agora. Nós temos os melhores escritores e artistas. Nós nos esmeramos para que cada revista, cada história, cada página seja uma obra de arte.
Como resultado, temos os maiores índices de vendagem.
Uma revista em quadrinhos é um dos poucos prazeres que uma pessoa ainda pode comprar com uma moeda de dez centavos.
Nós vendemos prazer. Diversão. Recreação escrita.
As crianças americanas são, em sua maioria, normais. São crianças inteligentes. Mas aqueles que querem proibir as histórias em quadrinhos parecem ver nossas crianças como sujas, pervertidas e depravadas, pequenos monstros que usam os quadrinhos como modelo de suas ações.
O que tememos? Temos medo de nossas próprias crianças? Será que estamos nos esquecendo que elas também são cidadãos e, por isso, são livres para ler e julgar o que quiserem?
Ou achamos nossas crianças tão distorcidas e com a mente tão pequena a ponto de uma história sobre assassinato as levar a cometer assassinato... ou uma sobre roubo as levar a cometer roubo?
Jimmy Walker (ex-prefeito de Nova York) disse uma vez que nunca viu uma garota estragar sua vida por causa de um livro.
Assim, também ninguém vai destruir sua vida por causa de uma revista em quadrinhos. Já foi visto em testemunhos anteriores que nenhuma criança saudável e normal se tornou uma pessoa pior só por ter lido uma revista em quadrinhos...
Acredito que nada que já foi escrito até hoje pode fazer uma criança se tornar agressiva, hostil ou delinquente. As raízes dessas características são muito mais profundas.
A grande verdade é que a delinquência é produto do ambiente em que a criança vive; e não da ficção que ela lê.
A astúcia de Kefauver
O belo discurso de Gaines não abalou Kefauver. De posse das edições # 22 e # 23 de Crime Suspenstories, o sagaz senador, juntamente com alguns membros do comitê, conseguiu encurralar Bill Gaines e se sair melhor.
Segue abaixo a tradução livre de um trecho da entrevista.
Comitê: Existe algum limite para aquilo que o senhor acha que não deve ser colocado em uma revista por pensar que uma criança poderia lê-la?
Gaines: Não, eu diria que os limites não são impostos pelo motivo que o senhor acabou de citar. Meus limites estão no bom gosto, naquilo que considero bom gosto.
Comitê: Então o senhor acredita que uma criança não pode ser afetada de maneira alguma por algo que possa ter lido ou visto?
Gaines: Acredito.
Comitê: Então não deve haver limites para o que o senhor põe em suas revistas?
Gaines: Sim, os limites do bom gosto.
Comitê: Seria o seu bom gosto e a vendabilidade das revistas?
Gaines: Sim.
Senador Kefauver (segurando as Crime Suspenstories): Aqui está a edição de maio, a número 22. Parece ser um homem com um machado ensanguentado, segurando a cabeça de uma mulher que parece ter sido decepada de seu corpo. Acha que isso é bom gosto?
Gaines: Sim, senhor, acho, por ser a capa de uma revista de terror. Uma capa de mau gosto poderia ser, por exemplo, do mesmo homem segurando a cabeça da mulher um pouco mais acima mostrando o pescoço pingando sangue. Também o corpo da mulher poderia estar um pouco mais à frente, fazendo com que o pescoço sem a cabeça aparecesse mais, mostrando ainda mais sangue.
Senador Kefauver: Mas tem sangue saindo da boca da mulher...
Gaines: Um pouco.
Senador Kefauver: Tem sangue saindo do machado. Acho que até adultos ficam chocados ao ver esse desenho... Essa outra é a edição de Julho. Parece ser um homem com uma mulher num bote e ele está sufocando a mulher até a morte com um pé de cabra. Isso é bom gosto?
Gaines: Eu acho que sim.
Comitê: Como isso poderia ficar pior?
Apesar de não ter sentido de imediato, Bill Gaines havia sido massacrado. E as consequências viriam depressa.
O inevitável
A mídia desde sempre provou o seu poder. Como a audiência havia sido televisionada, grande parte dos Estados Unidos se viu influenciada pela forma com que o Subcomitê do Senado conduziu o processo, conquistando os resultados esperados pelo Senador Kefauver.
Protestos e boicotes assolaram o país. Semelhante ao que os nazistas fizeram na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, várias revistas foram queimadas em grandes fogueiras públicas. Prefeitos começaram a proibir publicações de crime e terror em suas cidades.
As revistas da EC começaram a retornar para Bill Gaines, vários pacotes ainda fechados. Ninguém mais queria vender material da editora. Assim, em setembro de 1954, com muita tristeza, ele cancelou seus cinco títulos de terror e suspense.
Um código de censura, o Comics Code Authority, foi criado e todas as revistas em quadrinhos que fossem às bancas deveriam ter o código estampado na capa como "garantia" de que as histórias não teriam sangue e violência.
Entretanto, o código era tão severo que, durante anos, foi responsável por destruir a liberdade criativa das histórias em quadrinhos norte-americanas.
Para tentar salvar sua editora, Bill lançou novas revistas. Eram elas: Aces High (histórias sobre aventuras aéreas), Impact (suspense moderado com histórias no famoso "Estilo EC"), Piracy (piratas), Valor (aventuras de bravura e coragem), Extra! (HQs baseadas em furos jornalísticos), Psycoanalysis (pessoas contando problemas pessoais a um psiquiatra) e MD (médicos tentando salvar vidas).
Todas as novas revistas traziam ótimas histórias, pois a equipe criativa era a mesma. Entretanto, no início não traziam o selo do Comics Code Authority na capa. Por isso, os pacotes continuavam a retornar sem nem ao menos serem abertos.
Bill, então, se filiou ao código e submeteu suas novas revistas à dura censura. No entanto, o preconceito em torno do nome EC Comics já estava formado. Mesmo com o selo do Comics Code Authority na capa, as publicações de Gaines continuavam retornando. O ano de 1955 foi fatal e todas foram canceladas.
A única revista da EC a sobreviver ao massacre foi a MAD.
Depois da tempestade
A EC Comics deixou uma enorme herança cultural. Muito do que foi feito no cinema, na televisão e até mesmo nos quadrinhos depois disso foi largamente baseado no estilo da editora. Além disso, as histórias continuam a ser republicadas até hoje - e mais de uma vez!
A mais notável republicação é, sem dúvida, The Complete EC Library. Essa coleção compilou todas as revistas, de capa a capa, em livros de luxo, com capa dura e papel especial.
Tudo com excelente impressão em preto e branco, ressaltando todos os detalhes da arte dos desenhistas da EC. Obviamente, ficaram de fora as cores de Marie Severin, mas muitos acham que as histórias ficam ainda mais belas apenas no nanquim. Essa magnífica coleção foi editada por Russ Cochran, o mais famoso dos fãs da EC, que hoje detém os direitos de publicação das histórias.
The Complete EC Library pode ser considerado um grande feito a entrar para a história da EC Comics. Esse projeto começou em 1978 e só terminou em 2006!
Atualmente, Russ Cochran está envolvido num projeto ainda mais ambicioso: republicar, na totalidade, as revistas nos mesmos moldes da Complete EC Library, porém em cores.
Esse projeto chama-se EC Archives.
As amostras dos desenhos estão saindo direto da arte original dos artistas. As cores foram todas refeitas, mas mantendo o estilo de Marie Severin, que está recolorindo todas as capas. Cada livro traz reportagens dos bastidores da editora escritas pelos próprios integrantes da antiga equipe. Esta, sem dúvida, promete ser a mais fiel e definitiva de todas as coleções.
No Brasil
No Brasil, a EC Comics não tem o valor que merece. No entanto, a influência da editora esteve bastante presente por aqui, mesmo que de modo indireto.
Nos Estados Unidos, a editora Warren Publishing Co. pode ser considerada uma das mais fiéis herdeiras da EC. Na década de 1970, ela publicou três famosas revistas nos moldes e no estilo da editora de Gaines: Creepy, Eerie e Vampirella. Todas traziam histórias curtas com belíssima arte (alguns dos desenhistas eram egressos da própria EC) com um apresentador e um final surpresa.
Foram as histórias da Warren que apareceram aqui na famosa e influente revista Kripta, na segunda metade da década de 1970. A aceitação do público foi tamanha, que várias outras publicações surgiram sem que o material estrangeiro desse conta da demanda.
Assim, vários artistas nacionais de renome produziram histórias de terror para suprir os leitores. As HQs nacionais acabaram por adquirir identidade própria, tornando-se um grande sucesso e motivo de orgulho para os fãs. Mas isso já é outra história.
A mais notável tentativa no Brasil de publicar o material da EC foi feita pela Editora Record em 1991. Foi lançada a revista Cripta do Terror, só com histórias selecionadas da editora de Gaines.
A revista era em preto e branco, em formato magazine. Infelizmente, só durou sete números, fruto, segundo dizem, da crise financeira dos brasileiros na época.
Fica a torcida para que alguma editora resolva voltar a publicar os quadrinhos clássicos da EC em nossas terras. HQs com aquela qualidade fazem muita falta. Principalmente antes de dormir, debaixo da coberta com uma lanterna acesa.
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